O Plano de Atividades foi apresentado e aprovado na passada quinta-feira, em Reunião Geral de Alunos (RGA), e o orçamento da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) para o corrente ano continua na ordem dos cinco milhões de euros. Mais precisamente, são 4.765.843, 97€  que a recém empossada direção tem para gerir durante o mandato. Os números são apenas previsões dos valores máximos de despesa e dos valores mínimos de receita, algo que Bruno Alcaide, presidente da AAUM, fez questão de reforçar.

Os valores referentes às receitas e às despesas anulam-se, mas importa perceber para onde vai o dinheiro orçamento pelos dirigentes associativos no Plano de Atividades. Os encargos foram divididos em secções, sendo que a “Presidência” – onde se inserem, por exemplo, despesas referentes à representação estudantil ou à organização de eleições – arrecada a maior fatia do orçamento, correspondente a um terço dos quase cinco milhões (33,42%). As despesas mais próximas destes valores correspondem ao departamento “Recreativo”, onde os gastos no “Enterro da Gata” e na “Receção ao Caloiro”, entre outros, perfazem quase 20% do orçamento. Num patamar mais baixo, mas com mais de 10% do orçamento, está a Rádio Universitária do Minho (RUM) – onde se inclui o Jornal Académico, por exemplo – com quase meio milhão de euros destinados.

Também os “Clientes e Fornecedores 2016” têm uma fatia considerável, com 10,56% do orçamento, incluindo-se aqui despesas várias com fornecedores, destacando-se despesas com segurança – a GIRPE recebeu mais de 60 mil euros da AAUM –, em viagens – a OVNITUR angariou mais de 40 mil euros – e em empresas de entretenimento – como a PEV Entertainment que recebeu pouco mais de 30 mil euros.

A grande fatia atribuída à “Presidência” é, na sua maioria, referente à nova sede da AAUM, algo que está idealizado há vários anos, mas que tem sido sucessivamente adiado. Num primeiro ponto de vista, o valor igual quer na tabela das despesas, quer na tabela das receitas não parece bater certo. No entanto, esta receita, igual à verba gasta na sede, será referente ao depósito que esta direção fará no fundo para a construção da nova sede.

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Neste momento, as contas apresentadas pela AAUM demonstram que este fundo tinha, em 2016, pouco mais de 850 mil euros: “A AAUM dispõe de depósitos bancários no valor de 856.666,44€ em 2016 e de 766.666,44€ em 2015, reservados para construção da nova sede da AAUM”. No entanto, permanece a dúvida sobre como funciona este processo. Para complicar ainda mais as contas, uma notícia de 2007 refere que já há dez anos o fundo para a nova sede da AAUM tinha 365 mil euros, o que denota a evolução residual desde o mandato de Pedro Soares.

O presidente da AAUM, Bruno Alcaide, contactado pelo ComUM desde sexta-feira, por forma a esclarecer as questões em torno da nova sede, não se mostrou disponível para responder. 

Outro ponto em foco neste departamento é o valor máximo previsto para o 40º aniversário da associação académica. Os 25 mil euros que a direção prevê gastar – e recorde-se que estes são valores máximos – foram inclusive motivo de questão na última RGA, onde Alcaide esmiuçou esta despesa, abordando razões de logística, contratação de artistas, grupos culturais, aluguer de espaço e ainda a publicação de um livro e edição de um CD.

Ainda nesta secção, destacam-se os 2.500€ gastos em representação estudantil e os 3.708,45€ em consultoria. Existem ainda 7.500€ reservados pela AAUM para projetos propostos no orçamento participativo.

No fim das contas, quanto leva a praxe?

A praxe continua a gerar controvérsia e, numa altura em que o financiamento das associações académicas aos órgãos informais de praxe está em causa, importa somar as faturas. Juntando as contribuições mais diretas, percebemos que estão orçamentados 750€  para o Cabido de Cardeais, mais de 800€  em passaportes – onde estão descritos excertos do Código de Praxe e espaços para informações como o “nome de praxe” – e 700€  para a impressão de Códigos de Praxe. Ora, só nestas três despesas, atingimos valores superiores a dois mil euros, financiados pela AAUM para a praxe académica.

Fora destas contas estão atividades como a Latada, o Cortejo Académico ou o Caloiro de Molho, iniciativas com uma forte ligação à praxe académica e com uma forte contribuição da associação académica. Se juntarmos parte dos valores destinados a estas atividades, rapidamente atingimos valores na ordem dos 15 mil euros.

Contudo, acreditando que nem todo este valor é desenvolvido em torno da praxe académica, percebemos que existe um financiamento, contrariando a opinião do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, como defendeu Bruno Alcaide em entrevista ao ComUM, durante a campanha para as eleições da AAUM.

O presidente da AAUM considerou “enquadráveis na missão que cabe à associação académica” os 625,22€  transferidos para o Cabido de Cardeais, em 2016, justificando com atividades como “O Tricórnio Vai…” ou o “Caloiro de Molho”. No entanto, os valores superam as centenas de euros nestas atividades com vinculação à praxe.

E de onde vêm as receitas?

Os valores são o mínimo que a AAUM prevê alcançar, mas refletem as principais fontes de financiamento do órgão. As quotas pagas pelos estudantes que pretendem ser sócios correspondem a pouco mais de 2% das verbas, tendo a associação previsto angariar um mínimo de 102 mil euros – o equivalente a 8.500 sócios.

No topo das receitas esperadas vem a “Presidência”, muito à custa das receitas sobre a nova sede da AAUM, algo que carece de explicação. Não muito atrás, com perto de um milhão de euros esperados, no mínimo, está o departamento recreativo, que conta somar – entre Enterro da Gata e Receção ao Caloiro – 540 mil euros só em receitas de bilheteira, aos quais se somam patrocínios e vendas de bebidas em armazém.

Os “Clientes e Fornecedores 2016” também são umas das principais fontes de receitas, lado a lado com a “RUM”, ambas com mais de meio milhão de euros em receitas. Somando várias parcelas, a Universidade do Minho é um dos principais contribuintes da AAUM, com cerca de 350 mil euros, entre variados subsídios. Outra contribuição importante parte dos Serviços de Ação Social (SASUM), que subsidiam com 132 mil euros a associação, essencialmente no plano desportivo.

Projetos novos para aproximar os estudantes

O Plano de Atividades aprovado na RGA desta quinta-feira traz também novidades para os alunos minhotos. A principal será o Orçamento Participativo, um projeto que pretende estreitar o diálogo e apelar à “participação direta” dos estudantes no orçamento da AAUM. De acordo com o estipulado no orçamento apresentado, esta iniciativa, nunca antes realizada na universidade minhota, tem 7.500€  para aplicar a projetos ou ideias vindas da comunidade académica.

Mas há mais. O departamento de Comunicação e Imagem também terá um ano marcado por novos projetos. O mais importante deles será a “Gestão de Identidade Gráfica e Site”, onde está prevista uma atualização e remodelação do website da AAUM, além da gestão contínua da imagem. Esta operação está orçamentada em 17 mil euros, aos quais se juntam as despesas em gestão de redes sociais e na impressão da “Revista Gata” e da “Revista AAUM”, também pertencentes à atividade deste departamento.

A remodelação e a aposta nas ferramentas digitais parece ser uma aposta continuada da associação, que apostará também no “upgrade” do website do “Jornal Académico” – de distribuição gratuita e em papel, sendo pertencente à AAUM e gerido pelo departamento da RUM -, para os quais estão previstos pouco mais de 3 mil euros.

Tiago Ramalho, João Pedro Quesado