“The Love Witch” – uma obra escrita, realizada e montada por Anna Biller, que também é responsável pela produção, design de roupa e trilha sonora. O cinema é, por natureza, um meio colaborativo, mas este filme foi engenhado para funcionar como um meio de expressão da sensibilidade e do exotismo de apenas uma pessoa.

“The Love Witch” trata a história de uma jovem e formosa bruxa que usa as suas poções e magia negra para aliciar os homens a cair na sua teia de sedução mortal. A obra utiliza a bruxaria para tocar em temas como a sensualidade feminina e feminismo de uma maneira bastante peculiar.

A visualidade e o sentido estético é o ponto mais forte do filme. Anna Biller é conhecida pelo uso extravagante de cor, que é a sua marca original do feminismo narcisista e das suas imitações espirituosas dos filmes de género das décadas de ouro do terror. O visual vintage é um tributo aos filmes clássicos de exploitation/sexploitation, com um toque de cinema giallo. Ao ver este filme, relembro-me de nomes como Jésus Franco, Mario Bava, especialmente Dario Argento em “Suspiria” e “Inferno”, e Sergio Martino em “Tutti i colori del buio”. Também me parece que Jacques Demy, conhecido pela mistura de tons doces e escuridão psicológica, teve um impacto na sua abordagem à realização. Nota-se uma semelhança com “Peau d’âne” no que toca à paleta de cores. O cinematógrafo M. David Mullen tratou de evocar o esquema Tecnhicolor dos anos 60 e a banda sonora, produzida pela mulher dos sete ofícios, a própria Anna Biller, tem uns ecos de Ennio Morricone.

Até mesmo as interpretações recordam-nos desse período. A Elaine de Samantha Robinson evoca Soledad Miranda, a musa do cinema “horrótico” espanhol de série B de Jésus Franco, e também ícones como Morticia Addams e Elvira.

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“The Love Witch” é assim um orgasmo visual, com uma aparência kitsch que nos remete para o cinema trash dos anos 60 e 70. Infelizmente, a sua duração é excessiva – tem duas horas. Se tivesse 70 ou 90 minutos, tal como a maioria das produções aqui homenageadas, seria mais saudável para a obra. Também a aparição de carros modernos, telemóveis e referências ao ADN no processo de investigação “estragam” o ambiente retro. Quanto ao elenco, as performances por vezes podem parecer um pouco inadequadas e constrangedoras, com a exceção da belíssima Samantha Robinson, que interpreta o papel de Elaine de uma forma impecável.

Rodado em 35 mm, “The Love Witch” é uma homenagem ao technicolor, ao exploitation e ao cinema de terror mais estilizado das décadas 60 e 70.