Alex Cameron, proveniente de Sydney, Austrália, lança o seu segundo álbum, Forced Witness, um ano após o relançamento de Jumping the Shark, inicialmente disponibilizado no site do artista, em 2013. Com um som baseado no synth pop e indie rock, fez digressão com vários artistas de maior fama como Foxygen, Mac DeMarco e Unknown Mortal Orchestra. Acabou até por visitar Portugal, na edição deste ano do Festival Vodafone Paredes de Coura.
Na corrida para o lançamento deste trabalho foram lançados três singles: “Candy May”, “Runnin’ Outta Luck” e “Stranger’s Kiss”, este último com a colaboração de Angel Olsen. Foram escolhas ótimas para definir o tom do produto final e todas as músicas acabam por fazer justiça, tanto em qualidade como em tema.
“Forced Witness” revela-se como um álbum, em todos os aspetos, superior ao seu trabalho inicial. As melodias incríveis e coloridas, o domínio da retórica – representado em letras sublimes – e sobretudo um estilo que homenageia o rock dos anos 80 opõem-se, por completo, ao tom mais enigmático, frio e lo-fi apresentado em Jumping the Shark.
“Candy May” é a primeira música do álbum e uma ótima escolha nesse aspeto. Com uma melodia simples e calma como fundo, Alex introduz os temas que acompanham o disco; fala-nos de amor, da sua solidão, da sua fé no romance e na alegria que este lhe traz, rasando na temática do namoro online, algo que estará mais evidente em canções subsequentes.
Em “Country Figs”, Alex Cameron afunda-nos no submundo de pobreza sentimental e física em que se encontra. Apresenta letras asquerosas e que invocam todo um estado negativo de opressão. É então que somos interrompidos por “Runnin’ Outta Luck”, onde é disposta a história inspiradora e desafiante de um duo inesperado que escapa num carro: Alex, um homem numa missão com “sangue nos punhos por ter dinheiro na mala” e uma stripper sem sorte. Fogem por amor; pela esperança gloriosa de superar todo o azar que os persegue devido à sua união.
Segue-se “Stranger’s Kiss”. O instrumental cimenta-se numa guitarra melancólica e no saxofone de Roy Malloy, – longo parceiro de trabalho de Cameron desde o seu primeiro álbum – com o dueto de Angel e Alex a assumir o volante de uma viagem sobre encontrar conforto e felicidade no beijo de um estranho após uma separação.
A música seguinte é uma das minhas favoritas do álbum por apresentar a genialidade e a ilusão forte e quase inocente presente nas letras do disco. “True Lies” é sublime, tanto pelo seu instrumental sólido e envolvente como pela exploração de uma narrativa de infidelidade com jovens adolescentes que Alex acha na internet. É um belíssimo drama entre a urgência de fazer o que está correto e admitir a escura verdade à sua namorada, ou continuar a fraude para manter o status quo de ignorância e falsa realidade. Contudo, Alex mantém esta farsa, procedendo a mandar mais dinheiro a uma mulher que ele suspeita ser um homem nigeriano por “adorar a poesia que ele lhe enviava”.
Dá-se uma reviravolta total em “Studmuffin96″. Alex encarna agora uma alcunha desenhada para se dissimular por alguém de 21 anos (quando, na verdade, ele é muito mais velho) na internet, onde se encontra à espera de uma rapariga adolescente que está perto de chegar aos 17. Este romance quase arrepiante e assustador ilustra a constante ideia de uma personagem romântica e inocente na sua ideia, mas simultaneamente perturbadora e insólita.
“The Chihuahua” não trás muito de novo ao álbum, mas também não o denigra. Apresenta uma crítica incrível à sociedade moderna e aos sentimentos mais carnais do Homem. Num tom mais casual e quase a roçar o Reggae, “The Hacienda”, é a canção menos interessante. Não traz nada de novo para o trabalho, com uma letra e uma dimensão muito rasa quando comparada com as outras músicas.
A canção mais indómita é sem dúvida, “Marlon Brando”. Por entre uns sintetizadores extremamente nostálgicos e uma precursão natural e orgânica conectam-se os insultos e a violência atirada por Alex a um homem que acompanha uma cobiçada mulher. É talvez o ponto onde esta sua personagem é mais imbecilmente adorável, com pedidos de desculpas e de perdão a seguirem-se a estas ameaças.
Por fim, a música mais poeticamente poderosa do álbum: “Politics in Love”. Não tanto por qualquer outro aspeto, o crucial está na sua letra e nas suas rimas harmoniosas. É uma boa despedida para este álbum e uma bastante positiva e otimística, em comparação com as várias vezes que ideias subvertas estão presentes neste projeto. Um fim pacífico e calmo a toda esta aversão e drama retratados.
“Forced Witness” é um álbum que surpreendeu bastante por trazer algo novo e por explorar temas pouco convencionais. Possui algumas canções destinadas a ficarem na mente durante semanas como o refrão de “Marlon Brando”, a dicotomia de “True Lies”, a sensualidade de “Stranger’s Kiss”, o parvo idealismo de “Runnin’ Outta Luck” e até a extravagância de “Candy May”. O instrumental não é um dos seus pontos fortes, mas as canções são diretas e bem produzidas, sem muitos devaneios. A força principal do álbum está mesmo nessa compactação de pequenos testemunhos desta personagem, real ou não, de Alex.
8/10
Forced Witness
Alex Cameron
Secretly Canadian
2017