“Não há um plano B porque não há um planeta B”. A frase proferida em 2016 pelo ex-secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, serviu de mote ao discurso de Paulo Lourenço e Cândida Lucas, os dois maiores impulsionadores do novo instituto da Universidade do Minho, inaugurado com pompa na passada quarta-feira. “Temos dados para afirmar claramente que a ignorância já não é desculpa”, assegurou o representante do Instituto para a Sustentabilidade e Inovação em Estruturas de Engenharia (ISISE).
Segundo Paulo Lourenço e Cândida Lucas, o IB-S “pretende debruçar-se sobre os grandes objetivos” definidos pelo ONU: a redução da pobreza e das desigualdades e a resposta às alterações climáticas. “Temos a água, a energia, a indústria, as infraestruturas, as cidades, as alterações climáticas, a vida debaixo de água, a vida na terra e o consumo responsável”, explica o professor, enunciando algumas das áreas em que o instituto pretende atuar.
Com equipas de investigação multidisciplinares e parcerias com várias empresas, o IB-S procura introduzir “paradigmas de sustentabilidade”. Para José Teixeira, presidente do conselho estratégico do instituto e membro da empresa de construção civil DST, “o sentido da sustentabilidade jamais será invertido”, garantindo que a economia do ambiente é a única viável no futuro. O engenheiro prevê uma “mudança radical” na sociedade, que “terá de corresponder a uma mudança cultural nunca antes vista”.
A missão do Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-Sustentabilidade é a de ajudar a construir um futuro sustentável para os espaços urbanos e naturais, até porque, para Cândida Lucas, “os ecossistemas não têm fronteiras”. Para que esta visão se concretize, diz, é imprescindível que se alie o conhecimento e a tecnologia ao dia-a-dia da sociedade. Essa também é a visão de José Mendes, secretário de estado Adjunto e do Ambiente: “Se no fim do dia as pessoas não aderirem à realidade, nenhum modelo, por mais perfeito que seja, terá resultado”.
Da “ideia adormecida” ao descerrar da bandeira
O projeto do IB-S começou há cerca de dez anos, numa época em que, explica António Cunha, reitor da Universidade do Minho, “conceitos como a economia circular ou a economia marinha” e a necessidade de integrar diversas disciplinas para responder a desafios na área do ambiente não passavam de “ideias simpáticas em que nem todos acreditávamos”.
A aliança entre o Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) e o Instituto para a Sustentabilidade e Inovação em Estruturas de Engenharia (ISISE) foi a chave para o surgimento de um empreendimento que António Cunha considera “inovador e necessário ao desenvolvimento da região, do país e do globo”. Tendo como principais impulsionadores a investigadora em Biologia Molecular e representante do CBMA, Cândida Lucas, e Paulo Lourenço, professor representante do ISISE, a ideia que estava, segundo José Mendes, “financeiramente e conceptualmente adormecida”, tomou forma.
O processo passou por várias fases. Entre 2010 e 2017, partiu do conceito à angariação de fundos, dos projetos à construção de equipas e infraestruturas e de um longo crescimento até ao estado em que se encontra hoje.
O “cubo de arestas curvas” e o “bloco verde perfurado”
Os dois edifícios, onde foram investidos perto de nove milhões de euros, encontram-se nos campi de Gualtar e de Azurém. A arquitetura mereceu elogios por parte de Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, por “estimular a curiosidade”.
Em Braga, o “cubo de arestas curvas” está ao serviço das ciências biológicas, como a biologia, a biotecnologia e a ecologia. Nesta estrutura será possível recriar um mesocosmos aquático, uma espécie de rio artificial em que poderão ser observados, por exemplo, os efeitos da poluição. Já em Guimarães, o “bloco verde perfurado por nanotubos de titânio” acolhe a investigação em ciências dos materiais e da produção e gestão de energia. A construção arrojada permitirá, entre outras coisas, testar materiais em tamanho real. No discurso de inauguração, o reitor da Universidade do Minho, em fim de mandato, referiu que esta última unidade já se encontra “saturada” do ponto de vista da utilização, tendo começado a funcionar mais cedo do que a complementar.
O IB-S foi custeado por várias entidades, entre as quais empresas que se ligaram a ele, como a construtora DST, a elétrica EDP ou o Grupo Casais. Os projetos, “a nossa especialidade de sempre”, como diz Cândida Lucas, foram uma importante fonte de rendimento, com 15 financiados desde o último ano. Desta forma, a União Europeia contribuiu com um total de cinco milhões de euros. O valor, apesar de não ser utilizado “para equipamento e muito menos para instalações”, é, nas palavras da investigadora, um “grande orgulho”. Existe também uma estratégia de angariação de fundos suportada pelo Conselho Estratégico IB-S e pelo Conselho de Fundraising UM.
Para o futuro, Cândida Lucas espera que o capital possa vir também de serviços especializados prestados no próprio instituto, como é o caso da plataforma para ensaios à escala real para construção e o “rio artificial”.