Chegou dezembro. Pelas ruas já cheira a Natal. As luzes piscam, as árvores enfeitam-se, as músicas ecoam através dos edifícios e, pela Internet, brotam os “tops dos melhores do ano”. É motivo de festejo! É Natal! É fim de ano! É hora de passar 2017 em revista.
Não é segredo nenhum que a música portuguesa está a passar por uma ótima fase. Há uns anos, em 2013/2014, houve um boom de música em Portugal. Começou a haver mais gente a fazer música e mais festivais e espaços para as bandas atuarem. Há cada vez mais e melhor música em Portugal. E 2017 provou exatamente isso. Foi um ano com muitos lançamentos bons para o panorama musical português, tanto de nomes conhecidos e reconhecidos, como de nomes desconhecidos.
Por Braga, os ERMO lançaram Lo- Fi Moda, uma das melhores peças musicais que ouvi em 2017. Os poemas aliados à eletrónica do duo traduzem-se num álbum absolutamente genial; um clássico imediato. Conterrâneos dos ERMO, os Grandfather’s House, também, lançaram o seu segundo longa duração, Diving, uma verdadeira viagem ao mundo da banda. Já os Máquina Del Amor trouxeram-nos um Disco experimental e mexido que usa o ruído para nos faz bater o pé.
Mais a sul, pela capital, Luís Severo cantou o amor e Lisboa com uma voz ternurenta e melancólica e uma poética tão forte que merece ser ouvida, lida e sentida. Por seu lado, o Homem em Catarse trocou as grandes cidades por uma Viagem Interior que canta o Portugal, por vezes esquecido, das serras, dos campos e dos rios. Num tom similar, as Sopa de Pedra deram-nos o Ao Longe Já Se Ouvia, um álbum de cantos tradicionais a capella que merece ser escutado pela beleza da execução musical do grupo.
Manuel Fúria pintou o seu Viva Fúria com a pop dos anos 80, inventou sobre o que já tinha sido inventado, usou as mesmas duas notas e a mesma variação e lançou uma obra fenomenal. A solo, Nádia Schilling lançou Above the trees, um álbum introspetivo que funde a folk e o jazz para um resultado delicioso. Delicioso é também a estreia de Surma. Antwerper é uma experiência única, sentida e aprazível.
Com a energia do seu álbum de estreia, os “Good Boys” Stone Dead fizeram levantar muito pó por onde passaram. O Linhas de Baixo dos 800 Gondomar mostrou, também, uma potência e boa-disposição contagiantes. Já as Pega Monstro e a sua Casa de Cima exibiram uma evolução muito boa nas suas letras e um amadurecimento do seu som, sem o despir das particularidades tão características que as irmãs Reis já nos habituaram.
Slow J estreou-se nos longa-durações com The Art of Slowing Down, uma obra que certamente se tornará uma referência no hip hop português. Os Orelha Negra também regressaram aos lançamentos com um homónimo, que, apesar de não trazer muito de novo para o grupo, não deixa de ser um álbum com muita força.
Os The Gift também regressaram aos lançamentos. Claro que um álbum produzido pelo Brian Eno causa, no mínimo, algum burburinho, mas Altar trouxe um novo vigor à banda de Alcobaça; traz-lhes um som sólido e um hit muito bom e muito dançável em Big Fish.
Tudo isto, mas não só. Enquanto escrevo vou-me lembrando de mais e mais nomes que merecem ser destacados. Cassete Pirata, Lince, Duquesa, PZ, Dear Telephone, Vaarwell, Éme, Them Flying Monkeys, Flying Cages, El Señor, Minta and the Brook Trout, Frankie Chavez, Ganso, Moullinex, Xinobi, Mike Lyte, Miguel Araújo, Língua Franca, Captain Boy… São só alguns dos nomes que lançaram trabalhos bons e que têm todo o mérito para entrar “nos tops de 2017”.
Mas o que importa não é ter a banda ou artista favorito nos tops. O que importa, e a missão que vejo nos tops e enumerações, é a de ressalvar e louvar a boa música que se anda a fazer neste retângulo deixado na ponta (ou será na porta?) da Europa. O que importa é destacar o que melhor se anda a fazer por este país fora. O que importa é divulgar a música portuguesa. O que importa é ouvir o que se faz no país. O que importa é ir ver e apoiar os músicos da tua zona ou que vêm à tua zona porque como disse uma vez uma figura incontornável, uma lenda da música portuguesa que nos deixou neste 2017, “As pessoas podem dizer que já nos viram no ano passado, mas tem de se incutir a ideia do «este ano ainda não vi».”