“Em setembro de 1597, dezanove anos antes da sua morte, Cervantes é encarcerado no Cárcel Real de Sevilla, aquela em que, segundo declara no prólogo, engendra Don Quijote de La Mancha”. Foi este o mote para a peça “La Otra Mano de Cervantes”, ontem em exibição no Theatro Circo.
Numa peça integralmente em castelhano, os atores dirigidos por Pedro Álvarez-Ossorio presentearam o público bracarense com um musical repleto de realidade, humor, ironia e fantasia. Recorrendo a um jogo de luzes e a dois instrumentos de cordas, o espetador contemporâneo, é desde logo levado a visionar uma das figuras mais importantes da literatura espanhola.
A audiência era bastante diversificada. Uns ansiavam por um momento de escape, outros estavam apenas curiosos. Leandra, de 22 anos, confessou querer “perceber o que é real e ficção”. Cerca de sessenta pessoas foram transportadas para o século XVI. A energia dos atores levou a audiência a soltar gargalhadas.“Gostei muito”, conta Joana Palha no final do espetáculo, acrescentando que já conhecia o trabalho desta companhia.
Nem sempre as línguas são fronteiras inquebráveis, e “La Otra Mano de Cervantes” promovida pela Companhia de Teatro de Braga foi a prova disso. É um público receoso que entra na sala, mas é um público lúdico e ciente de quem foi afinal Cervantes que abandona a mesma.