4eva Is A Mighty Long Time, é uma demonstração de tudo aquilo que Big K.R.I.T. é como artista e como pessoa, de modo amplificado, expandido e maduro. Sabendo jogar com todas as suas qualidades, o artista demonstra as suas duas faces, tanto a de rapper e como a de homem, dando ao ouvinte um álbum puro, consistente e inspirador.
Quase três anos depois do lançamento do seu último projeto Cadillactica, Big K.R.I.T. quebra o silêncio e lança o seu terceiro álbum 4eva Is A Mighty Long Time, oferecendo ao ouvinte quase uma hora e meia de conteúdo. O artista focou-se extremamente neste projeto e oferece verdadeiramente dois bons álbuns num só. Devido a essa preocupação de criar um corpo de trabalho consistente e de qualidade, Big K.R.I.T. não só produziu uma boa parte de 4eva Is A Mighty Long Time, como também colaborou com muitos outros produtores e artistas, como Jill Scott, T.I., Terrace Martin, Cee-Lo Green, Will Power, entre outros.
Sendo proveniente do Mississipi, nota-se uma influência enorme da música “sulista”, como o gospel, soul e jazz, nos seus projetos. Em 4eva Is A Mighty Long Time, essas inspirações foram amplificadas e ficaram a ter um papel importantíssimo ao longo do álbum. O artista, em “Aux Cord”, chega até a referir e a fazer um tributo a grandes artistas que o inspiraram, como B.B. King, Prince, Barry White, Michael Jackson, Will Smith, etc.
Ambos os discos quase que podem ser ouvidos individualmente, pois apresentam personalidades, estilos e sensações próprios. Isto deve-se ao facto de o projeto capturar a personalidade de Big K.R.I.T. como rapper, na primeira parte, e como homem, na segunda. As primeiras canções dos dois discos exemplificam muito bem esta opção. O primeiro álbum abre com uma faixa denominada “Big K.R.I.T.”, o seu nome artístico, enquanto o segundo abre com “Justin Scott”, o seu verdadeiro nome.
No primeiro disco do projeto são notórias a agressividade e a vanglória da vida de rapper, onde Big K.R.I.T. menciona aquilo tudo pelo que passou e lutou para chegar ao patamar onde hoje se encontra. Tal pode ser visto nas músicas “Big Bank” e “Subenstein (My Sub IV)”, no início do disco, que têm uma agressividade e batidas viciantes.
À medida que se avança no primeiro disco, as canções de K.R.I.T. vão-se suavizando e ficam cada vez mais introspetivas. Existe assim uma evolução no seu conteúdo, onde vemos o rapper a descrever todos os problemas que enfrenta no mundo do hip hop. As músicas mais para o final, como “Layup” e “Aux Cord”, são mais melódicas e calmas que as primeiras.
Uma das canções mais inspiradoras da primeira parte do álbum é “Get Away”, onde K.R.I.T. fala, de uma forma excelente, acerca da importância da separação de coisas destrutivas e negativas na vida, impulsionando o ouvinte a acreditar na sua própria visão e não deixar que a negatividade o afete.
A segunda parte do álbum começa de uma forma mais inspirada no soul e gospel, que é, de alguma forma, algo extremamente relaxante e diferente do primeiro disco. Chegam a existir muitos momentos em que o próprio Justin Scott decide cantar, em vez de fazer rap, o que faz com que a parte instrumental do segundo disco quase que fale por si mesma de forma apaixonada e poderosa.
“Keep The Devil Off”, “Miss Georgia Fornia” e “The Light” são referências desta segunda parte do projeto, devido aos sons característicos do Sul norte-americano que utilizam e à grandeza da sua produção, com coros, órgãos, guitarras, pianos, saxofones e sintetizadores.
Porém, tal como no primeiro disco, ao longo da experiência desta segunda parte do álbum, é possível notar-se que as canções vão ficando cada vez mais sombrias em termos musicais e com letras mais introspetivas. Na faixa “Drinking Sessions”, Scott reflete sobre os sacrifícios que teve de fazer em termos pessoais para chegar onde está, podendo ser audível uma pura dor na sua voz, chegando quase às lágrimas. E, em “Price of Fame”, o artista questiona o preço da fama, e fala acerca da insegurança e da ansiedade que sente quando está com muitas pessoas, para além do quão confuso a criação de arte se tornou devido ao seu novo estatuto.
A última canção “Bury Me In Gold”, é um excelente fim para o projeto, pois engloba toda a mensagem que o artista quis passar ao longo do álbum. O rapper usa a metáfora do ouro para demonstrar o verdadeiro valor das coisas imateriais da vida que realmente importam, como amor, amizade, e contentamento com quem somos. De alguma forma, Justin atinge diretamente a alma e a decência humana do ouvinte, inspirando-o a seguir os seus sonhos e a desfrutar das coisas boas que tem na sua vida.
Embora este álbum tenha muito boa qualidade e Big K.R.I.T. fale de tópicos importantes e necessários, quem já conhece a discografia do artista sente que o rapper não tomou muitos riscos em termos de tópicos de discussão, pois o seu conteúdo é extremamente parecido com os seus projetos anteriores. Para além disso, a sua música é melhor experienciada como um todo, ou seja, é mais viva quando se ouve o álbum inteiro, em vez de se ouvir canções individualmente. Embora este conceito permita ao ouvinte ter uma experiência incrível quando o álbum é totalmente tocado, isso também significa que se tem de ouvir um projeto de quase uma hora e meia para se desfrutar verdadeiramente das melhores músicas. Todas as canções estão interligadas e partilham a mesma narrativa e “núcleo”, o que aumenta a qualidade da experiência dos ouvintes em certas músicas, algo que não acontece quando as mesmas se ouvem individualmente.
Como última análise, 4eva Is A Mighty Long Time é um projeto que engloba tudo aquilo que Big K.R.I.T. sempre soube fazer bem. Consegue equilibrar a sua lírica impressionante com um poder instrumental esplêndido. O resultado disso é um álbum com vários momentos de K.R.I.T. no seu melhor, com imensa introspeção, inspiração e instrumentais incríveis, dando assim uma lufada de ar fresco na carreira do artista.
8/10
2017
4eva Is A Mighty Long Time
Multi Alumni