Portugal é um verdadeiro paraíso de clubes de futebol. De Norte a Sul, 120 equipas fizeram parte dos campeonatos nacionais da modalidade. Bem, na prática foram “apenas” 114. Isto acontece porque seis dos maiores clubes nacionais contam com equipas “B” na Ledman LigaPro (Porto, Benfica, Sporting, Braga e Vitória) e no Campeonato Nacional Prio (Marítimo).

A reintrodução das equipas “B” nas ligas profissionais, em 2012/2013, foi a opção escolhida para substituir a antiga Liga Intercalar, competição que, durante três temporadas, permitia que os clubes oferecessem minutos de jogo aos jogadores menos utilizados ou provenientes dos escalões de formação. Em 2017, pode afirmar-se que este projeto foi vantajoso para os clubes com duas equipas seniores, tanto financeiramente como desportivamente. Por outro lado, continua a criar um enorme fosso entre as equipas “grandes” e as “pequenas” e degrada as estruturas competitivas a nível nacional.

Deve eliminar-se por completo as equipas “B”? De momento, não. A locomotiva das equipas secundárias já arrancou há muito tempo e é impossível parar o fenómeno. Várias equipas de dimensão mais reduzida, como o Aves, Varzim, Tirsense e Gondomar, já aderiram a este projeto e têm tido resultados práticos, com vários jogadores da formação a terem os seus primeiros minutos na equipa principal. Contudo, não foi um esquema pensado em prol de todas as equipas portuguesas.

Tomemos, por exemplo, a estrutura competitiva inglesa. Ao invés de colocar as equipas secundárias no Championship (equivalente à Ledman LigaPro), foi criada a Premier League2, com duas divisões, nas quais os clubes da Premier League e Championship contavam com equipas sub-23 na competição. Durante a época, três jogos têm de ser realizados nos estádios da equipa principal e os dois últimos classificados descem de divisão, para dar uma maior dinâmica e experiência aos jovens jogadores que carecem de experiência sénior. Com esta estrutura, os clubes oferecem experiência competitiva aos jogadores, sem por em causa a competição secundária do país (neste caso, o Championship).

O que acontece em Portugal é que as equipas “B” não iniciam a época com o mesmo espírito competitivo das restantes equipas. Os jovens jogadores, por vezes, alternam entre a equipa principal e a “b”, influenciando o decorrer da competição na qual participam. Por outro lado, a sua qualidade ajudaria outros clubes da mesma divisão a crescer, combatendo a enorme disparidade entre as maiores potências desportivas e os restantes clubes nacionais.

As equipas “B” ajudam a monopolizar o futebol português e os jovens jogadores que lá atuam podiam criar uma ponte que unisse os dois polos: os clubes com grande poder financeiro e as equipas que lutam pela sobrevivência. É necessário dar uma maior vivacidade ao enorme número de clubes que vivem na corda bamba, ao invés de continuar a alimentar os “tubarões” do futebol nacional.

Precisamos de soluções que sirvam todas os clubes que, mediante tudo que as envolve, continuam a prestar serviço ao desporto nacional.