Um megafone anuncia “Mexeu com uma, mexeu com todas”. Falam alto para que as vozes cheguem mais longe. Há quem passe pela Avenida Central, em Braga, e fique. Há quem passe e siga a sua vida. “É uma reunião de mulheres na rua”, comenta um homem ao telefone.
“No país dos brandos costumes, as mulheres continuam a ser cidadãs de segunda. É contra isto que nos levantamos”, ouve-se da voz da mulher que lê o manifesto. A tónica deste movimento é contra a cultura de violação e pretende trazer a discussão à rua. Há uma lona estendida no chão e cartazes levantados, mas são as vozes que se ouvem mais: “Não à violência machista! Abaixo a cultura da violação!”.
O episódio do alegado abuso sexual na Queima das Fitas do Porto despontou o movimento “Mexeu com uma, mexeu com todas – Não à cultura de violação”. “Não é por estar inconsciente ou alcoolizada que isso é motivo para ser abusada ou violada”, afirma Rita Vlinder, psicóloga sistémica. A mulher não tem de estar sempre com medo de sair sozinha à rua e quando sai tem de “estar sempre a olhar para trás”, conclui.
Mas a iniciativa que juntou movimentos nas cidades de Braga, Coimbra, Porto, Lisboa e Faro, esta quinta-feira, não aconteceu só por um motivo “isolado”. “Sabemos que acontecem estas coisas várias vezes”, lembra Marta Calejo, membro do Grupo de Ação Feminista.
A ativista vai mais longe e frisa o que, para ela, vai mal: a dominação do sexo masculino, as desigualdades salariais e as disparidades de trabalho. Estas preocupações não são só coisas de mulheres. Pedro Godinho, de megafone em punho, reclama mais sensibilização nas escolas e discussão.
Marta também diz que é preciso “pôr as pessoas a pensar e a questionar”. “Embora em termos legislativos, as mulheres tenham conseguido alcançar várias metas, como o direito ao aborto, ao divórcio ou ao voto, ainda é preciso mudar mentalidades”.