Numa prova pessoal de sobrevivência musical, os Foxygen lançam o seu quarto álbum de estúdio, Hang. Sátira ao passado tumultuoso e excêntrico do duo californiano, Sam France e Jonathan Rado compõem por linhas teatrais, difíceis de categorizar, com o objetivo de afirmarem o seu lugar artístico na indústria.

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Conhecidos pelos desentendimentos entre os membros da banda e pelo comportamento invulgar do vocalista Sam France, os Foxygen demonstram com Hang um crescimento notável e uma seriedade que até aí nunca fora visível. Depois da falhada escolha de cantoras de background, terrivelmente desafinadas, para o álbum anterior, …And Star Power, a banda decide envergar noutra direção, contratando uma orquestra, uma espécie de big band americana, com mais de 40 instrumentistas.

Hang” é também o nome da última faixa de …And Star Power, terminando o mesmo num tom entristecido, mas com uma mensagem profetizada, “Music gon’ give you the rhythm, Music gon’ make you dance!”. O novo álbum, lançado em janeiro deste ano, visa cumprir esta declaração, apresentando uma mudança de ritmo e energia para os Foxygen.

O primeiro single, “Follow the Leader”, introduz-nos ao que aí vem: uma sonoridade bem-disposta, interlúdios instrumentais ritmados com um toque nostálgico e letras previsíveis compostas por clichés consecutivos. Uma das poucas faixas onde, infelizmente, a presença das cantoras de fundo é audível. Mostra-nos que a adição da orquestra foi uma escolha positiva, é a principal marca da mudança estilística da banda.

Avalon” é teatral, exagerado, repetitivo, soa-nos a um musical da Broadway, com direito a um momento de sapateado presente no solo de bateria. Em “Mrs. Adams”, os Foxygen retornam um pouco às suas origens, deixando o teatro de lado, presentando-nos com instrumentais envolventes interpretados pela secção de sopros da banda.

Com um início dissonante e enublado, “America” transforma-se, muito rapidamente, numa “semi-paródia”, numa verdadeira viagem musical. Com uma letra carregada de patriotismo e heroísmo, é surpreendente como o duo americano consegue encaixar tantos ritmos, estilos e géneros diferentes em apenas quatro minutos e meio. Passa pelo jazz, pela marcha, pelo barroco, e quando se aproxima do final, regressa à dissonância aguda e incomodativa inicial. É uma faixa cansativa, uma overdose musical, que apesar de tudo isto, nos deixa agarrados para ver o que se segue.

O quinto single de Hang intitula-se “On Lankershim”, e é uma referência à Lankershim Boulevard, na Califórnia. Composta numa tonalidade maior, com predominância do piano, assemelha-se a uma mistura de Elton John com country e um pouco de rock & roll dos anos 70/80, com destaque do saxofone alto no refrão.

A faixa “Upon a Hill”, apesar de não atingir os dois minutos de duração, diferencia-se da restante confusão. De caráter mais narrativo, e assumindo, mais para o final, uma vertente de cabaret, assume um lado mais interessante, e apesar de tudo, mais calmo.

No seguimento do que acontece na música anterior, “Trauma” demonstra-se ainda mais escuro, tal como o nome sugere. Afasta-se de toda a exorbitância, crescendo dinamicamente até ao final, e com uma linha de baixo incrível. Porém, a letra desilude mais uma vez: “And I see you with flamingos in the yard / But how can I love you if I don’t know who you are, yeah?”.

O musical chega ao fim, e o single escolhido é “Rise Up”. Com partes muito boas e outras nem tanto, é uma metáfora ao percurso da própria banda, o desejo de um recomeço: “It’s time to wake up early / Start taking care of your health / And start doing all the hard things / And believe in yourself / And follow your own heart”.

Com Hang, os Foxygen marcam o seu regresso de forma excêntrica e grandiosa, com a clara afirmação de que pretendem continuar a sua jornada. É um trabalho tremendamente audacioso, e o esforço e dedicação são notáveis. É de notar, no entanto, que apesar de ser um álbum pequeno, é fatigante ouvi-lo na sua íntegra de uma só vez, devido à sua complexidade. Penso que, depois de We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic, de 2013, é uma tarefa complicada superar o enorme sucesso e qualidade que o mesmo teve, e continua a ter.

Labiríntico, confuso, divertido, satírico e inesperado, Hang marca um novo começo para os Foxygen, e ninguém sabe o que se seguirá.