Escrita por Maksim Gorki, o homem que escreveu as linhas programáticas do partido comunista russo, no início do século XX, a peça de teatro “Os Veraneantes” esteve em palco no Theatro Circo este sábado. O encenador Nuno Cardoso ficou responsável por trazer a representação teatral da peça até à atualidade.

Com o cenário já montado e tudo pronto no palco, as pessoas iam-se sentando no seu lugar à espera do espetáculo começar. As luzes apagaram-se. O espetáculo começou. Uma a uma, cada personagem ia entrando em palco e dizendo as suas falas até estarem todos em cena. O encenador português Nuno Cardoso conservou a essência da obra original e manteve tanto os nomes (em russo), como a história que Gorki contou há mais de cem anos.

Ao longo de toda a peça, os momentos desenrolam-se no Verão, onde quatro famílias passam férias num lugar incerto, entre uma casa de campo (as datchas, em russo) e a beira-rio, onde fazem um piquenique. Os “veraneantes” deixam transparecer as suas preocupações e desejos ao longo da peça, através das falas e do seu estado de espírito, ao mesmo tempo que envolvem a plateia nos seus dramas e aspirações. A classe retratada detém um elevado grau na sociedade – a burguesia, em Gorki, que se mostra desencantada e descontente com a vida; a frustração e o ciúme levam a relações desgastadas, onde o amor não existe e as opiniões sobre como agir socialmente se dividem.

Varvara Mikháilovna, interpretada por Maria João Pinho, infeliz com a forma como vive, resume como todas as personagens em palco levam a vida: com “pobreza de espírito” e a fazer apenas “queixas e lamentos” sem conhecer “a tragédia da vida”. No final da peça, quando se pensa que tudo vai correr bem, as personagens acabam por dizer tudo o que sentem e há uma separação das mesmas.

Um elenco funcional e capaz de captar a atenção do público. Foi assim que Ana Gabriela Macedo e Paula Nascimento, duas espectadoras, classificaram o conjunto de atores que deram voz e corpo à peça “Os Veraneantes”. Com a presença de vários nomes conceituados, com trabalhos no mundo do teatro e no mundo da televisão, em cena estiveram artistas como Afonso Santos, Cristina Carvalhal, Iris Cayatte, Maria João Pinho ou Margarida Carvalho.

O cenário detalhado – com uma piscina, relva e várias cadeiras de praia espalhadas pelo palco, com um ar descontraído, contribuiu para contrastar com o sofrimento das personagens. A espetadora Ana Gabriela Macedo confidenciou que tal “reforçou o tom de ironia e a sátira social pretendida”.

No final da noite, os aplausos fizeram-se sentir por toda a sala, com uma plateia satisfeita, que saudou os artistas em pé e levou os atores a irem mais do que uma vez ao palco para receberem o carinho do público. Termina mais um serão teatral, depois de sexta-feira, também no Theatro Circo, e da estreia a dia 9, no Teatro Nacional S. João, no Porto, em cena até ao passado dia 18 de março.