A noite de sábado era gélida, mas as paredes da Sé de Braga aqueceram-se pelas vozes dos jovens coristas do Coro Académico da Universidade do Minho (CAUM) e do Primeiro Ciclo do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian. O XXII Puer Natus Est, o tradicional concerto de Natal do CAUM, voltou à Sé, e desta vez para ajudar a Associação SOL.
Já passavam das 21h30 e a fila de pessoas para entrar na Sé de Braga ainda se mantinha longa. Lentamente, as pessoas iam entrando – até porque é impossível caminhar por debaixo do requintado interior da Sé e não levantar os olhos (por escassos segundos) para o apreciar.
O alinhamento do concerto havia-se alterado e este seria iniciado pelas crianças, alunas do primeiro e segundo ano do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian. A Professora Isabel Batista conduziu a introdução do jovem grupo de cantores, cuja postura serena se assemelhava à de profissionais com largos anos de experiência. “Brilha Estrelinha”, de Luíza da Gama Santos, foi o primeiro tema. Seguiram-se músicas tradicionais da Colômbia, do Brasil e dos EUA.
Em seguida, entraram os mais crescidos, os coristas do CAUM. “Benedicat Vobis”, de G. F. Händel , começou em crescendo. Seguiram-se os clássicos “White Christmas” e “Let It Snow! Let it snow! Let it snow!”. As vozes daqueles jovens cantores já haviam aquecido os espectadores, naquela noite gélida de inverno. Após as tradicionais “Carol Of The Bells” e “El Noi De La Mare” da Ucrânia e da Catalunha, respetivamente, finda o primeiro bloco.
E como “o Natal não se faz só de música”, referiu a corista Joana Silva, o CAUM tomou a decisão de, nesta edição do Puer Natus Est, apoiar uma associação – a Associação SOL. Esta é a única instituição vocacionada para apoiar crianças e jovens infetados e afetados pelo vírus VIH e pela sida. A representante da SOL presente na catedral apresentou a associação, referindo que precisamente no dia 17 de dezembro, a SOL completou 25 anos de existência. Acrescentou que “há 25 anos não havia medicação para crianças com este vírus”, mas, devido ao trabalho desta associação, “hoje temos cá estas crianças, muitas delas com 20 anos”. O apoio a esta instituição passou pela recolha de alimentos que envolveu o público presente.
Após este relato emocionado, o CAUM entrou novamente em cena. O seu segundo bloco começou com a portuguesa “Nasceu, Já Nasceu, seguida por “Dormindo Está Um Menino”, do (até então) maestro do grupo, Rui Paulo Teixeira. Os coristas terminaram com as inigualáveis “Amazing Grace” e “I Can Tell The World”.
Com o aproximar do fim do espetáculo, chegou a hora de um agradecimento especial: o maestro Rui Paulo Teixeira, que acompanha o CAUM desde 2006, despede-se do grupo. Este foi o seu último concerto ao leme do coro. “O Rui Paulo foi (e é) um grande amigo. Esteve sempre presente quando precisámos. Queremos agradecer-te”, disse Mariana Domingues, uma das coristas, enquanto a voz lhe tremia e falhava.
Os coristas juntaram mensagens escritas por atuais e antigos membros do CAUM e oferecem-nas ao maestro, numa capa que esperam que “o aqueça”. Sílvio Cortez é o novo maestro do coro e o grupo deseja-lhe “muita sorte” e “muita paciência para este projeto”, entre risos.
Antes do fim, teve ainda lugar a entrega dos coralinhos. Alguns dos coristas subiram na hierarquia. Outras figuras receberam coralinhos honorários. Foi o caso de Lídia Dias, vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Braga, homenageada por todo o apoio que ofereceu ao CAUM, assim como Rui Paulo, maestro que cessa funções.
Por último, antigos e atuais membros do CAUM juntam-se em palco com os alunos da Gulbenkian para se despedirem de um público, ao som de “Adeste Fideles”. Saímos da Sé para regressar à noite escura e gélida, mas não importa. Vamos com os corações quentes.