Março vai ainda a meio e já se sentem os ares soalheiros de verão trazidos pelos Toulouse. Neles, a simplicidade floresce. O seu marco no momento musical que se vive na cidade de Guimarães também. Quem esteve, ontem, no Café Concerto do CCVF (Centro Cultural Vila Flor), percebeu o “Som de GMR”: as palavras informais e as melodias dos mais novos rebentos vimaranenses.
Primeiro uma conversa, depois um concerto. No total, são nove os projetos musicais que irão passar num ciclo musical no CCVF. Os Toulouse são um exemplo da ascensão musical verificada na cidade-berço.
Para o concerto, a sala estava cheia, esgotada. Na frente do concerto estavam caras conhecidas dos artistas, a puxar por eles. Não havia requisito de idade, dos 8 aos 80, a sala cobria-se de gente sempre sincronizada ao ritmo dos temas. Começaram com os temas mais antigos, com uma vibe mais tropical e alegre, até aquecer e chegar ao single “Juniper”. Nesse momento, da exaltação à inocência juvenil, soube-se que Guimarães continua a render-se aos Toulouse.
“Vai ser difícil manter a seriedade nesta conversa”, confessou no princípio o jornalista Samuel Silva. Antes dos momentos performativos, foi tempo de conversa. Em roda, entre risos, descontração e a contar com a participação do público. Falou-se da criação e percurso dos jovens Toulouse e levantaram-se questões como qual o motivo da afluência de bandas vimaranenses e do seu sucesso.
“Somos um Smooth Post Punk”
A questão é-lhes feita vezes sem conta e após várias dissecações ao som dos Toulouse, eles afirmam: “Nós agora já inventamos o nosso género”. Do público assinalam a analogia aos anos 80, momento onde surgiram, igualmente, muitas bandas portuguesas. Os músicos confessam ter as suas influências – “DIIV, Beach Fossils, Craft Spells” –, mas nenhuma delas vem do passado. “Somos preguiçosos para ouvir o que foi feito antes”, aponta João Silvestre, o baixista. No fim dos concertos quem fala com eles são os “mais adultos”. Para os Toulouse a explicação é simples: “devem ficar com aquela réstia de esperança e nostalgia”.
Vive-se o tempo em Guimarães
Durante a conversa, ouviam-se questões como “qual é o lugar deste tipo de música na história musical de Guimarães?” ou “porquê agora e quais as condições para que isso aconteça?”. Toda esta análise extra é menos compreendida entre os jovens. As vontades juvenis expressam um desejo que se assemelha mais à sua composição: fazer música.
Em simultâneo com o crescimento dos Toulouse, ascendem outros artistas e bandas da cidade, como Paraguaii, Captain Boy, LINCE, Hot Air Ballon, El Rupe e Gobi Bear. Os dias de hoje são de riqueza para Guimarães. A programação dos lugares culturais dinamiza-se e estes nomes são ouvidos em muitas outras cidades de Portugal.
O orgulho desta ocorrência é percetível. “Dá-nos muito mais gozo atingir o mercado internacional só com elementos de Guimarães”, diz Francisco Novais, o baterista. João Silvestre reforça a importância de tocar nos palcos da sua cidade: “Há três anos atrás era impensável, para nós, uma banda de Guimarães vir tocar ao Centro Cultural Vila Flor. Era o ponto alto de tocar aqui na cidade.”
De 2014 a 2017
Se no início as melodias criavam-se de forma mais espontânea, hoje “remediam-se os pregos”. A banda trabalha em conjunto para que todas as escolhas sejam “muito mais pensadas e planeadas”.
Estreiam-se em cassete com dois temas “Tero!” e “Paloma”. A produtora Revolve encontrou-os e tiveram o primeiro concerto, em 2014, no festival vimaranense Mucho Flow. A passagem para os festivais nacionais foi rápida. A banda já teve lugar nos festivais Paredes de Coura, Milhões de Festa, Indie Music Fest e ainda tocaram com artistas de renome como os TOY. Em outubro de 2016, lançaram o novo álbum “Yhung” seguido de um videoclip que já atingiu mais de 40 mil visualizações.
São Toulouse porque “soa bem” e o desejo é de continuar “a tocar o máximo possível”, sem grandes expectativas, pois com “expectativas sempre baixas, é tudo sempre altamente”, remata João Silvestre.