Nick Lyon, conceituado director de filmes de acção, de entre os quais o conhecido “Rise of The Zombies”, lançou este verão a sua primeira longa-metragem baseada em factos históricos: “Operation: Dunkirk”. A história foca-se num episódio específico da Segunda Guerra Mundial, seguindo um grupo de soldados deixados para trás com a missão de resgatar um cientista, que poderá ter consigo informação vital para o desfecho da guerra.

Se existirem duas perspectivas através das quais eu possa avaliar este filme, uma será certamente mais optimista do que a outra, mas nenhuma delas será integralmente positiva. Se quiser ver “Operation: Dunkirk” com a benevolência de se tratar de um filme de acção, posso salientar o esforço na criação de momentos de ansiedade para o espectador, em que, no ecrã, víamos a vida humana balançar constantemente e ser empurrada para a morte em pleno teatro de guerra. No entanto, até aqui teria de admitir que estes momentos foram tão bem posicionados que se tornaram previsíveis. E, um dos elementos essenciais para a construção de um filme de acção, a credibilidade dos efeitos especiais, ficou a dever muito à credibilidade.

OPERATION DUNKIRK 1

Agora se atendermos ao facto de o filme pretender retractar uma época histórica, não posso deixar de questionar se de facto existiu mesmo um historiador a acompanhar a realização.

Para além dos clichés existentes nos discursos filosóficos das personagens e na constante tentativa de realçar a figura do herói sacrificado, o filme peca pelos constantes erros de contextualização: os capacetes usados pelos soldados não pertencem à época retratada e os uniformes lacam em autenticidade; vários comportamentos das personagens, que estão a representar militares britânicos e alemães, seriam inconcebíveis para aquela época e, os americanos, que só entraram na Segunda Grande Guerra em 1941, são continuamente mencionados como estando presentes em Dunkirk, que ocorreu em 1940.

Se conseguirmos ultrapassar a grave falta de coerência histórica, falta ao filme uma linha de acção mais consistente. Aspectos que a poderiam ter alimentado não foram bem realçados, como a (muito súbita e apressada) atração entre um dos soldado e a mulher portadora da informação que eles tentavam proteger. Aspetos da personalidade desta mulher podiam também ter sido desenvolvidos a fim de criar maior proximidade e empatia a uma figura feminina, inicialmente bem integrada num teatro de guerra tipicamente masculino, mas depois desperdiçada enquanto presença. No geral, também o elenco foi abaixo de satisfatório, com os seus sotaques ora exagerados, ora magicamente desaparecidos.

OPERATION DUNKIRK

Consigo ver em “Operation: Dunkirk” a intenção de realçar o papel da esperança na vida humana e a missão de morrer por um propósito significativo, mas a tremenda e descarada falta de veracidade histórica não me deixam dizer que vale a pena como acompanhamento de pipocas. Apesar de haver quem já o tenha feito com muita mestria, arrisco-me a dizer que Nick Lyon deve restringir-se ao campo da ficção e à criação de zombies e não voltar a tentar aventurar-se na reconstrução da História, pelo menos, por favor, não na Segunda Guerra Mundial.