“A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares” envolve mistério, fantasia, um tom sombrio e um toque de comédia. É uma adaptação do livro do mesmo nome, escrito por Ranson Riggs.
O filme começa com uma narração de Jake (Asa Butterfield). O seu discurso mostra-nos uma personagem introvertida, insegura, e com uma forte ligação ao seu avô, Abe (Terence Stamp). Nestes primeiros minutos o espectador é levado a crer que o protagonista ficou psicologicamente instável com o falecimento do avô, vendo coisas que não existem na realidade.
Abe vai introduzindo as personagens de forma gradual e superficial, nos flashbacks do protagonista, onde aprendemos sobre a triste infância de Jake.
Apesar de ser uma história contada no século XXI o filme passa-se, maioritariamente, numa ilha no País de Gales, em 1943. Isto é possível devido a uma fenda em loop temporal que acontece momentos antes de uma bomba alemã colidir com a casa onde vivem as crianças peculiares (estando assim protegidas do mundo exterior). Todos os dias o dia repete-se da mesma maneira, às mesmas horas, menos para os protegidos da Miss Peregrine (Eva Green) que se aproveitam do loop para continuarem vivos.
O guarda-roupa e os adereços estão muito bem escolhidos e detalhados, ajudando a criar aquele ambiente de anos 40/50. Como os anos não pesam em nenhum dos habitantes daquele lugar, todos continuam com a mesma aparência que tinham quando eram jovens.
Jake vive uma aventura sobrenatural onde o traço de Tim Burton é bastante visível. Tons sombrios mesclados com cores atraentes e uma trilha sonora fantástica que acompanha muito bem todos os momentos. No entanto, nem um cenário rico e uma fotografia com belos enquadramentos consegue dinamizar um guião fraco.
Os efeitos visuais, na minha opinião, acabam por ser mais um ponto positivo. Visualmente não há duvidas que é uma marca dos trabalhos do director. Consegue-nos fazer acreditar que Emma (Ella Purnell) é realmente mais leve que o ar, ou que Olive (Lauren McCrostie) controla o fogo com grande acurácia, ou que ninguém consegue ver Millard (Cameron King), ou até que Enoch (Finlay MacMillan) consegue dar vida a qualquer coisa (bonecos ou defuntos).
Dou mérito ao trabalho de Asa Butterfield que nos consegue mostrar as duas faces de Jake com grande eficácia: por um lado um adolescente introvertido que não se adapta, e por outro um adolescente curioso e corajoso que a certo ponto tem que ser o herói. Ella Purnell consegue também nos encantar com o seu jeito delicado, mesmo estando num ambiente que mostra uma determinada estranheza.
Samuel L. Jackson faz também parte do elenco, interpretando o vilão principal, Barron. Cabelos e olhos brancos, dentes semelhantes aos de um tubarão, com diálogos cómicos e uma postura tranquila consegue criar uma personagem excêntrica, conquistando, assim, o espectador.
Apesar de ter um bom elenco e uma história cativante há momentos confusos, isto é, tudo acontece muito rápido e o guião não valoriza nenhuma personagem, deixando-nos com uma sensação superficial e vazia. No final, Tim Burton não consegue estabelecer afinidade entre espectador-personagem de que é tão usual. Os vilões poderiam ser mais assustadores e terríveis do que são apresentados, mesmo havendo uma grande semelhança entre os “Etéreos” e a lenda do ‘’Slender Man’’.
Por fim, acho que a proposta apresentada seria muito melhor se a adaptação para cinema fosse também uma trilogia, assim como acontece nos livros, pois perderam-se muitos detalhes e profundidade, o que levou à deceção da audiência.
Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children
Duração: 2h 7min
Realização: Tim Burton
Argumento: Ransom Riggs, Jane Goldman
Elenco: Eva Green, Asa Butterfield, Samuel L. Jackson