A meses do fim do seu último mandato, António Cunha orgulha-se das infraestruturas da Universidade do Minho, referindo ainda uma série de projetos que se encontram em cima da mesa. O reitor minhoto garante ainda que a universidade “não faz coisas ilegais”, em resposta ao caso da Escola de Enfermagem. O balanço de dois anos de mandato e das metas cumpridas e por completar, em entrevista ao ComUM.

Veja aqui a primeira parte da entrevista ao reitor António Cunha

Na ressaca do estudo apresentado na Universidade do Minho (UM) sobre a praxe, o reitor considera-o uma “contribuição importante para a compreensão do fenómeno”. Reafirmando o seu posicionamento face à praxe, António Cunha refere que “se há coisa que a UM nunca fez foi legitimar atividades que não sejam consentâneas com o quadro de valores éticos”.

Queixas nas residências? É preciso “encontrar o equilíbrio”

As queixas relativas às residências universitárias, e que englobam a falta de água quente a determinadas horas e a impossibilidade de confeccionar as próprias refeições, não são desconhecidas para a reitoria. Cunha reconhece que “há certas coisas que poderiam melhorar” e que esse “caminho é sempre possível e sempre desejável”.

Contudo, o reitor defende a sua posição com a necessidade de “se encontrar o equilíbrio” entre a “questão de querer ter água quente em quantidade e em todas as horas” e “a questão de tentar limitar os custos de energia”.

Já em relação às refeições dos estudantes, António Cunha remete para a gestão dos espaços: “Tenho estudantes a dizer-me que queriam ter mais capacidade para preparar isto ou aquilo. Temos também queixas de outros estudantes a dizer que mesmo os pequenos espaços que existem hoje, com os microondas, não permitem confeccionar refeições como alguns estudantes gostariam. Mas também temos queixas de estudantes que dizem que o espaço devia estar limpo, devido a ter sido utilizado por este ou por aquele estudante que o deixou em condições não razoáveis”.

O equilíbrio é mesmo a resposta recorrente de Cunha. O reitor compreende as necessidades dos estudantes, mas define as circunstâncias:  “Se nós tivermos uma comunidade altamente responsável, há certas coisas que são possíveis. Se não tivermos, há certas coisas que têm que ser mais controladas e mais limitadas”.

“Não seria bom que os estudantes pudessem preparar as suas refeições nas residências? Era. Contudo, isso é muito difícil de fazer. Porque temos que fazer isso num modo em que as pessoas utilizam uma cozinha, mas depois aquilo fica [em condições]. A não ser que tenhamos uma pessoa a tomar conta daquilo, é preciso garantir que isto seja feito em modos que todos utilizam, mas que os níveis de limpeza, que os níveis de ‘convivialidade’ são assegurados”, remata António Cunha.

“A nível nacional, temos estruturas das quais nos devemos orgulhar”

Anunciada o ano passado, a entrada dos autocarros da TUB no recinto do campus de Gualtar continua sem acontecer. Apesar das obras realizadas, o reitor admite que a questão ainda “está a ser estudada”, havendo “alguns conflitos que têm de ser resolvidos em relação ao local da paragem do autocarro”. António Cunha destaca ainda que, com as obras do município bracarense em frente à universidade, na Rua Nova de Santa Cruz, o caso está a ser estudado para não entrar em conflito com essa obra. “Está a ser desenvolvida uma solução técnica para ver se temos uma separação maior de fluxos. E nós, fundamentalmente, acabaremos por ter ali quatro fluxos: o fluxo de pessoas, o fluxo de bicicletas, o fluxo de autocarros e o fluxo de carros, e é isso que está a ser estudado”, conclui.

O fluxo de bicicletas insere-se num dos projetos que o reitor garante “entrar em funcionamento ainda este ano”, sendo uma solução para as questões de acessibilidade da universidade e que unirá as bicicletas elétricas e as normais, na circulação pelo campus.

O Plano Estratégico da UM 2020 tem várias obras e arranjos nas infraestruturas associadas mesmo nos objetivos até ao final da década. No entanto, Cunha não se compromete com datas, avisando que muitos dos arranjos exteriores que estão marcados para os campi já estão concluídos, exemplificando com as entradas das universidades e o Bosque Erasmus. Entre os planos para os próximos anos, o reitor da UM menciona alguns, como o projeto para um “parque central, entre o CP II e o Instituto de Ciências Sociais”. Aí será construída uma zona verde, cuja ideia será criar “uma espécie de jardim botânico, com um conjunto de árvores selecionadas em cooperação com a Escola de Ciências e com o departamento de Biologia”. Em Azurém, os principais arranjos serão nas acessibilidades ao campus, com um “arranjo exterior na zona nascente, em toda a zona entre as residências e a ponte a este da universidade”, num projeto feito com a câmara municipal e que tem início marcado para breve.

Parques desportivos, requalificações e complexos multifuncionais. Todos integram o plano estratégico, mas os projetos têm, todos eles, andamentos diferentes, sendo mais concreto o interesse global destes objetivos que a sua concretização.

António Cunha esclarece que, no que respeita à construção de um parque desportivo em Gualtar, “não há possibilidade de financiamentos”, adiantando que o conceito existe – localizar-se-ia entre o atual pavilhão e o campo de futebol, a norte – e que a criação dessa zona de infraestruturas desportivas será “conseguida e consumada à medida que houver financiamento”.

“Em cima da mesa” encontra-se também um centro de congressos para a universidade, mas um projeto da Câmara Municipal de Braga, que pretende recuperar o parque de exposições e transformá-lo num centro de congressos, “aliviará a pressão sobre a universidade”, segundo o reitor.

Um conceito novo na universidade serão os complexos multifuncionais: “Tem muito a ver com os novos conceitos de ensino, investigação. Dentro de cinco, dez anos, as salas de aula vão ser muito diferentes do que são hoje e, portanto, é preciso encontrar os espaços adequados a essa nova forma de aprender e ensinar”. Num projeto que olha essencialmente para o futuro, António Cunha diz que este será um “conceito diferente da tradicional sala de aula, mas onde se encontrarão estudantes e professores, estudantes e estudantes, e onde as pessoas aprendem”.

A requalificação dos campi “está a acontecer”, garante Cunha, dando o exemplo do investimento na Escola de Ciências, cujas condições não eram as mais adequadas.  

Apesar dos vários projectos em estudo, Geografia espera obras há 20 anos

O departamento de Geografia funciona há 20 anos em pré-fabricados, no campus de Azurém. “É um assunto que tem de ser resolvido”, diz, assumindo que é um dos assuntos “que mais atenção precisa neste momento”.

O atraso é justificado de duas formas, segundo o responsável. Primeiro, “porque houve uma hesitação muito grande em relação ao projeto e ao sítio em que ele devia ser feito”. Segundo, porque “há sempre problemas de financiamento”, insistindo que “problemas de financiamento existem para tudo”. Dos 20 anos que leva a promessa de novas instalações para o Departamento de Geografia, oito decorreram sob o reitorado de António Cunha. “A universidade falhou como um todo”, admite, escusando-se a personalizar as culpas. “Não quer dizer que tenha sido a reitoria ou esta ou aquela pessoa”.

Entre os projetos que, além das instalações de Geografia, continuam com situações “complicadas”, segundo o reitor, encontram-se a obra do Teatro Jordão, que avançará “muito rapidamente”, além do caso de Música, nos Congregados, cujas condições também precisavam de melhorias, de acordo com as palavras de António Cunha.

No entanto, o reitor considera as infraestruturas minhotas “genericamente acima da média”, não excluindo que existem coisas que têm de ser resolvidas”. “A nível nacional, temos estruturas das quais nos devemos orgulhar. Se comparar com algumas coisas que existem em universidades de referência americana, ficamos com uma situação mais débil. Se comparar com o que são os investimentos absolutamente loucos que estão a acontecer em Singapura, ficamos envergonhados. Portanto, tudo isto tem um contexto”, analisa.

É ainda mencionada uma Escola de Enfermagem e Tecnologias da Saúde, sobre a qual o reitor diz que é preciso saber primeiro “o que queremos”. Explica que “haveria uma ideia, e ainda há uma ideia” de a atual Escola de Enfermagem compreender também a área das tecnologias da saúde, alargando muito “o espectro das aulas que dá”,o que tornaria necessário dar à escola instalações “novas e diferentes”.

“Há um processo de conflito interno entre docentes na Escola de Enfermagem”

Mas para o curso de Enfermagem não está apenas em causa a hipótese de ter ou não um reformulação da sua escola e um novo edifício. Desde o final de janeiro, que o curso está a braços com uma situação de greve, com o Sindicato Nacional do Ensino Superior a acusar a Escola de praticar ilegalidades e de fazer substituição de grevistas. Em resposta, António Cunha repete algo que já disse anteriormente: que a Universidade do Minho “acha que não faz coisas ilegais” e que, por isso mesmo, “cabe ao Sindicato” provar as acusações que faz.

Na mesma linha, o reitor nega que haja substituição de grevistas – explica que “as pessoas que estão a ser contratadas são aquelas que estava previsto serem contratadas” devido à distribuição de serviço docente que foi aprovada no semestre passado – e, não se alongando sobre uma situação que já dura há muito tempo, afirma que não é obrigado a concordar com o parecer emitido pelo Sindicato em abril de 2016 e que o assunto, por ser “fundamentalmente de distribuição de serviço docente”, tem que ser resolvido no Conselho Técnico-Científico da Escola de Enfermagem.

Ligar a universidade à sociedade

Um dos focos do reitor minhoto nos seus mandatos é a abertura da academia à sociedade e às cidades que circundam os campi. António Cunha defende esta aproximação entre os dois dinamizadores, defendendo que “a universidade tem muito a beneficiar em trazer a sociedade para dentro de si”.

E o próximo reitor?

Com eleições para a reitoria previsivelmente em Outubro próximo, António Cunha está na recta final do seu segundo mandato consecutivo à frente da UMinho. Para ele, é “essencial” que o próximo reitor seja “um universitário, alguém que acredite na universidade”.

Uma eventual candidatura que, “se for consumada, terá todo o apoio” de António Cunha seria a do ex-vice-reitor para a Educação, Rui Vieira de Castro. Até agora, o vencedor das eleições para o Conselho Geral (das listas para representação dos docentes e investigadores da universidade) foi o único a abrir a porta a uma candidatura.

Entrevista: Eduardo Miranda e João Pedro Quesado
Texto: Eduardo Miranda, João Pedro Quesado e Tiago Ramalho
Imagem: Gonçalo Costa e Tiago Ramalho
Edição: João Pereira