Daniel Caesar, cantor e compositor de Toronto no Canadá, lança, aos 22 anos, o seu primeiro álbum, Freudian, que não se distancia da sua veia rica e clássica de R&B, presente em projetos anteriores, mas adiciona uma componente melodicamente enriquecedora: o gospel.

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Neu Roses (Transgressor’s Song)” é simplesmente a melhor música para representar o disco tanto liricamente como sonoramente. Acompanhado por um excelente coro, Daniel reconhece que errou com a amada, mas incansavelmente suplica pela presença da mesma. A meio da música o estado de espírito e a melodia transformam-se, drasticamente, num R&B puro, no qual o amado conforma-se com o seu destino.

De seguida vem “Loose” com um instrumental bastante monótono, assim como a voz do rapaz de 22 anos, que deixa brilhar a real protagonista de todo o álbum: a componente poética. No final da canção, somos ainda presenteados com uma curta versão da “We Find Love”; um piano, uma voz, um “tu não me amas mais”.

“We Find Love” é das minhas canções favoritas do álbum. O coro, puramente harmonioso, juntamente com os poderosos versos são capazes de nos envolver neste jogo de conquista e desistência amorosa. Com uma admirável transição escutamos agora “Blessed” que desperta uma súbita empatia, com o seu piano jazzy a proporcionar uma melodia puramente apaixonante.

Em Freudian, Daniel Caesar colabora com quatro artistas, todas elas mulheres. A forte presença de vozes de femininas no projeto, realça o tema da presença inebriante e apaixonante do sexo feminino. “Transform” é uma das colaborações do jovem canadiano. Com uma batida viciante acompanhada por uma energética guitarra, Charlotte Day Wilson e a sua encantadora voz “soul” só têm a acrescentar às agradáveis líricas musicais.

Um aspeto bastante percetível no projeto é a importância da coesão e das transições e “Hold Me Down” não escapa à regra. Desde a introdução ao fim, observa-se uma mistura de estilos aparentemente paradoxos, mas quando misturados pelos produtores Burnett e Evans aliados às palavras do romântico incurável Daniel, obtém-se um resultado fenomenal.

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A décima e última canção é a que dá nome ao projeto. “Freudian” traz de volta uma tendência popularizada no início dos anos 2000, o “secret track” que acaba por ser sempre uma ótima dádiva após uma experiência sonora tão agradável.

“Best Part” é outra das quatro colaborações presentes no álbum, desta vez com H.E.R.. A segunda faixa é puramente íntima e aconchegante. A melodia simplista aliada à química entre os dois artistas oferece-nos algo intemporal e facilmente escutável em qualquer estado emocional.

Em suma, estamos perante um primeiro álbum bastante satisfatório: letras fortes e metafóricas com uma sonoridade bastante interessante. No entanto, gostava que o Daniel explorasse mais as suas cordas vocais, pois em certas partes das músicas o seu costumeiro tom torna-se um pouco monótono. Ainda assim, Freudian é um álbum que deixa água na boca e um forte desejo por um próximo projeto, se possível com a colaboração de Frank Ocean.