Os Capitão Fausto regressaram a Braga para tocar no terceiro dia do Enterro da Gata. Domingos Coimbra, baixista da banda, conversou sobre o sucesso do grupo e da digressão nos teatros, que considera uma experiência ótima e um “lado diferente de dar concertos”

Já tocaram várias vezes em Braga, quer como Capitão Fausto quer com os vossos “side projects”. O que mais gostam da cidade?

Domingos: Gosto muito da sé. Normalmente são as zonas onde tocamos, Sé la Vie, Juno. Acho que é uma das cidades mais bonitas de Portugal e o estádio é inacreditável.

É seguro dizer que Capitão Fausto são uma das grandes bandas portuguesas da atualidade. Como lidam com este sucesso?

Domingos: Uma verdade é que nós em relação aos álbuns anteriores sentimos, de facto, um crescimento ainda maior. Mas também estaríamos a enganar-nos a nós próprios se achássemos que já tínhamos atingido um patamar estável ou confortável. Ainda há imensos sítios no país onde tenho a certeza que muita gente não conhece a nossa música. Eu diria que o que Capitão Fausto conquistou mais nos últimos tempos foi mais as cidades maiores e um circuito que deixou de ser só malta jovem, da nossa idade, que era o que acontecia. Hoje em dia há bastantes pessoas mais velhas que ouvem e gostam da nossa música e não estávamos habituados a isso. Imensos senhores de 50 anos com vinis para assinarmos, agora com a digressão dos teatros. E eu acho ótimo. A partir do momento em que se fazem as músicas e a banda está pronta para tocá-las, se a nossa música tivesse dado só no canal panda para putos e só tocasse para eles eu não importava porque nós gostamos da música que fazemos e a partir daí ela pode tocar onde for, para quem quer que seja. Mas sim houve um crescimento, mas é um bocado descabido dizer que somos uma banda gigante porque não somos.

Estão a pensar continuar com o estilo de música do último álbum ou vão experimentar coisas novas?

Domingos: É tentar coisas novas. As músicas nunca foram pensadas pelo alcance que elas podiam ter. No fim do disco (Capitão Fausto têm os dias contados) notamos que era um disco mais acessível primeiro por ser mais curto que os anteriores, o Gazela era de 40 minutos e o Pesar o Sol de quase 50. Sentimos que o terceiro disco era um disco mais de canções e tem-nos andado a apetecer fazer canções. Vão ser sempre diferentes, aliás já andamos a fazer algumas coisas novas e algumas delas já descolam um bocado porque é a nossa maneira de fazer música. Não acho que sejamos uma banda que encontre uma fórmula para fazer canções. E até acho que é mais interessante para nós como músicos irmos descobrindo e alargando as fronteiras até onde conseguimos chegar, mantendo sempre uma linguagem comum aos três discos. Mas vai ser sempre diferente do anterior. Não é porque o anterior correu bem e teve alcance que vamos repetir.

O que vão andar a fazer nos próximos meses?

Domingos: Temos um verão cheio de concertos, o que é ótimo. Vamos anunciar em breve uma data deles. Alguns já estão anunciados, como o ‘Super Bock Super Rock’, que acho que é assim o maior festival que vamos fazer este verão. E no mês que vem vamos começar a fazer, mesmo a sério, o próximo disco. E a nossa ideia era que o disco saísse já no próximo ano. Queremos encurtar as distâncias entre discos, porque do Gazela para o Pesar o Sol foram três anos e o disco já tinha sido gravado logo a seguir ao Gazela.

Têm andado numa tour pelos teatros de Portugal. Qual é a principal diferença que encontram em tocar num teatro?

Domingos: A primeira diferença é óbvia. As pessoas estão sentadas e nós durante quatro anos habituamo-nos a dar concertos em pé. A maneira como os nossos concertos corriam é que nós estávamos aos saltos lá em cima e as pessoas aos saltos lá em baixo. Neste disco também acontece isso quando tocamos para pessoas em pé. Mas acho que deixava um bocadinho mais de espaço para outros ambientes. Uma pessoa pode perfeitamente ouvir a música sentada. Pode ficar a ideia, que eu considero falsa, de parecer que as pessoas não estão a gostar tanto do concerto, mas elas estão simplesmente a ver e ouvir o concerto de outra maneira.
Outra coisa que acontece nos teatros, e que não acontece tanto por exemplo aqui, é que as pessoas estão muito mais atentas aos detalhes. Como não estás a perder energia e a saltar e essas coisas todas, uma pessoa presta mais atenção. E por isso nesse sentido é um pouco mais exigente para nós, que temos de tocar melhor. E aqui as pessoas até podem nem ouvir bem e o concerto pode-nos correr mal e as pessoas nem repararam. Nos teatros, os pormenores interessam muito mais. E acho que cenicamente conseguimos preparar um espetáculo um bocadinho diferente de luzes. São momentos diferentes. Para nós foi ótimo, é sem dúvida um lado diferente de dar concertos.

O que esperas do concerto?

Domingos: Eu gosto sempre de vir a Braga. Não me lembro de um concerto mau que tenhamos tido em Braga. E gosto do nome Enterro da Gata.

Vocês têm também a vossa editora. Podemos esperar mais coisas da Cuca Monga?

Domingos: O Francisco vai gravar um álbum pela Cuca Monga a solo, o Salvador tem mais músicas para gravar e os Modernos também. Vai gravar tudo este ano quando acalmar Capitão Fausto. Mas os lançamentos mais importantes são o do Luís (Severo) e dos Ganso, dois álbuns nunca tínhamos lançado álbuns na Cuca Monga, só EPs. E tiveram uma receção muito boa. Temos uma editora profissional.

Em 2014, numa entrevista no indie music fest, disseste que ingredientes para um bom concerto eram um bom público e um bom gin tónico. Achas que vais ter isso hoje no Enterro da Gata?

Domingos: Acho que sim. São bons ingredientes, bom público e bom gin tónico. Boa música também.