“Estes anos são viagem…”, leu-se à entrada da alameda do Estádio Municipal de Braga, durante a semana do Enterro da Gata. Foram sete noites com barracas de curso, música e muita animação entre estudantes minhotos e não só. Hoje celebra-se a terça-feira académica, o velório da Gata, as serenatas, o cortejo e a imposição de insígnias, mas nem sempre foi assim. Já fizeram parte da tradição o Santoinho ou provas de automóveis.
Do Enterro da Gata 2017 apresentado em fotos com rolos à antiga, descobrimos o que devolveu a tradição a Braga quase 30 anos depois de chegar à Universidade do Minho.
1989. A data marca o regresso do Enterro da Gata à cidade de Braga. Entre o primeiro “Enterro Xistoso” em 1889 e com várias interrupções pelo meio, Luís Novais recupera a tradição no seu primeiro mandato como presidente da associação académica (AAUM).
“Na nossa campanha eleitoral, tínhamos a proposta de retomar as tradições académicas locais”, conta o então aluno de História e Ciências Sociais. Além do traje académico – “fomos a primeira universidade do país a ter um traje diferente de Coimbra”, garante -, a AAUM recupera um evento centenário: o Enterro da Gata.
“Tinha feito um trabalho para uma cadeira, em que vi um manuscrito do século XVIII, de uma pessoa que tinha sido uma espécie de secretário do arcebispo. E ele descrevia como era Braga no seu tempo. E há uma parte em que diz que Braga tinha então uma universidade e descrevia o traje que os estudantes usavam, que era igual ou semelhante ao atual traje da Universidade do Minho”, relata o agora escritor, jornalista e empresário.
“Além disso havia uma tradição do Enterro da Gata, que era do Liceu Sá de Miranda na altura e que tinha desaparecido em 1969. Ainda havia pessoas na nossa direção que tinham estado no último Enterro da Gata, e então decidimos retomar o traje e o Enterro da Gata”.
De uma vontade de afastar a má sorte e o ‘perigo’ de chumbar no ensino secundário – ou seja, “enterrar a gata” -, a festa tornou-se a semana mais aguardada da academia. Sete dias de férias antes da reta final do ano.
Há reclamações do cartaz, disputas de preços e lágrimas de despedida. Acontece de tudo um pouco, mas Luís Novais destaca o Enterro da Gata pelos “momentos de união, de festejo e de exacerbação do coletivo”.
“[Em 1989], a academia já tinha festa. Já havia uma tradição das direções anteriores, já tínhamos esse trabalho feito. Não inventámos a roda. O que fizemos foi retomar a tradição local”, realça. O trabalho da direção da AAUM foi então recuar cem anos no tempo, trocando as festas inspiradas em Coimbra pelas memórias dos anos 60 no Sá de Miranda.Apesar de “alguma oposição à ideia no primeiro ano”, a partir daí o Enterro nunca mais parou. No segundo ano juntou-se a “Barraca, uma barraca de circo alugada pela associação académica, em que “todas as noites se abria a barraca e sempre com um cartaz diferente”, recorda o antigo dirigente associativo.
Hoje, 28 anos depois de recuperada a tradição de quebrar a ‘malapata’ do chumbo, já não há Santoinho, nem automóveis. Manteve-se uma festa onde se reúnem os que ainda agora chegaram com os ‘antigos’, tudo acompanhado por um fino e registado pela memória analógica.