Guimarães tem-se tornado, nos últimos anos, num dos maiores núcleos culturais do país. A cidade que viu nascer Portugal, vê agora nascer bandas com cada vez maior relevância nacional.
Este ano, quatro bandas de Guimarães passarão pelo festival Paredes de Coura. Articulado entre o palco Vodafone FM e os concertos “Jazz na Relva”, os Toulouse, El Rupe, Captain Boy e This Pinguin Can Fly marcarão presença no festival do Alto Minho. Neste mesmo ano, o Centro Cultural Vila Flor (CCVF) recebeu entre janeiro e maio, a iniciativa “Som de GMR”, onde sete bandas vimaranenses mostraram à cidade o trabalho que têm desenvolvido.
No primeiro semestre de 2017, a programação no Café-Concerto do CCVF foi entregue ao ciclo “Som de GMR”. Rui Torrinha, responsável pela organização do espaço cultural, convidou o jornalista Samuel Silva para apresentar as bandas e moderar as conversas com os artistas. “Este movimento estava muito disperso. Tinha de haver uma organização no sentido de reclamar que há aqui um grupo de 10 bandas que estão a fazer coisas relevantes no panorama musical português”.
Para Samuel Silva, o movimento de bandas emergentes é algo que tem vindo a acontecer e deve-se principalmente a 3 fenómenos. O mais geral, Samuel diz ser fruto da maior facilidade de edição, pelo maior número de estúdios e da internet que permitiu às bandas conquistarem maiores públicos. “As bandas conseguem entrar no circuito nacional muito mais facilmente do que há 15 anos”.
Os outros dois fenómenos são mais locais da cidade. Em 2012, Guimarães foi Capital Europeia da Cultura e, na opinião de Samuel, contribuiu para que os artistas tenham perdido o medo de sair da cidade e se tenham projetado para fora do concelho, contrariamente ao que acontecia às bandas nos anos 90 que “só davam concertos na zona”.
A programação cultural diária permitiu perceber não só o que se andava a fazer na cidade a nível cultural, como também perceber o que se fazia pelo estrangeiro, o que permitiu uma troca de experiências e um efeito de “contaminação”.
“Se uma Capital da Cultura foi feita aqui, com artistas de Guimarães, queria dizer que os artistas da cidade estavam no mesmo patamar europeu que outras bandas também estavam e entenderam que podiam fazer cosias a partir de Guimarães, mas projetarem-se para outros pontos”, conta o moderador do Som de GMR.
O jornalista aponta ainda o investimento público na cultura como um fator que explica o fenómeno. “Nada disto existiria sem uma política de cultura e isso foi muito evidente desde que o [Centro Cultural] Vila Flor existe”. Segundo Samuel Silva, nos últimos dez anos houve um esforço dos poderes públicos de criarem uma programação regular no CCVF.
“A malta juntava dinheiro da semana para ir ver concertos ao Vila Flor. As pessoas daqui foram confrontadas com o que se fazia em Portugal, mas também na Europa e fora da Europa”. Samuel sublinha ainda os apoios da câmara em festivais que se realizam na cidade e nas salas municipais de ensaio do Jordão. “Quando tens uma política cultural mais fechada os criadores não criam ou têm mais dificuldade e hoje em dia há mais apoio da câmara o que permite aos criadores fazer mais coisas.”
“Acho muito interessante e muito forte o facto de haver duas promotoras como a ‘Elephante MUSIK’ e a ‘Revolve’ que conseguem fazer coisas de forma independente. Acredita ainda que estas têm uma papel “crucial” a divulgar bandas, a levar bandas à cidade e ainda a fazer os seus próprios festivais.
O motivo para a criação do “Som de GMR” foi sobretudo para que as bandas trabalhem mais juntas e conversem mais. Segundo o jornalista, falta o selo de Guimarães, falta comunicar Guimarães como local onde saem bandas. “É preciso entender que as bandas são de Guimarães. Há uns anos falavas das bandas de Barcelos e sabias que eram bandas de Barcelos. Aqui em Guimarães é um pouco diferente porque a coisa é mais dispersa, falta um ponto de organização. O Som de GMR tentou ser isso e vai continuar a tentar ser.”
Samuel Silva considera o ciclo do “Som de GMR” um sucesso. O projeto vai ter uma continuidade na segunda fase no ano. Em outubro, novembro e dezembro passarão, pelo CCVF, os This Pinguin Can Fly, Ana e Smartini. “O Som de GMR fez-nos conversar. Já há algumas ideais, que não são certas, para 2018. Os projetos estão a nascer. Há oportunidades de trabalharmos todos juntos que reforçam a ideia que numa cidade relativamente pequena onde todos nos conhecemos estamos juntos a fazer coisas novas.”