“Eu ficava lá para sempre, nunca mais voltava”. As palavras são de Bárbara Araújo, ex-aluna da Universidade do Minho que, juntamente com três colegas, integraram o projeto Atelier dos Pikis. O programa de voluntariado das estudantes procurou, entre janeiro e junho, criar melhores condições de educação para as crianças de Pedra Badejo, em Cabo Verde, mas, depois do voluntariado terminado, o Atelier dos Pikis não regressou a Portugal.
“Se todos os nossos seguidores do Facebook doassem 50 cêntimos ou um euro, tínhamos dinheiro para o projeto todo, para os seis meses. Mas não, não houve muita resposta”. O Facebook era o principal motor de divulgação do projeto, mas os incentivos não chegaram para manter o projeto. Ao todo, este grupo de alunas da academia minhota recolheu cerca de 900€, que suportaram os custos das taxas alfandegárias do transporte de alimentos, vestuário ou material escolar, por exemplo. O Atelier dos Pikis, apesar de focado no apoio aos mais jovens, não dependia das idades. O projeto mantinha ainda uma parceria com outras duas instituições locais: uma de apoio a pessoas com problemas de toxicodependência e outra de apoio a mães solteiras.
Tendo em conta os altos custos com taxas alfandegárias, as doações, sempre bem-vindas, não ajudaram tanto quanto as estudantes estavam à espera. O objetivo de mudar de instalações esteve sempre no horizonte, e com as fracas condições de trabalho em Pedra Badejo sempre presentes, todo o apoio foi necessário.
Hoje, Bárbara continua em Cabo Verde, mas desta feita a trabalhar na área da Comunicação. Das amigas com quem sobrevoou o oceano, mantém-se Inês Carrola. Apesar do fim do projeto, as antigas alunas minhotas continuam atentas aos problemas do país, mas agora sem o regime de voluntariado.
Mas voltemos atrás. Em março, os Pikis lançaram uma loja online, para vender produtos feitos por uma costureira próxima do Atelier dos Pikis, e para angariar mais fundos. “Tentámos vender mochilas porque pensámos que as doações monetárias iam ter mais sucesso. E então começámos a vender mochilas, que é uma parceria com a costureira que vivia perto da nossa casa, para tentarmos angariar dinheiro para o projeto. São mochilas, carteiras, bolsinhas, estojos de maquilhagem, carteiras, porta-moedas, essas coisas”, esclarece.
Depois, em abril, para angariar mais dinheiro e recursos que pudessem ajudar o projeto, foi organizado um concerto solidário, também por uma aluna de Ciências da Comunicação, Diana Reis. Chegaram mais doações no mês de maio. Mas o problema da falta de condições e da segurança complicaram o projeto. No entanto, um dos grandes objetivos é conquistado, conseguindo novas instalações onde foram guardados todos os donativos oriundos de Portugal.
Pouco tempo para tanta coisa
O projeto estava previsto durar até 31 de Julho. Um total de seis meses. Bárbara, que voltou a Cabo Verde a meio de Maio, diz que este período de tempo é muito curto para concretizar tudo o que têm planeado. “É muito pouco. Seis meses passam muito rápido e nós não podemos fazer assim muito, sabem? Quer dizer, é muito, mas ao mesmo tempo, quem nos dera poder fazer muito mais”, afirma Bárbara.
Contudo, acabou por terminar mais cedo. No entanto, os membros do Atelier dos Pikis continuam por Cabo Verde e continuam a ajudar. Tanto é que, num evento solidário – “De nós para os Pikis” – organizado, esta sexta-feira à noite, por um grupo de alunas do 2º ano de Ciências da Comunicação da UMinho, o Atelier dos Pikis volta a ser alvo de ajuda.
Já com algum tom nostálgico, a estudante confessa que, no início, tinha muito receio em ir para Pedra Badejo, e sente-se arrependida de não ficar durante os seis meses: “É assim, quando chegas lá pensas: eu faço voluntariado aqui, mas eu não vivia aqui. Tu passas uma semana lá… Eu ficava lá para sempre, nunca mais voltava!”, afirma entre risos.
O projeto Atelier dos Pikis acabou no final de junho e, para já, não há planos para continuar com o programa de voluntariado. No entanto, as quatro estudantes que passaram pela Universidade do Minho saem de Cabo Verde com um projeto de sucesso, que conseguiu ajudar a comunidade infantil da pequena terra de Pedra Badejo.
Texto: Hélio Carvalho e Inês Vale