No ano em que se comemora o vigésimo quinto aniversário do lançamento de “Mutantes S.21”, álbum dos Mão Morta, o Braga Music Week dedica quase toda a sua programação a este marco na carreira da banda bracarense. Hoje, a noite será de verdadeira homenagem, com 16 bandas locais a reinterpretarem temas desse disco editado em 1992. João Pereira, a pessoa por trás da Bazuuca, uma das promotoras do evento, conta-nos o passado, o presente e futuro deste festival que se movimenta por múltiplos locais da cidade.
“Organizar isto, principalmente nesta cidade que ainda está em crescimento, nunca é fácil”, diz João Pereira, co-organizador do festival que existe desde 2013, mas começou a crescer em 2014, edição que contou, curiosamente, com Mão Morta no cartaz. Foi também a partir desse ano que evento se estendeu por nove dias. Todos eles ligados à música, mas nem todos eles com música. Pode-se assistir a concertos, filmes, participar em jogos de futebol, quizz’s, “todos os intervenientes nessas atividades estão de alguma forma ligados à música.”
A edição deste ano está a “surpreender pela positiva” a organização. A quantidade de gente que tem assistido aos concertos que começaram dia 29 de setembro e que se têm dividido por vários locais da cidade, não tem sido indiferente. Durante o dia, pode-se dar um passeio por um dos ex-líbris da cidade de Braga, como é o Jardim de Santa Bárbara. De noite, nesse mesmo espaço, ouvem-se os sistemas de som a trabalhar. A Rua do Souto, uma das mais movimentadas, fica entupida, dada a quantidade de gente que se junta para ver os concertos que acontecem em frente à Livraria Mavy. Na Sé de Braga, à noite, a oração é outra. Faz-se o culto à musica, mesmo em frente à Catedral.
Em 2016, o Braga Music Week comemorou os 50 anos do disco “Revolver”, dos The Beatles. Sendo que foi uma “preparação para este ano, para ver se o conceito resultava”. Na edição de 2017, a ideia mantém-se, “é uma verdadeira homenagem a uma banda”. Braga nunca soube dar o devido valor a uma grupo que levou o nome da cidade a tantos outros lugares. Por isso, todo este festival “é quase como um presente para eles”.
A principal atração, a par dos concertos no sábado, de Ermo e Allen Halloween, vai acontecer hoje no Gnration. Inicialmente, iam ser três espetáculos com seis bandas, mas isso acabava por durar pouco mais de 30 minutos. Então, fazendo um paralelismo com os concertos dos Mão Morta comemorativos deste mesmo álbum, onde a setlist não é composta apenas por músicas desse disco, convidaram 16 bandas. Organizaram-nas em pares e alargaram-lhes a escolha de temas, cada grupo vai “dar o seu jeito à musica dos Mão Morta”. Torna-se “um desafio muito grande para os artistas, porque existem bandas de eletrónica, hip-hop, rock. Temos a mistura entre a eletrónica de Missing Link com o rock instrumental dos Quadra, por exemplo.”
A maior parte dos agrupamentos de bandas foi simples de realizar, visto que existem muitos grupos que partilham membros. “Temos Maquina del Amor e Smix Smox Smux. Na realidade os Maquina del Amor são os Smix Smox Smux, com o Ronaldo Fonseca, dos Peixe Avião. Ermo e Leviatã também partilham artistas. Depois também juntamos bandas que não têm nada a ver, como Missing Link e Quadra.” O resultado desta grande equação será no mínimo surpreendente, “é a identidade deles com a música dos Mão Morta”.
Os apoios nem sempre foram e são os desejáveis, mas “nós fazemos com o que temos”, disparou o homem da Bazuuca. Na edição de 2014, o festival não teve qualquer apoio. Mesmo assim, o cartaz contou com cerca de 25 artistas e “conseguimos pagar a todos”. A principal motivação prende-se com “a vontade com que a cidade tenha mais concertos, mais atividades culturais”. Para isso, houve também o contributo de vários espaços, alguns pouco prováveis, como a Associação Comercial de Braga (ACB), que nunca recebeu concertos, e a discoteca Lustre, onde não costuma haver este tipo de atuações.
A evolução é sempre uma meta de edição para edição. Segundo a organização, “o grande upgrade deste ano foi o facto de termos mais parceiros”, como se pode comprovar com a oportunidade que o festival teve em programar espaços como o Theatro Circo e Gnration. “Para o ano vamos ter mais noites no Theatro Circo, foi um convite que o Paulo Brandão [diretor artístico daquele espaço] nos fez. Já ia acontecer este ano, mas não foi posível”, revelou em primeira mão, João Pereira.
O Braga Music Week 2017 prolonga-se até sábado. Divididos por vários locais, desde o Projéctil, à ACB, culminando na discoteca Lustre, artistas como Ângela Polícia, Homem em Catarse, Ermo, ou Allen Halloween, marcarão ainda presença no festival.
Entrevista e texto: Rui Araújo
Vídeo: Ana Maria Dinis, Diogo Rodrigues e Mariana Prata
Excertos de momentos Braga Music Week 2015 cedidos por: Inês Martins
Excertos de vídeos do videoclipe do tema “Budapeste”