“O Código Deontológico dos Jornalistas tem de estar presente desde a primeira fotografia”. Adriano Miranda, fotojornalista do jornal Público e autor de fotografias que se internacionalizaram na cobertura dos incêndios de Pedrógão e no Pinhal de Leiria , esteve esta quarta-feira na Universidade do Minho e partilhou algumas histórias por detrás da lente.
A palestra “Fogo Cruzado: incêndios, gestão do território e responsabilidade social”, realizada no Instituto de Ciências Sociais (ICS), juntou investigadores, jornalistas e elementos da proteção civil para debater o caso dos incêndios deste ano – que resultaram numa área ardida de 442,418km – e, ao mesmo tempo, a gestão de território e a nova Licenciatura de Proteção Civil.
Em 21 anos de profissão, o fotojornalista do Público diz nunca ter assistido “a nada como Pedrógão e os outros incêndios” e que ainda acorda “a pensar naquele cenário e como estão aquelas pessoas”. Perante aquilo que viu, através da lente e sem ela, admite que o papel de um jornalista e fotojornalista é o de informar, mas ao mesmo tempo, é preciso “saber medir até que ponto se pode chegar”. Adriano Miranda relembra que se está a fotografar pessoas e que “há um rosto por detrás da fotografia que não tem voz”. “É preciso selecionar as fotografias que publicamos”, acrescenta.
A fotografia do senhor Francisco, como lhe chama, tornou-se um símbolo do incêndio de Pedrógão Grande. “O senhor recebeu imensas chamadas de pessoas a quererem ajudá-lo”, conta. A seu ver, o papel de um fotojornalista é “contribuir para a sociedade” e se aquela fotografia conseguiu despertar consciências e ajudar outras pessoas “tem o papel cumprido”.
Adriano Miranda foi o segundo fotojornalista a chegar a Pedrógão Grande. “Eu estive perante todos aqueles mortos naquela estrada nacional”. Em declarações ao ComUM, o fotojornalista admite que “poderia tê-los fotografado”, mas recusou-se. “Na minha maneira de ver, gostaria de o ter feito quando aquelas pessoas estavam vivas e não da maneira que estavam”, afirmou. Em causa estava “a dignidade” e as ideologias defendidas no Código Deontológico dos Jornalistas, que para o fotógrafo é importante desde o momento em que se chega ao local e “se levanta a máquina”.
O jornalista do Público não nega que houve “excessos” durante a cobertura mediática, mas “não havia necessidade [de partilhar fotografias de pessoas carbonizadas]”. Não faz de nós melhores profissionais”. “Podia ter um trabalho muito mais pesado do que o que tenho, mas para mim não fazia sentido”, acrescentou o fotojornalista.
Começou a profissão “por acidente”. “Carvão de Aço” e “Projecto Troika” são alguns exemplos de trabalhos desenvolvidos por Adriano Miranda, sempre de carácter social. Em declarações ao ComUM, o fotojornalista afirma que não se vê a “fotografar para o umbigo” e, por isso, todos os seus trabalhos pretendem “mostrar um problema ou uma causa”. “A minha maneira de ajudar é através da fotografia, que é o que eu sei fazer melhor”, conta.
Sara Daniela e Sara Viana