O antigo frontman dos Oasis, Liam Gallagher, afirma ser o último de uma raça moribunda: a verdadeira estrela do rock. Ninguém precisa de ser relembrado do passado atribulado da banda de Manchester. Precisam, sim, de ouvir a primeira coleção a solo de músicas de Gallagher, que prepara outra investida no rock ‘n’ roll. Em As You Were, Liam prova que ainda tem uma das vozes mais distinguíveis da música contemporânea.
Enquanto os anos 60 e 70 permanecem, como sempre, pontos de referência, a psicadélica a que Liam se entregava no tempo dos Beady Eye (banda formada depois da rutura de Oasis) está, felizmente, ausente (deste segundo álbum em nome próprio). Em vez disso, a produção e a composição têm calor e clareza. A produção deste disco é impressionante. Gallagher trabalhou com vários escritores e produtores diferentes, sendo o principal Greg Kurstin, um nome que vem surgindo muito, ultimamente, quando se trata da produção de grandes álbuns de rock, como foi o caso do novo álbum dos Foo Fighters, Concrete and Gold.
Com “Wall of Glass” a abrir, temos uma melodia produzida por guitarras rasgadas, baterias e harmónica, a contrastar com vocais quase relaxados. Uma música cativante que eleva desde logo a expectativa para o que se segue.
“Paper Crown” é o primeiro vislumbre da inspiração dos Beatles. Os vocais duplos contam uma história de fragilidade e honestidade. Não é a mais forte, liricamente, mas é uma melodia delicada e reflexiva. Também a “I’ve All I Need”, um retorno relaxado ao rock mais tradicional, se destaca como outro tributo à banda de McCartney, com as palavras “tomorrow never knows“.
“When I’m In Need” é a única canção que remete para qualquer tipo de demonstração de amor. É também a primeira aparição de um personagem feminino na letra. Deve dizer-se que o romance está longe do topo da lista quando se trata de inspiração para este álbum, mas, à medida que esta música floresce, talvez se revele um lado diferente da personalidade turbulenta de quem a canta.
“For What It’s Worth”, revela-se mais uma faixa honesta e arrepiante, que coloca Liam numa posição vulnerável às próprias palavras. “Bold” destaca-se pela semelhança a sons de Oasis e transporta-nos, agradavelmente, para os anos 90. Estas comparações são inevitáveis ao examinar o trabalho a solo de Gallagher e por uma boa razão. “Yes I know, I’ve been bold. Didn’t do what I was told” História da vida dele, mas a entrega vocal aqui é perfeita.
A nona faixa, “Chinatown” também não deixa de fazer referência à famosa frase dos Beatles, com “Happiness is still a warm gun.” De todo o álbum, talvez esta seja a minha preferida: Uma reflexão sobre o que significa ser uma alma deambulante num momento incerto.
Liam está de volta – uma máquina de rock ‘n’ roll, crua e indomável. As You Were é um álbum diversificado, com músicas de rock que caminham lado a lado com baladas sinceras e até mesmo uma pitada de country em “You Better Run”.
Este projeto vem cerca de um mês e meio antes do lançamento do álbum Who built the moon, da banda de Noel Gallagher (High Flying Birds), irmão mais velho de Liam e deve garantir que a infame “Rivalidade Wibbling” prevaleça. Mas nem por isso Liam deixa de nos trazer um álbum gloriosamente desafiador, bombástico e cativante, temperado com produção inteligente e uma dose certa de retorno aos seus heróis.
7/10
2017
As You Were
Warner Bros.