Óscar Gonçalves, líder da lista C – “Universidade Cidadã” -, considera que a fundação é “um risco grande para a universidade”. Em entrevista ao ComUM, o candidato da lista que se candidata pela terceira vez ao Conselho Geral (CG) critica fortemente o modelo fundacional, por trazer o “empobrecimento da força do CG”, e defende “uma universidade com uma gestão leve, participada, muito próxima dos projectos e muito colegial”.

Numa atitude em que critica a lista A, na pessoa de Rui Vieira de Castro, Óscar Gonçalves mostra-se contra a ideia de ter uma candidatura ao CG que apoie uma candidatura à reitoria. “Ao associar a pertença a esta CG a uma reitoria, perde-se a sua independência, fazendo com que este se transforme rapidamente numa caixa de ressonância da própria reitoria”. Não retira legitimidade ao antigo vice-reitor, mas afirma que “uma atitude deste tipo é espelho de uma visão ‘reitorialista’ da universidade, que centra o eixo da gestão da universidade num órgão unipessoal e executivo”.

Óscar Gonçalves lamenta ainda o crescimento assimétrico de áreas de investigação nas universidades portuguesas, na atração tanto de alunos como de financiamento. “Tem havido uma pressão muito forte para áreas que tenham uma tradução rápida do conhecimento, em detrimento, por exemplo, de áreas de investigação mais básica”.

E para combater isto e ter “uma universidade que se pretende completa”, o candidato apresenta “a possibilidade de criação de colégios, que são unidades leves e voltadas para a cooperação estratégica entre diferentes unidades orgânicas”. Óscar Gonçalves defende que “estas formas de repensar estrategicamente a universidade evitam que algumas áreas de conhecimento vão definhando até que algumas delas possam mesmo desaparecer da universidade”.

ComUM: Disse na sua newsletter que o Conselho de Curadores preveniu riscos maiores. Porque é que não é assim tão mau quanto isso?

Óscar Gonçalves: A Universidade Cidadã procurou que este conselho de curadores fosse constituído por personalidades que fossem diversas e alinhadas com aquilo que é o nosso entendimento das funções públicas da universidade. Em lugar de entregar a este conselho a uma prevalência preocupante de membros externos com um perfil alinhado com a alta finança. Portanto, julgo que a Universidade Cidadã tem tido esta atitude, que é sempre evitar que se corram riscos maiores.

ComUM: De que forma é que a sua lista vai procurar trabalhar com os representantes dos Estudantes, nomeadamente os representantes eleitos e a Associação Académica?

Óscar Gonçalves: A articulação é essencialmente com o Conselho Geral dos estudantes. A AAUM é uma instituição à parte, que não tem uma relação próxima com o CG, mas como instituição importante da universidade, não deverá estar estranha a qualquer decisão sobre a própria universidade. Mas desde logo, uma das razões para manter a sua voz ativa é o facto de ter quatro representantes dos estudantes, o que é um poder relativamente importante. É difícil prever aquilo que vai acontecer em relação aos resultados eleitorais. O poder vai ter sempre de ser negociado, e, portanto, os alunos vão ser sempre elementos importantes neste processo negocial.

ComUM: Ontem foi apresentado um estudo nacional sobre a praxe em Portugal aqui em Gualtar. De que forma é que a sua lista encara a praxe e as recomendações deste estudo?

Óscar Gonçalves: A lista ainda não refletiu sobre as declarações sobre recomendações. É de facto um processo complicado. Existiram algumas melhorias no afastamento de muitos atos da praxe para fora do campus, mas isto não é suficiente. Nós não estaremos bem enquanto não desenvolvermos nos nossos alunos uma afirmação das suas práticas comunitárias dentro da sua liberdade de pensamento. Eu chamei a atenção que achava que esse relatório fez uma análise sociológica muito importante, mas que as universidades deviam fazer o seu próprio estudo. Aliás, deviam complementar a nível local e não só sociologicamente, devia ter vários contributos de outras disciplinas como a política, economia… Porque há interesses de mercado aqui.

ComUM: O reitor António Cunha termina o seu mandato daqui a pouco tempo. Como avalia o seu trabalho?

Óscar Gonçalves: O professor António Cunha foi reitor numa situação muito complicada. A universidade nos últimos oito anos, a universidade portuguesa em geral viveu constrangimentos muito grandes. O professor António Cunha tem imensas qualidades. Entre várias qualidades que eu aprecio nele é a abertura ao diálogo, tem um óptimo sentido de humor e uma proximidade grande.

A nossa conceção de universidade é uma conceção diferente da dele. Ele foi um dos grandes defensores e promotores e um crente fervoroso no modelo fundacional. E é um reitor que acredita na centralidade do poder executivo, e na importância da figura do reitor como elemento central do processo de gestão da universidade.

Hélio Carvalho, Mara Ribeiro