Este fim de semana decorreu a sétima edição do Festival Semibreve, em Braga, onde várias iniciativas culturais no ramo da música eletrónica puderam ser divulgadas. Espalhados por vários locais artísticos da cidade, como o Theatro Circo, Gnration, Casa Rolão e Capela Imaculada do Seminário Menor, artistas internacionais e nacionais deram o seu contributo para este estilo musical.

Na tarde de sábado, dia 28, coube a Steve Hauschildt encher a Capela Imaculada do Seminário Menor. O artista americano, que já havia pertencido ao grupo Emeralds, atuou a solo para uma capela cheia de devotos da música eletrónica.

Ana Maria Dinis/ComUM

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Através de computadores, sintetizadores e outras ferramentas, Steve Hauschildt conseguiu que todos os presentes escutassem a música ali produzida, apelando à reflexão. Já a escolha do local foi uma peça fundamental para a interpretação da música, tal como refere Marta Rodrigues, uma espectadora: “a capela é um sítio adequado, visto que não se trata de uma eletrónica agressiva. É uma música mais introspetiva. Fez-me refletir sobre algumas coisas, mostrando que não é preciso ser algo religioso para fazer refletir”.

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Ritmos eletrónicos que passam por várias gerações

A Casa Rolão recebeu, na tarde sábado, a compositora argentina Beatriz Ferreyra para uma conversa informal sobre a música eletrónica. O jardim da Casa, que coincide com o da livraria Centésima Página, encheu-se para ouvir a artista falar sobre o seu percurso de vida e como vê este estilo no mundo atual.

O amor pela música começou cedo, quando, em pequena, aprendeu a tocar piano. Mais tarde, a compositora mudou-se para a Europa, onde pôde aprofundar os seus estudos e lecionar no Conservatório Superior Nacional de Paris. Atualmente, e já com 80 anos, Beatriz Ferreyra confessou que “a música não tem cores, mas todos vimos cores nela”. Além disto, sobre o seu método de composição, a artista não hesitou: “Para mim, os olhos estão fechados quando componho. Sinto algo e aqui vai”.

Ana Maria Dinis/ComUM

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Já no final, numa conversa que se caracterizou pela proximidade, Beatriz Ferreyra, questionada sobre o grau de dificuldade na criação deste tipo de música, respondeu que “quando misturamos três ou quatro coisas, obtemos algo estranho. Temos de misturar algo interessante”. Para isto, a artista argentina comparou  a música ao ser humano: “A música também é um organismo”.

Ana Maria Dinis/ComUM

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Entretanto, na tarde de hoje, domingo, voltaram a ocupar-se os jardins da Casa Rolão, uns sentados em cadeiras, outros sentados na relva. A tertúlia com o neozelandês Oliver Peryman (Fis) e o alemão Rabih El Beaini, ambos muito mais novos que Beatriz Ferreyra, que já caminha para os 81 anos de vida, teve como tema central a vertente da performance musical ao vivo.

Beaini comentou que gosta de escolher o material a utilizar, porque no dia-a-dia “vai obtendo um conhecimento” dos seus instrumentos “para construir uma estrutura intuitiva nos concertos”. O músico afirmou também que gosta de preparar o seu próprio setting, sendo que “tudo é improvisado”, mas que se adapta com antecedência caso use elementos visuais fora do vulgar.

Ana Maria Dinis/ComUM

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Fis argumenta que nos seus concertos “existe uma conexão entre os sons e as cores”, “havendo momentos em que o som e a imagem se fundem” de modo a criar uma experiência única. Contudo, não se importa que quem ouve a sua música não entre em contacto com a vertente visual, pois “ver alguém a fechar os olhos e simplesmente receber o que vem das colunas é uma experiência positiva”.

Fis afirma que, nos seus dias de jovem na Nova Zelândia, o drum & bass conseguia ser “repulsivo e violento”, por isso há uma diferença entre o público de então e aquele que encontra hoje nos seus concertos. O músico assume que “existe um diálogo”, em que pode compreender o que as pessoas estão a sentir durante um concerto “através de sorrisos” e outras coisas do género.

Beaini defende que consegue por vezes ler as reações das pessoas, mas que ele próprio se apercebe quando algo não está a funcionar ou quando o concerto corre bem em função do seu gozo pessoal. “Deves ser responsável pela tua performance”, afirma. “Se falares com a audiência em busca de aceitação, ou se os espevitares através de expressões como “Say Yeah”, não estás a dar-lhes a tua própria performance”.

 

Texto: Gabriel Ribeiro e Diogo Sousa

Fotografias: Ana Maria Dinis