No último dia da Receção ao Caloiro, Carolina Deslandes foi a primeira a atuar. O concerto marcou o regresso da cantora aos palcos desde que fez uma pausa na carreira, em janeiro. “É a primeira vez em que me separo do meu filho Benjamim tanto tempo desde que ele nasceu, mas ouvir-vos cantar faz tudo valer a pena”, garantiu a artista, que levou o público ao rubro com “Mountains”, “Heaven” ou, a mais euforicamente recebida, “Vida Toda”.
Ao ComUM falou sobre a nova fase da carreira e o disco que vem a caminho, a maternidade, o blogue onde pode usar a sua “voz” e a música em português.
Um ano e dois meses depois, como foi voltar a pisar um palco?
Carolina Deslandes – Foi incrível. Estava um bocadinho nervosa porque foi algum tempo sem cantar e, mais do que isso, algum tempo mais isolada em casa. E, de repente, passar de casa para uma multidão é uma mudança um bocadinho drástica, mas sou grata por poder fazer disto a minha vida e acho que essa é que é a chave. É vir para aqui mesmo com as inseguranças, mesmo com o nervosismo, é dar graças por continuar a fazer isto todos os dias. Quando se pisa o palco passa tudo.
Como é dar um concerto para estudantes universitários?
Carolina Deslandes – É sempre bom porque as pessoas vêm com boa disposição, vêm animadas, preparadas para participar nos concertos. Não são todos os públicos que aderem assim, que cantam e se chegam à frente. Hoje participaram muito e cantaram os temas todos, a pessoas são super recetivas a isso. É sempre ótimo, vir ao norte é maravilhoso.
Em abril criaste o blogue “A vida toda”. O que é que esse projeto significa para ti?
Carolina Deslandes – O blogue “A vida toda” acabou por funcionar um bocadinho como um diário. Eu acho que nós, como artistas, devemos aproveitar o facto de termos uma voz, não só para cantar mas para falar daquilo que consideramos importante e tentar mudar o mínimo que seja. O blogue surgiu para que eu pudesse partilhar algumas coisas que achava importantes, para tentar combater algumas que achava erradas, nomeadamente a pressão que existe em relação à mulher para ter sempre o corpo perfeito ou que existe quando és mãe e te dizem que deves fazer isto e aquilo com os teus filhos, por exemplo. Gosto de aproveitar o facto de ter uma voz para alertar as pessoas que me seguem para coisas que acho que são importantes, de as incentivar a serem elas próprias e a não se sentirem enclausuradas ou pressionadas pelo mundo à volta delas. É uma sorte poder falar e haver pessoas dispostas a ouvir.
Como tem sido conciliar a aventura de ser mãe com os compromissos profissionais?
Carolina Deslandes – É incrível, a melhor coisa que já me aconteceu. O coração todos os dias cresce para caberem mais coisas lá dentro. As pessoas têm muito a ideia: “Ah, agora que foi mãe já não vai trabalhar!”, “Ah, agora que foi mãe já só pensa nos putos! É um processo natural, quando és mãe, só pensas nos teus filhos. Queres protege-los, criá-los, queres que sejam saudáveis e fortes. Mas, a partir daí, a tua vontade de fazer tudo o resto é muito maior. Eu subo ao palco não só por mim, mas por eles. Quero que fiquem orgulhosos de mim e que saibam que podem sempre seguir os sonhos deles, que vale a pena. Então eu vou com uma vontade em dobro, em triplo, em quádruplo… Tudo o que eu faço é por eles ou também por eles.
Numa entrevista afirmaste que a tua relação com o Diogo Clemente te inspirou a cantar em português, algo que no teu último álbum não fizeste. É algo que podemos esperar num próximo trabalho?
Carolina Deslandes – Sim, o meu próximo disco é todo em português. Eu era um bocadinho insegura relativamente às minhas composições em português e a cantar em português. Não sei porquê, mas tinha alguma vergonha, algum medo. O Diogo ajudou-me a desbloquear isso, fez-me pegar nas letras que tinha nas gavetas e cantá-las. Este ano em que estive parada consegui compor para a Cuca Roseta, para a Mariza e para a Áurea. É incrível porque quando encontras a pessoa certa na tua vida, ela ajuda-te a descobrir coisas em ti que tu tinhas bloqueadas. Acho que isso é que é o amor. Mais do que flores e cartas, é quando a outra pessoa desperta o melhor de ti e faz com que tu te continues a desafiar a ti própria. Ele desafia-me todos os dias a não ter medo de sonhar com mais e de experimentar coisas novas.
O que é que mudou, ou não, entre a forma de fazer música da Carolina de 2010, que participou no Ídolos, e na atual?
Carolina Deslandes – Tinha 18 anos, passou-se uma vida inteira. Fui mãe, fui viver para Londres, voltei, gravei os meus dois discos, escrevi um livro, só não plantei uma árvore ainda! Mudou muita coisa, mas o início, o “Ídolos”, tem sempre a magia dos inícios. Nas alturas difíceis, monótonas ou de mais dúvida, volto sempre a esse início e lembro-me porque é que comecei, porque é que escolhi isto, porque é que sempre fui atrás e continuo a ir. Mudou muita coisa, mas a vontade de fazer música e o porquê de ter começado continua intacto.