Viva Fúria, lançado a 3 de março, é o mais recente projeto de Manuel Fúria. O músico português faz-se novamente acompanhar pelos Náufragos, para nos levar numa viagem que invoca os anos 80.

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Muito burburinho havia em torno de Viva Fúria. Os singles, “20.000 Naves” e “Aquele Grande Rio”, que antecederam o álbum, ficaram por semanas na primeira posição do top do Índice A3-30 da Antena 3, e esperava-se algo grande vindo de Viva Fúria. E o resultado não desiludiu.

Este segundo álbum a solo de Manuel Fúria é um verdadeiro festival de evocação ao pop dos 80. As sonoridades pop características da década pintam toda a paisagem do projeto e realçam as fantásticas composições poéticas que Fúria escreve. Aliás, diria mesmo que a força de Viva Fúria está mesmo nos versos que o autor canta.

Aquele Grande Rio” é das melhores faixas do álbum. A instrumentalização simples, mas eficaz e simpática, completa muito bem versos fantásticos como: “e para morrer no mundo / é preciso nascer” e “eu corro para ti para me entregar”.

20.000 naves” segue-se e é outra grande canção. A faixa engata onde a anterior nos deixou, os sintetizadores tomam a dianteira e só se apagam quando o próprio Fúria começa a cantar. No refrão, “É o teu rosto que eu ainda procuro”, Fúria pede emprestado um poema de Sophia de Mello Breyner, e encaixa-o lindamente com a sua própria composição.

Outra canção que penso que merece os holofotes desta crítica é a “A porta e o cordeiro”. A sétima faixa encaixa-se no centro do álbum e traz um tom muito mais melancólico a um álbum que até então estava corrido com malhas alegres e dançantes. Com onze minutos, é a canção mais longa do álbum, mas é incrível como parece tão mais curta. A pandeireta pausada e a guitarra nua casam na perfeição e envolvem-nos numa atmosfera acinzentada, enquanto versos incrivelmente belos como “e os ombros que escolheres para te segurar serão os mesmos, os mesmos que te irão derrubar”, “Ruas noturnas e o teu corpo a murmurar”, “ruas noturnas e as paixões a errar” são quase murmurados por Fúria.

De salientar ainda o pré-refrão da canção, onde a percussão acelera até “explodir” num pequeno crash, seguido de um refrão pesaroso que termina com “a morte é mais do que certa”. Uma canção bela que nos deixa com uma lágrima na alma.

O álbum termina “Canção Infinita”, e não vejo um melhor send off para o álbum. Fúria entoa versos cantados em português com muletas no inglês, sobre riffs de guitarra que fazem sorri. “A música terminou, mas a canção não acabou”, e dito isto o instrumental continua. Fúria pára de cantar e em registo falado conta pedaços do seu passado. “A música terminou, mas a canção não acabou” novamente, mas agora é o último verso e a voz de Fúria dissipa-se como fumo no ar.

Viva Fúria é um belo trabalho de Manuel Fúria. “Pequeno Peixe”, apesar de não ser das melhores canções do álbum, é uma poderosa entrada e a energética “Cala-te e Dança”, que lhe segue, cria um ambiente muito bom que se vai mantendo pelo resto do álbum. Nenhuma canção parece alienada do resto. Nem mesmo a melancólica sétima faixa que referi anteriormente destoa do trabalho que flui perfeitamente. Não é algo de revolucionário e muito novo, mas não deixa de ser um álbum muito sólido com composições poéticas que merecem ser destacadas. Mais um bom exemplo da incrível música que se anda a fazer por Portugal.