Foi com alguns minutos de atraso que Jay-Jay Johanson deu início ao concerto da noite de sábado, no Theatro Circo. O músico sueco que já passou por Braga em 2015 voltou assim para celebrar os 20 anos do álbum “Whiskey”, em frente a mais uma casa cheia.
O público, maioritariamente de meia-idade, mostrou-se desde logo entusiasmado e com grandes expectativas. Quando entrámos na sala e olhámos para o palco, chamou-nos a atenção a simplicidade: uma bateria, um teclado e um piano constituíam o leque de instrumentos musicais.
A música escolhida para abrir o espetáculo foi “It Hurts me So”, faixa que abre também o álbum “Whiskey”, que celebra 20 anos. O ambiente, envolvido por um jogo de cores e de fumo, fazia sobressair as silhuetas. Num plano de fundo e ao longo de todo o concerto, projetou-se no ecrã da sala, por detrás dos músicos, uma série de vídeos em timelapse, gravados em ambientes tipicamente urbanos. Desde autoestradas iluminadas a telejornais e jantares de família, procuravam subtilmente transmitir uma ideia de passagem do tempo. Talvez fosse mesmo esse o objetivo de Johanson, tendo em conta que estava, efetivamente, a celebrar a passagem de vinte anos do lançamento do seu álbum de maior sucesso.
A jornada depois de “Whiskey”
Inspirado por artistas como Chet Baker, Jamie XX e Burial, o título do álbum de 2015, “Opium”, fala por si: “Eu quero que os meus ouvintes se tornem viciados na minha voz, nas minhas canções e na minha música”, diz o artista de 48 anos. Johanson abre o seu coração e responde aos temas da sua geração: amor, solidão, imaturidade.
Algumas músicas soam alarmantemente sérias, outras representam tranquilidade e paz. Linhas com poesia óbvia, composições infalíveis à la Johanson e o seu som característico fazem a mistura. O décimo álbum do músico é contado como a sequela do seu álbum anterior “Cockroach”. “Opium” marca com modéstia e precisão.
Lançado no passado dia 15 de Setembro, também o álbum “Bury the Hatchet” viu algumas das suas músicas exibidas no Theatro Circo, nomeadamente “Paranoid” e “You’ll Miss Me When I’m Gone”. “Paranoid” atrai-nos para o interior de um álbum cinematográfico onde os sentimentos (arrependimentos, especialmente) são omnipresentes. Seja com instrumentais ou solos de piano (“The Girl with the Sun in Her Eyes”), o artista nórdico leva-nos através de mil e um estados mentais.
Foi assim que Jay Jay Johanson presenteou o povo bracarense com quase duas horas de música eletrónica, numa casa praticamente lotada. No final, não hesitou em descer do palco para cumprimentar os espectadores mais próximos, tanto na plateia como nos balcões, como forma de agradecimento.
De um modo geral, foi um concerto completo, homogéneo, que deixa para trás um público atento, curioso e satisfeito, que fica, sem dúvida, a aguardar uma próxima visita a Estocolmo.