Terminou ontem a décima terceira edição do Festival para Gente Sentada. Numa noite em que o Theatro Circo dividiu espetadores, foi no gnration onde mais se sentiu o amor, com os portugueses Luís Severo e Moullinex a renderem o público.

Mariana Prata/ComUM

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Luís Severo apresentou-se sozinho, com um piano de parede e uma guitarra acústica, e tocou, em modo intimista, para uma blackbox cheia. O músico lisboeta sentou-se ao piano e abriu o seu espetáculo com “Meu Amor”. As músicas transitavam de uma para outra sem momentos de silêncio. Quando o público notava a mudança de canção soltavam-se, de imediato, largos aplausos.

Ao fim da quarta música do alinhamento, “Planície (tudo igual)”, uma onda de palmas fez Luís levantar-se da cadeira ao piano e agradecer com uma vénia. Retomou o concerto com “Cabeça de Vento” e voltou a tocar ininterruptamente, ao piano, canções como “Lamento” e “Cara d’Anjo”. O público rendeu-se por completo à versão intimista que Luís apresentou na noite do gnration. As primeiras filas da Blackbox sentaram-se, como sugere o nome do festival, para ouvir o “amor de Severo”.

“Escola” foi a última canção do músico, antes de trocar o piano pela guitarra. “Tragam uma fita ao homem”, repara um elemento do público. A troca de instrumentos foi o momento de maior interação entre plateia e palco. “Espero que estejam a gostar. Já está a acabar, já é tarde”, informa Severo. “Ainda é cedo”, respondem no público, associando as horas à música do artista. “Eu ia acabar com essa”, revelou de antemão Luís com um sorriso.

Mas antes de “Ainda é cedo”, vieram outras três canções. O músico, com apenas um microfone direcionado, ao mesmo tempo, para a voz e guitarra, tocou “Amor e Verdade”, “Abençoar e “Boa Companhia”. A plateia, rendida ao cantautor, ouvia atentamente cada canção e alguns iam cantando, timidamente, com Luís.

“Ainda é cedo” chegou demasiado cedo para a Blackbox. No momento da despedida, Severo tocou entre amigos. “Desliga tudo”, disse o artista renegando as luzes e o microfone. Despiu o som da sua guitarra e da sua voz de amplificações e o público ouviu atentamente as suas melodias. No refrão, um coro de uivos “Aúuu Aúuu” ecoou pela Blackbox, iluminada apenas por uma leve luz azul. Quando a canção terminou e o músico se retirou do palco, fortes aplausos e assobios soaram, durante minutos, pela sala.

Moullinex fechou a noite na sala do gnration. “Estamos cá para festejar o amor”, disse o frontman do coletivo liderado por Luís Clara Gomes. O músico veio apresentar o seu álbum mais recente “Hypersex”, editado no mês passado.

A energia das canções e a presença frenética em palco da banda levaram a sala escura à loucura. A Blackbox totalmente preenchida não parou de dançar ao som de canções como “Morse Code”, “Carnaval”, “The Huggers” e “Work it Out”.  Os singles “Love, Love, Love” e “Take my Pain Away” chegaram já no encore do concerto.

Mariana Prata/ComUM

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Mas antes do gnration, o Theatro Circo recebeu a cabeça de cartaz da segunda noite, Julien Baker. A cantautora norte-americana abriu a noite com o single “Appointments”, do seu segundo álbum “Turn Out the Lights”, editado no passado mês de outubro. Assim como Luís Severo, no gnration, também a artista atuou sozinha com um piano e uma guitarra. As canções de Julien foram muito bem-recebidas pela plateia que, apesar de bem preenchida, estava muito mais despida que na noite anterior, em Perfume Genius.

Com “Funeral Pyre” e “Sour Breath” terminadas, Julien aproveitou a paragem para se dirigir ao público pela primeira vez. Pediu para acenderam a luz da plateia para conhecer todos os presentes. Ouviu-se “Julien, amo-te” de um elemento do público, ao que a artista respondeu muito bem-disposta: “Tenho a certeza que passaríamos um belo momento se nos conhecêssemos.” Mas completou num estado mais em sincronia com a sua música: “Amor é uma palavra muito forte.”

O alinhamento contou ainda com “Everybody Does”, “Shadowpunching” e “Televangelist”. “Esta é sobre cometer erros e estar grato pelos erros que cometemos” explicou Julien antes de começar a tocar “Rejoice”. À medida que o concerto chegava ao fim algumas pessoas abandonavam a sala principal do Theatro Circo. A cantautora agradeceu a presença de todos os que ficaram e acabou com “Turn out the Light” e “Something”. Quando terminou o concerto, quem ficou pelo Theatro Circo agradeceu com fortes aplausos. Era notória a divisão que o concerto tinha causado no público. Enquanto metade da plateia aplaudiu fortemente, e até de pé, o concerto de Julien, a outra metade preferiu abandonar a sala e dirigir-se, o mais rápido possível, para o gnration.

Antes do concerto da norte-americana, os Capitão Fausto apresentaram, no Theatro Circo, o filme-concerto do documentário “Pontas Soltas”. Tocaram o terceiro álbum intercalado com cenas do documentário realizado por Ricardo Oliveira e narrado por Catarina Wallenstein, irmã do vocalista da banda. Para o casal, Maria João Silva e Luís Pereira, o formato que a banda apresentou foi diferente. “Achei interessante por causa do documentário”, referiu Maria João. “A música aqui ficou em segundo plano”, completou Luís.

De tarde, os Ermo abriram a segunda noite do festival no centro da cidade. A banda bracarense encheu o largo em frente à Brasileira para tocar o seu álbum “Lo-Fi Moda” na totalidade.