Reitor eleito da UMinho, Rui Vieira de Castro defende uma racionalização dos espaços laboratoriais. Os "recursos limitados" da universidade devem levar a avaliar o uso destes espaços de investigação.
Rui Vieira de Castro é o novo reitor da Universidade do Minho (UM), com tomada de posse marcada para o dia 28 de novembro. O novo reitor assume a existência de limitações na utilização dos espaços disponíveis, um alerta para a “tomada de consciência” e avaliação da gestão realizada. Em entrevista ao ComUM, mostra que a área de Ciências Socais e Humanas de que provém significa “assumir um determinado quadro de referências de como se lê a universidade e como se lê o mundo”.
O reitor eleito afirma no programa de ação pretender uma racionalização dos espaços laboratoriais, contudo explica que essa é uma intenção que procura vincular uma preocupação. Quando abordado sobre se tal medida implicaria o aumento do número de investigadores a trabalhar no mesmo espaço, admite que a UM tem “carência de espaços para certas áreas de investigação”.
O facto de a universidade “ter recursos limitados” deve conduzir a uma “avaliação daquilo que são os espaços e o modo como estão a ser utilizados para a investigação realizada”. Neste sentido, Vieira de Castro assume como preocupação, em permanência, a existência “de projetos disponíveis que permitam ocorrer imediatamente a qualquer linha de financiamento que se abra nesta área.”
“Imagem de referência” na educação e investigação é para “reforçar”
Em tempos aluno da academia minhota e vice-reitor para educação – até momentos antes das eleições para o Conselho Geral -, o reitor eleito pretende exercer uma linha de atuação para a UMinho “no seu conjunto”, dirigida a todos os que interagem com a instituição.
Para Rui Vieira de Castro reforçar a imagem de “referência no plano de educação e investigação” da UM é “sem dúvida, um desafio que a universidade não pode evitar”, numa altura em que as universidades estão “continuamente a ser desafiadas para fazerem mais e melhor”. Deve fazer-se “mais investigação e melhor investigação”, acrescenta.
Nesta linha de atuação, mostra-se empenhado em criar “uma plataforma que racionalize o esforço que individualmente cada unidade está a fazer”. A manutenção de uma revista científica única para toda a universidade seria para Vieira de Castro um ”grande desafio”.
Questionado sobre o programa de ação na área da educação, com o lançamento de um programa de cursos breves orientados para o desenvolvimento de competências profissionais avançadas, Vieira de Castro aponta como “missão essencial da universidade proporcionar uma educação superior de qualidade”, sublinhando que a Universidade do Minho a tem “historicamente assumido”, através da procura de nichos de formação em áreas socialmente e economicamente procurada. “Cursos nos quais a Universidade do Minho foi pioneira, não existiam em Portugal até aquele momento”, realça.
Reconhece também que ao nível da pós-graduação a instituição oferece um “leque diversificado de cursos que visam capacitar um nível mais elevado de profissionais que agora estão no terreno”, sendo inclusive uma área que, para o reitor eleito, merece “uma exploração mais continuada e mais sistemática por parte da universidade, convocando para esse efeito todas as suas unidades orgânicas”.
Avança ainda com o funcionamento da Licenciatura em Artes Visuais, que será um dos novos cursos da Universidade do Minho, realçando a capacidade que a instituição tem encontrado para, “em permanência, ir explorando as formações típicas e, em contínuo, reinventar o seu próprio portefólio de cursos”.
Assegurar aos estudantes competências transversais às técnicas próprias de cada curso, com a finalidade de conseguirem aceder “de forma mais efetiva aos mercados de trabalho e de desenvolverem as suas carreiras profissionais de modo mais conseguido”, torna-se importante para o desenvolvimento de competências interpessoais. Este foi o objetivo do lançamento da ‘Opção UMinho’, no qual Rui Vieira de Castro esteve envolvido.
O professor catedrático afirma tratar-se da altura de avaliar a experiência, “perceber o que correu bem e o que é que correu mal e, sobretudo, perceber de que modo nós podemos aprofundar esta ideia”. Sustenta esta perspetiva com o facto de hoje nenhuma instituição de ensino superior de referência “abdicar de assegurar nas suas formações uma atenção a outras dimensões de formação, que não apenas aquelas que decorrem das competências mais técnicas associadas ao ensino”.
Da criação de uma escola doutoral à reformulação da avaliação dos docentes
Criar um plataforma que integra todos aqueles que pretendam adquirir o grau de doutor é um dos objetivos de Vieira de Castro. “Há um número significativo de pessoas que fazem uma formação doutoral com outros objetivos que não a sua inserção nos sistemas de investigação do ensino superior”. Para o docente as intenções principais da obtenção do doutoramento estão a ser alteradas progressivamente, sendo que no passado a formação doutoral era mais “orientada para o acolhimento de pessoas que queriam ser professores no ensino superior, ou que queriam ser investigadores”.
A escola doutoral “não pretende a criação de uma nova unidade orgânica de ensino ou investigação”, afirma o reitor eleito, que vê o projeto como uma “resposta complexa” para os novos desafios apresentados a quem pretende obter um grau de estudos mais avançado. O crescente interesse das empresas em recrutar pessoas com o grau de doutor atenua os estereótipos do passado e “vem colocar novos desafios às instituições que proporcionam esta formação”. Para Rui Vieira de Castro, “esta escola deve ser um lugar onde são proporcionadas experiências de formação de natureza transversal”. “É altura de a Universidade do Minho ponderar também esta nova forma de organização que é algo que, evidentemente, vai carecer do envolvimento ativo das unidades orgânicas”, conclui.
Questionado em relação à avaliação dos docentes da UM, afirmou que “por si só um reitor não consegue responder à questão”, uma vez que a avaliação dos docentes encontra-se dependente de um regulamento de avaliação de desempenho ao nível de toda a universidade”
“Guimarães e Braga são um pólo de dinamização cultural expressivo”
Admitindo as lacunas existentes em termos culturais no território em que a universidade está inserido, mas sem deixar de fazer referência à dinamização cultural de Guimarães e Braga, Vieira de Castro procura “capacitar e potenciar” a atividade cultural da UM “em função de uma espécie de contratos,” que estão por definir, “para que haja uma mútua e acrescida responsabilização das partes”.
O novo reitor recorre ao exemplo da rede de Casas do Conhecimento, um conjunto de instalações que, em articulação com câmaras municipais, estão espalhados por vários locais do país. “Eu estou muito empenhado em que se tornem num elemento muito poderoso de afirmação cultural da universidade”, sustenta.
Reforçar a internacionalização da instituição é uma vontade expressa para Vieira de Castro, que avalia a UM como “dotada de uma grande capacidade de estudantes estrangeiros. Seja estudantes que vêm cá para fazer os graus, seja os típicos estudantes de mobilidade, e aí o Erasmus desempenha um papel particularmente importante”, sublinha.
Entretanto, admite que a mobilidade da Universidade do Minho se encontra “aquém do desejável”, sendo necessário “encontrar novas formas de induzir uma participação mais ativa nestes programas”.
Leia aqui a segunda parte da Grande Entrevista a Rui Vieira de Castro
Texto e entrevista: Sara Daniela e Henrique Ferreira
Imagem e edição: João Pedro Quesado