O brilho no olhar não mente. João Pedro Freitas, dos seus 11 anos, sabe que a dança é o que quer fazer da vida e não será facilmente demovido.
Tudo começou quando acompanhou o pai, fotógrafo profissional, em trabalho, a um bailado clássico. Esse foi o despertar de uma paixão, o que levou a que João pedisse aos pais para experimentar uma aula de ballet e ficasse preso a esse mundo.
Em pouco mais de três anos, o menino de Braga lançou-se aos palcos e conquistou diversos prémios, que já lhe valeram bolsas para algumas das mais prestigiadas escolas de dança a nível mundial.
Disciplina, dedicação e persistência são palavras que fazem parte do seu léxico. Afinal de contas, algo a que dedica entre três a quatro horas de seis dias da semana, não é, como o próprio reconhece, apenas um hobby. Às muitas horas de ensaio, junta uma alimentação restrita e a prática de pilates, que executa para ter mais força e melhorar a postura, elementos essenciais no ballet.
Os ensaios de dança e atividades físicas complementares repartem-se entre diferentes locais. Não é só a dança clássica que o ocupa, mas também aulas de dança jazz e contemporânea. A estes afazeres, somam-se as aulas e tarefas escolares de um aluno do 6.º ano.
Mas, quem dança por gosto não cansa, e João prontamente afirma: “Não é difícil, porque eu sei que, se quero concretizar este sonho, que é ser bailarino, tenho de me esforçar, quer na escola, para tirar boas notas, quer no resto”.
Para a perseguição dos seus objetivos, João Pedro tem uma base sólida na família, que compreende a sua ambição e se desdobra, entre as tarefas do quotidiano, para ele cumprir os rigorosos horários e conseguir patrocínios que permitam suportar as despesas da participação em concursos e viagens.
Contudo, não é só a paixão de João que a família apoia, mas também a da sua irmã mais velha, Leonor, que quer ser jogadora de futebol e já trabalha nesse sentido. O estereótipo é invertido por estes irmãos que sabem bem o que querem e não se deixam intimidar. Dentro de casa também os opostos se fazem sentir, com João a admitir que há saudáveis picardias entre os dois quando se trata de escolher algo para assistir em família.
O bailarino está ciente de que está do lado inverso da tão vulgar inserção dos rapazes da sua idade em desportos, especialmente o futebol, mas isso não é algo que o preocupe e sente-se igual aos colegas. Até na própria dança, onde os rapazes estão em minoria, admite estar confortável no seu papel: “Ser rapaz na dança é bom, porque é sempre bom poder pegar nas raparigas e trabalhar com pessoas novas”.
João gosta de fazer coreografias em grupo e partilhar o palco com os seus amigos, mas sente um especial gozo em fazer um solo: “Gosto de ser livre no palco”.
A determinação expressa-se no seu dia-a-dia e foi desde logo evidente quando, com 9 anos, sentiu que precisava de procurar uma maior evolução noutra escola que lhe desse impulso e tomou a iniciativa de mudar. Foi a entrada, em 2015, na Ent’Artes – Escola de Dança, que acabou por conduzi-lo à primeira competição, em março de 2016: Leiria Dance Competition. Logo nessa, alcançou a medalha de ouro como solista de clássico e uma bolsa para a frequência do curso de Verão do Conservatório Privado de Portugal.
Pouco tempo depois, conseguiu um lugar no curso de verão do Royal Ballet School, em Londres. E, em novembro, em Paris, nas semifinais do Youth America Grand Prix, onde obteve boas classificações, conquistou uma bolsa da Bolshoi Ballet Academy para frequência do curso intensivo de verão, em Nova Iorque.
Por estes dias, João encontra-se em Nova Iorque, com colegas da escola Ent’Artes, a competir na final do Youth America Grand Prix. João confessa estar com “muitos pensamentos” acerca desta aventura, entre eles ansiedade e algum nervosismo. Mas esclarece: “Claro que eu não quero pensar que vai correr mal, isso, acho que é sempre mau, portanto tenho sempre pensamento positivo. Se pensar que vai correr mal, acho que corre mesmo mal”.
Tal como procura aprender cada vez mais na dança, João Pedro também se esforça na disciplina de Inglês, que sabe ser essencial no panorama das competições internacionais. “Há palavras que eu não sei, então uso o Google Tradutor”, brinca.
Ciente de todo o esforço que a dança envolve, João entrega-se a ela sem reservas. Ser bailarino é o seu sonho e não se imagina noutro lugar. O ballet clássico é o seu estilo de eleição e está convicto de que é este que quer dançar. Porém, logo de seguida, desarma-nos com a sua convicção: “Do que eu gosto mais é mesmo de estar aqui, trabalhar, esforçar-me, isso é tudo”.
Como referências para o futuro tem já a Bolshoi Ballet Academy, uma escola onde gostaria de evoluir, e sabe que um bailado que quer fazer é o “Lago dos Cisnes”, o mesmo que o trouxe até aqui. Fala como alguém que, apesar da tenra idade, já sente como gente grande e comanda o verdadeiro sonho que encontrou.
Por enquanto, vive já um ano em cheio, que aponta o caminho para o futuro deste jovem bailarino português. Tudo se resume àquilo que faz o seu coração bater mais forte: “Quando danço, sinto uma emoção muito, muito grande, porque é como se estivesse noutro lado do mundo”.