Nos últimos dez anos as universidades portuguesas têm promovido um discurso no sentido da igualdade e inclusão. Contudo, este ainda coexiste com um sexismo diário e com uma discriminação contra pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais (LGBT). Estas são as conclusões de um estudo da socióloga Maria do Mar Pereira, investigadora associada na Universidade Aberta e no Centro Interdisciplinar de Estudos de Género na Universidade de Lisboa (CIEG-UL).
Em conversas de corredor, reuniões e em muitas salas de aula é possível observar esta discriminação e menorização das mulheres e LGBT, ainda que de uma forma oculta.
Estas manifestações sexistas e homofóbicas revelam consequências negativas, visto que afetam a saúde e autoestima e condicionam o sucesso e oportunidades académicas de mulheres e pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais).
O estudo baseou-se em entrevistas a 40 cientistas e estudantes e na observação em mais de 50 eventos académicos entre 2008 e 2009 e entre 2015 e 2016.
“O sexismo é tratado como uma realidade normal, uma piada“
O humor é o método utilizado frequentemente para expressar este sexismo, invocando uma “cultura de gozo”, como caracteriza a também professora associada do Departamento de Sociologia da Universidade de Warwick. “Muitos estudos demonstram que o uso do humor é uma estratégia que as pessoas utilizam para dizerem aquilo que realmente pensam, sem que para isso sejam de alguma forma penalizadas.” Ainda que seja vista como uma prática inofensiva, é uma realidade comum. Quanto mais as pessoas são expostas a esse tipo de discurso, mais facilmente aceitam esta realidade, pois mais normal lhes parece.”
Maria do Mar Pereira defende que apenas através do reconhecimento desta questão como um problema estrutural das universidades se pode fazer algo para combater o sexismo. “As universidades devem fazer um esforço proativo para incluir estas questões nos currículos, de vários cursos”, assim como “o Governo também deve intervir, através de legislação e disponibilização de recursos,” diz. “Os média também ocupam um papel fundamental, ao debaterem estas questões, pois quantos mais debates houver, mais as universidades sentem pressão para fazer alguma coisa.”
O estudo é apresentado hoje no simpósio “Sexismo nas Universidades Portuguesas”, a decorrer no Centro de Cultura e Intervenção Feminista, em Lisboa. O simpósio é grátis e aberto ao público.