Nuno Reis foi o único estudante a apresentar-se como candidato à presidência da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), algo que assume como “responsabilidade acrescida”. Afirma ainda que a sua candidatura pretende “contribuir para que a abstenção não tenha um resultado significativo dentro da academia”. A eleição dos corpos gerentes da AAUM acontece no próximo dia 5 de Dezembro.

Aluno do mestrado integrado em Engenharia e Gestão Industrial e cujo percurso académico se iniciou no campus de Azurém, diz ter “uma visão diferente sobre aquilo que é a academia”. Em entrevista ao ComUM, o candidato assume o projeto da lista A como “um projeto de continuidade”, não só do mandato de Bruno Alcaide, mas de tudo o “que tem sido feito pelas sucessivas direções da AAUM”.

O candidato da lista A vê a Associação Académica Minhota como uma “estrutura sólida e muito robusta”, que “tem vindo a representar aquilo que são os interesses dos estudantes”. Assegura que um dos principais focos da sua lista é debater a questão do financiamento ao ensino superior. Nuno Reis afirma que “é preciso perceber qual a dependência das universidades às propinas” de modo a reduzir este valor que, na sua opinião, pode ser “asfixiante para os estudantes”. A questão do alojamento é, para o candidato, um problema a resolver numa fase em que “as residências universitárias têm um índice de capacidade inferior a 2%”. Nuno Reis analisa ainda a escolha do novo reitor da UMinho, com o qual procurará ter uma “relação de cooperação e proximidade”.

“Projetar a Academia”, é o lema da lista A, que vê a Associação Académica “como um projeto inacabado” e em que é necessário haver modificações. O manifesto eleitoral avança, este ano, com mais um departamento, “ Gestão de associados e Marketing”, que segundo o candidato vem “preencher algumas dificuldades nas relações com os parceiros e com a sociedade”.

“Os nossos estatutos precisam de uma revisão urgente”


ComUM: A lista A fala sobre “uma reflexão em torno dos custos associados da permanência no Ensino Superior”, nomeadamente no que diz respeito ao pagamento de taxas e emolumentos. Como pretendem fazer para que estas taxas deixem de ser cobradas aos estudantes?

Nuno Reis: Um dos grandes objetivos do mandato é fazer esta reflexão em torno do custo de vida dos estudantes da Universidade do Minho. Esta reflexão já foi feita anteriormente, penso que no ano de 2008 ou 2009, no entanto já passaram 8/9 anos. Estamos a passar por um momento em que a Universidade define como objetivo estratégico até 2025 ter mais de 25 mil alunos. As várias unidades de serviços acabam por estar bastante cheias, isto é, os índices de utilização acabam por estar muito altos. Isso vê-se nas residências, que têm índices de utilização muito elevados e vê-se pela escassez da oferta de alojamento em ambas as cidades. Aquilo que nós pretendemos fazer, e isso irá incluir aquilo que é a reflexão sobre as propinas e sobre as taxas de emolumentos, é trabalhar no sentido de perceber qual é o real impacto deste valor na vida dos estudantes, quanto é que isto significa para um estudante no dia a dia e de que forma é que poderão ser justificadas essas taxas cobradas. Aquilo que nós temos vindo a observar é que estas taxas e emolumentos não correspondem em termos legais a um enquadramento que esteja bem regido por normas jurídicas. Isto é, não existe na lei, algo que defina quais os tetos máximos para taxas e emolumentos, e isso tem sido um debate do próprio movimento associativo, ao longo dos últimos anos. Temos tentado perceber de que forma é que são justificadas estas taxas e aquilo que pretendemos dizer é que de facto não faz sentido serem cobradas taxas, tendo em conta que já existe uma propina que deveria cobrir todo esse valor. Mais do que isso, não faz sentido serem cobradas taxas que são justificadas como custos administrativos numa era digital em que tudo pode ser enviado por e-mail. Não faz sentido estarmos a cobrar taxas por impressão de um documento que é essencial para a vida de um estudante e para o seu futuro profissional.

ComUM: Assumem que há necessidade de uma avaliação da aplicação do regime fundacional na UMinho. Qual é a sua posição em relação a este modelo de gestão das universidades portuguesas? Considera que a mudança foi benéfica para a Universidade do Minho?

Nuno Reis: Relativamente ao regime fundacional, a nossa posição baseia-se naquilo que já temos vindo a dizer nos diversos locais onde a associação académica tem vindo a ser representada. O regime fundacional parte muito daquilo que foi a criação do RJIES (Regimento Jurídico para as Instituições do Ensino Superior). que foi criado no sentido de dar uma maior autonomia e democracia às instituições de ensino superior. Aquilo que nós temos vindo a reivindicar é que o RJIES necessita de ser avaliado, uma avaliação que ainda não foi feita.  O RJIES foi criado e posto em prática em 2007, e a sua primeira revisão deveria ter sido feita em 2012, o que não aconteceu. Não tendo sido feita essa avaliação, é muito difícil perceber se de facto os objetivos a que o RJIES se propunha tiveram efeitos práticos na vida dos estudantes. A verdade é que em termos democráticos é fácil de perceber que essa implementação não foi de todo justa para os estudantes, sendo que a participação dos estudantes acabou por ser reduzida.

“É cada vez mais é importante para nós ter um espaço mais próximo da universidade”
  

ComUM: A criação de um passe social nos transportes da AAUM tem vindo a ser falada há vários anos, tal como enunciam no programa da lista A. Afirmam também não se comprometerem com o avanço desta medida. Quais os impedimentos para o avanço deste processo?

Nuno Reis: Ao nível daquilo que é o passe social e o passe de transportes, existem várias questões que têm impossibilitado, de alguma forma, a sua implementação. Em primeiro lugar é preciso entender que o serviço que a associação académica presta aos alunos não é um serviço que está previsto naquilo que são as definições da lei para os transportes intercidades. E por isso, o passe social que existe na lei e que está previsto por ela não consegue ser introduzido no espaço e no desconto que a associação académica oferece. Ainda assim, a associação académica tem conseguido, ao longo dos últimos anos, combater esse valor, muitas vezes a custo próprio.  Apesar de terem sido subidos alguns preços ao nível da ação social como recentemente aconteceu com as das senhas da cantina, a associação académica tem feito um esforço para continuar a manter esse valor e para continuar a melhorar este serviço. Ao nível do passe social, aquilo que estamos a tentar fazer, é voltar a pegar num sistema digital, algo que partirá do novo departamento de gestão de associados e marketing. A ideia é criar um passe digital para os transporte e trabalhar de forma a que o cartão de sócio não seja apenas um cartão de sócio para o estudante mas um cartão identitário e que possibilite fazer compras nos serviços da associação académica. 

ComUM: A lista A fala em fortes problemas no alojamento para os alunos da UMinho. Como encaram esta problemática?

Nuno Reis: A verdade é que neste momento existem problemas tanto em Braga como em Guimarães, um pouco por razões semelhantes, mas simultaneamente com algumas questões um bocadinho diferentes. Posso começar primeiro por Braga, que tem sido uma cidade que tem crescido com o tecido económico envolvente à cidade e isso tem-se visto ao longo dos últimos anos. O crescimento e o próprio interesse de várias empresas a nível europeu e mundial a fixarem-se em Braga tem aumentado o que  faz com que mais população se comece a fixar na cidade e que acabe por levar o alojamento, que anteriormente teria sido para estudantes. Para além disso sabemos que, recentemente houve uma crise financeira que afetou muito o setor construtivo, que não acompanhou o avanço da universidade e o seu crescimento ao longo dos últimos anos. Quanto à situação de Guimarães, aquilo que até já se tem vindo a registar é que há alunos que estudam em Guimarães, que são alunos deslocados, que nem sequer são de Braga ou de cidades envolventes, alguns deles até de cidades bastante longe, mas que tem optado por vir viver para Braga porque as rendas são significativamente mais baixas, o que também tem afetado a questão do alojamento em Braga. O que acontece é que a cidade de Guimarães para além desta questão do tecido económico envolvente também tem tido uma componente turística muito forte, sobretudo no centro histórico que tem alguma proximidade à universidade É necessário trazer este assunto do alojamento para a agenda da AAUM. Eu próprio já o fiz na reunião de apresentação do reitor eleito da Universidade do Minho, questionei-o sobre esta questão do alojamento. Será uma questão que vamos colocar não só à reitoria, mas aos próprios organismos de tutela do estado. Queremos perceber como é que estes órgãos podem aumentar ou incentivar a construção de novas residências ou tentar criar mecanismos legais para que exista uma maior facilidade em alojar os alunos junto à universidade.  

ComUM: Ontem o professor Rui Vieira de Castro tomou posse como novo reitor da Universidade do Minho. Como vê a eleição deste professor? Acha que reúne as condições necessárias para guiar da melhor forma os destinos da UMinho?

Nuno Reis: Relativamente ao professor Rui Vieira de Castro tive a oportunidade de me manifestar na sua eleição, no conselho geral, onde sou representante dos alunos. Obviamente que existem algumas preocupações que devem ser asseguradas nomeadamente a questão do alojamento, como já falamos, e a questão da condição social, mas que têm sido trabalhadas de ano para ano. Este novo reitor vem um pouco na linha de continuidade daquilo que tem sido um trabalho feito pela universidade. Um trabalho de crescimento e de alguma sustentabilidade a vários níveis. Certamente que a relação que a associação académica deve ter com o reitor deverá ser uma relação de cooperação e de proximidade sobretudo nos assuntos que afetam diretamente os estudantes.

 Texto: Henrique Ferreira e Filipa Novais

Imagem e edição: Ana Maria Dinis e Sofia Summaville