A 22 de setembro de 2017, Macklemore lançou o álbum GEMINI, 12 anos após o seu primeiro álbum a solo The Language of My World. Este projeto marca o reinício da carreira a solo do rapper americano, após nove anos de colaboração com o produtor Ryan Lewis, com quem conseguiu grande sucesso com hits como “Thrift Shop”, “Can’t Hold Us” e “Same Love”. GEMINI inclui colaborações com vários artistas como Kesha, Skylar Grey, Lil Yachty, Offset, entre outros.

billboard.com

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Com GEMINI, Ben Haggerty (nome verdadeiro de Macklemore) tenta integrar-se no mundo atual do Hip-Hop, utilizando várias sonâncias e melodias de êxitos contemporâneos, enquanto tenta manter o mesmo nível de produção musical dos seus álbuns anteriores. Embora existam pontos em que Macklemore consegue demonstrar o seu potencial como rapper, a tentativa de ser aceite tanto na cultura Hip-Hop como na do Pop faz com que a consistência de GEMINI caia um pouco ao acaso e desaponte. Sente-se também a notável falta de Ryan Lewis como produtor e colaborador ao longo do projeto.

“Glorious” é uma das canções mais bem conseguidas neste álbum. A produção musical é impressionante; o piano e o coro combinam muito bem com a voz de Skylar Grey no refrão e, para além disso, a segunda canção do álbum demonstra também a capacidade que Macklemore tem de fazer música capaz de inspirar os seus ouvintes, através de linhas como:  “I made it through the darkest part of the night And now I see the sunrise Now I feel glorious, glorious I feel glorious, glorious”

“Ten Million”, “Good Old Days”, com Kesha, e “Over It”, com Donna Missal, são outras canções bem sucedidas a ter em conta, devido ao facto de serem as únicas ocasiões em que é perceptível uma vulnerabilidade e uma autenticidade nas rimas de Macklemore.

Porém, existe uma face de GEMINI que demonstra as fraquezas de Haggerty enquanto rapper. Como os êxitos passados do artista tinham uma influência mais evidente do Pop do que do Hip-Hop, Macklemore tenta, com este álbum, integrar-se nessas duas vias completamente diferentes de música simultaneamente, o que faz com que algumas das suas canções fiquem aquém das expectativas. Para além disso, o rapper utiliza vários sons, tons de voz e samples de outros artistas, o que não só não o faz destacar-se da multidão de músicos contemporâneos, como também faz as suas músicas soarem recicladas.

Tal é evidente em canções como “Marmalade”, “How to Play the Flute” e “Corner Store”. Em “Marmalade”, o artista utiliza quase o mesmo instrumental do hit “Broccoli”, de D.R.A.M. com Lil Yachty e adiciona, ainda, um auto-tune para a sua voz ficar mais parecida com a de Yachty. “How to Play the Flute” relembra, claramente, a canção “Mask Off”, de Future, devido ao som quase copiado da flauta dessa música; e “Corner Store” mais parece uma canção feita por Chance the Rapper.

commons.wikipedia.com

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Embora este álbum tenha os seus pontos fortes liricamente, Macklemore não tem nenhuma mensagem nem uma causa em concreto para apoiar ou representar, o que se traduz numa falta de sinceridade e credibilidade nas letras do rapper, que muitas vezes parece conter-se propositadamente de modo a ter mais hipóteses de ver uma destas canções ser o seu próximo hit na rádio.

Aliás, devido à falta da pressão que Ryan Lewis fazia para forçar o rapper a melhorar as suas rimas, a falta do produtor nota-se em várias letras mal conseguidas e sem sentido, que demonstram uma certa ingenuidade de Macklemore. Como, por exemplo em “Intentions”: “I wanna be a feminist But I’m still watching porno” e em “Firebreather: “Got a Guns N’ Roses T-shirt And never listened to the band Just being honest, I just thought that shit looked cool

Assim sendo, GEMINI é um álbum desapontante. Os ritmos reciclados e a falta de acutilância e profundidade, demonstram a tentativa falhada de Macklemore de se integrar tanto no universo Pop como no panorama de Hip-Hop. Considerar GEMINI um bom álbum é quase impossível, pois Macklemore claramente dá um passo atrás; não traz nada de novo e não existe quase nada de valor no projeto em si. Devido a estas razões e devido à falta clara de Ryan Lewis, GEMINI é um dos álbuns de Hip-Hop mais fracos de 2017.