Esta música foi composta pelo Zeca depois de ler uma crónica escrita pelo jornalista Rogério Rodrigues, a 4 de maio de 1975. Contava ele que uma mulher se tinha despido na rua e, enquanto os que passavam a tentavam vestir, um repórter apareceu e começou a tirar fotografias.
O gesto do fotógrafo foi mal visto pelos populares, insultaram-no e tentaram agredi-lo. Tudo foi contado na crónica do “Diário de Lisboa” e Zeca eternizou através da sua música “Teresa Torga”.
Os recentes acontecimentos que se passaram no Enterro da Gata, em que uma jovem claramente incapacitada foi filmada seminua fazem lembrar a canção do disco “Com as minhas tamanquinhas”. “Foi modelo à força”, como cantou Zeca. Mas sim, não culpemos a academia por uma dúzia de mal intencionados. Em frente.
Se escutarmos com atenção, a certo ponto ele lá diz: “mulher na democracia não é biombo de sala”. Vamos parar aqui um pouco e pensar no que andamos a fazer à vida académica e às tradições estudantis.
Recordemos as músicas sobre “pilas que pinam” ou “mamadas”. São palavras tiradas dos cancioneiros de “praxe” que se ouvem diariamente nas ruas junto à Universidade do Minho. Não merecem ser reproduzidas aqui, todos os estudantes sabem do que estou a falar. Mas digo-vos, são músicas machistas, homofóbicas e exaltadoras da virilidade masculina.
Ou então, temos as famosas “coelhadas”, protagonizadas por um grupo restrito de estudantes minhotos. Esta “brincadeira” consiste em correr atrás de raparigas e simular o coito em contacto com o seu corpo.
Tende-se a aceitar de forma leviana e até com muita graça. Mas podemos parar para pensar e perceber que, em 2017, na academia, isto não faz sentido? Se na praxe se quer unir, onde se metem os homossexuais? Ou aqueles que não entendem a sexualidade como uma submissão ao outro? Ou aqueles que acham que as mulheres valem tanto como os homens?
O sexismo na “praxe” é uma realidade. “É uma brincadeira”, vão-me responder. Sim, eu sei. Mas há certas “brincadeiras” que não fazem bem a uma academia que se quer diversa e para todos. Agora, na preparação do próximo ano, para o bem da “praxe” e da vida académica, pensemos mais nas pequenas questões. Estamos em 2017 e na universidade.
Vamos ouvir todos a música “Teresa Torga”, do José Afonso, para ver se nos entra a ideia que “mulher na democracia” não pode ser um “biombo de sala”.