A Companhia de Teatro de Braga, ao longo dos dias 24 e 25 deste mês, deu-nos a conhecer um pouco daquela que é uma das mais reconhecidas figuras da literatura portuguesa, Fernando Pessoa. A peça, encenada por Sílvia Brito e reproduzida pelos atores André Laires, António Jorge e Eduarda Pinto, teve lugar no auditório pequeno do Theatro Circo e contou com a presença de várias turmas do ensino secundário.
“There sleeps a poem in my mind”. As luzes apagam-se e é este o verso que dá início ao espetáculo. Recitado, desta vez, por uma voz feminina, pertence ao décimo poema da obra de Fernando Pessoa, “The Mad Fiddler”, uma coleção inédita de poemas ingleses, escrita entre 1910 e 1917. Durante breves minutos, a plateia, escura e silenciosa, concentra toda a sua a atenção nas palavras que se fazem ecoar pela sala.
A primeira personagem a pronunciar-se é Ofélia Queirós, única namorada conhecida de Fernando Pessoa. Sobe ao palco para declarar o seu amor pelo poeta, enunciando apaixonadamente algumas das suas características mais peculiares. No entanto, a vida amorosa é rapidamente deixada de lado e a peça acaba por ser sobretudo feita à volta da dos heterónimos de Fernando Pessoa.
Assim, as três personagens representam três dos seus heterónimos: Ricardo Reis, triste epicurista; Alberto Caeiro, guardador de rebanhos e poeta das sensações; e Álvaro de Campos, que experimenta a civilização e admira-a. À vez e cada um com as suas singularidades, desvendam-nos inquietudes, amarguras e opiniões enraivecidas, sempre à luz da poesia. Todas as personagens têm sucessivos monólogos elaborados que se completam, mas nunca se cruzam.
Relativamente ao cenário, não havia mais do que uma mesa, três cadeiras, um cofre e um cabide. O cabide foi talvez o objeto mais interessante em palco, uma vez que funcionava como meio de transformação das personagens. Por exemplo, Ofélia dirigia-se ao cabide, despia-se do seu vestido, pendurava-o e de seguida vestia um casaco comprido e o famoso chapéu preto. Estávamos agora na presença de Fernando Pessoa.
Os atores desempenharam os seus papéis com precisão e clareza, de maneira que o público conseguiu rapidamente perceber de quem se tratava. Declamaram os poemas com um discurso empolgante e chamativo, o que fez com que a plateia se mantivesse bastante concentrada nas palavras proferidas, mesmo em poemas mais extensos.
Cerca de sessenta pessoas foram transportadas para a poesia Pessoana do século XX. Maioritariamente alunos do secundário, acompanhados pelos seus professores, não hesitaram em aplaudir, satisfeitos, no final da peça. Um dos atores pergunta se alguém tem alguma questão a fazer e o público permanece em silêncio. No entanto, saem da sala a trocar opiniões sobre a peça, nomeadamente sobre quais as personagens representadas e porquê.
Em síntese, foi um espetáculo onde se destacou a grandeza do tema, a entrega dos atores que o interpretam e o público jovem que ouve atentamente cada poema como se fosse o próprio Pessoa a declamar.