A livraria Centésima Página acolheu Sérgio Godinho, na passada noite de sexta-feira, em Braga, para uma apresentação do seu primeiro romance “Coração Mais que Perfeito”, publicado pela Quetzal Editores. O autor foi acompanhado por Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos Mão Morta.
A tertúlia decorreu na sala principal da livraria, que depressa se viu insuficiente para acolher os visitantes. Os espectadores sem lugar sentado tiveram de se encostar às prateleiras dos livros, ou resignar-se a perscrutar a conversa por entre as entradas. Sérgio Godinho afirmou gostar do espaço, mas sobretudo das pessoas que lá trabalham. “Da primeira vez que estive aqui, gostei de ver os livros até ao teto”, confidenciou.
A sessão começou com uma introdução à história do livro, em que Luxúria Canibal não se inibiu de contar momentos importantes, reiterando que o mais importante numa história “é a forma como se conta”. A trama, que se desenrola tanto no presente como no passado, conta a história de vida de Eugénia, bem como retrata como ela tenta ultrapassar a sua infelicidade pela morte do marido.
Luxúria Canibal destacou a escrita “muito limpa e muito crua”, com “cenas sexuais muito diretas.” O convidado referiu que o livro se aproxima do neorrealismo pela força das suas personagens e pelas situações trágicas representadas, apesar do seu contexto urbano e foco feminino contrastar com o domínio do rural e do masculino no género em Portugal. A sua intervenção foi concluída com a observação de que, por entre a narrativa principal, há pequenas histórias “que poderiam ser romances” em mérito próprio, se desenvolvidas.
Godinho referiu que as pequenas histórias se devem em parte ao facto de ter escrito o romance depois de publicar “Vidadupla”, uma coletânea de contos. Esta experiência deu azo a que as suas personagens no romance tivessem mais substância, pois procurou que estas “crescessem” e “se interrogassem”. O autor também descreveu como o prazer que sentiu com a escrita ficcional em prosa o fez querer escrever algo mais extenso, pois gostou de trabalhar um pouco no livro todos os dias.
A protagonista deste livro, segundo o escritor, tem certas caraterísticas que se contrastam com as do seu marido. Enquanto Eugénia é uma mulher desprendida de ambições que procura viver o dia-a-dia em busca de novas experiências, Artur vive determinado com um propósito único de ser ator. Godinho contou como, durante a encenação de uma peça, uma colega de Artur tornou-se incapaz de dissociar o ator da personagem odiável que interpretava. De acordo com o autor, a situação foi inspirada em circunstâncias reais, um resquício das suas experiências enquanto ator de teatro.
Após concluída a apresentação, decorreu uma sessão de autógrafos do autor do livro. Sérgio Godinho passou para o lado do público, onde cumprimentou e conversou com as pessoas interessadas em guardar uma recordação daquela noite. Uma das espectadoras, inquirida sobre se a apresentação do livro lhe suscitou a vontade de o ler, respondeu ao ComUM que não particularmente, já que a vontade provém de gostar de Sérgio Godinho enquanto músico.