Adormecido para aqueles que têm outras preocupações e bem presente para os que o vivem de perto, um dos conflitos mais mediáticos voltou aos ecrãs e às capas de jornais de todo o mundo. Pedro Abrunhosa dizia numa das suas letras: “vamos fazer o que ainda não foi feito”, e ao que parece os versos do cantor português chegaram aos ouvidos do presidente de uma das nações mais poderosas do mundo. Donald Trump não quis deixar por fazer o que os seus antecessores queriam ter feito e voltou a acender a chama do conflito Israelo-Palestiniano.

Bastou uma decisão: transferir a embaixada norte-americana de Telavive para Jerusalém. A partir daí não foi preciso muito para se registarem mais de uma centena de feridos e já quatro mortos. O lado palestiniano manifestou-se nas ruas e a resposta não tardou a chegar. Os estados europeus e a ONU já condenaram a decisão de Trump, mas para os EUA o importante é não deixar promessas por cumprir.

Voltemos ao passado. Jerusalém é cidade santa para as três principais religiões monoteístas do mundo. Nela prestam culto cristãos, muçulmanos e judeus. Os territórios disputados por israelitas e palestinianos estão, desde há muito tempo, entre os mais concorridos do mundo. O petróleo e o gás natural que abundam na zona do médio oriente fizeram com que, não só Israel, mas também outras zonas desta vasta região fossem fortemente disputadas. Após o fim da II Guerra Mundial existiu a necessidade de atribuir um território aos judeus, que foram inseridos no espaço da Palestina. O resto é fácil de descobrir, um conflito que parece não ter fim e em que ambas as partes lutam por um território que, na verdade, ninguém sabe bem a quem pertence. Jerusalém por transportar toda esta carga religiosa deveria ter ficado sob a tutela da comunidade internacional, no entanto, após a guerra dos seis dias Israel acabou por conquistar a cidade, que está sob seu domínio deste então. A Palestina não se conformou e continua a reclamar a cidade como a sua capital.

Donald Trump decidiu e o governo israelita aplaudiu. Para Israel este era um desejo de há muito tempo. A verdade é que, também Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita, queria que acontecesse o que ainda não tinha sido feito. Parece quase uma combinação perfeita. Donald Trump cumpre as promessas eleitorais que fez para mais de 80% de evangélicos norte-americanos, que o elegeram, e que continuam a acreditar que cristo descerá à terra para derrotar os inimigos, sobretudo os palestinianos. Israel vê, pela primeira vez, um país a assumir Jerusalém como a sua capital e aproveita para ganhar uns pontos neste jogo que é o conflito com a Palestina.

A ONU já condenou a atitude, os principais estados europeus também. Emmanuel Macron veio a público e por cá Marcelo mostrou-se preocupado. A Assembleia da República também já cumpriu o seu dever e um pouco por todo o lado as críticas à decisão de Trump fizeram-se ouvir. À partida é uma luta fácil de ganhar. Muitos contra apenas um. Um único país, que sozinho consegue mudar a capital de outro. Parece impressionante, mas para a governação americana não é assim tão espantoso. Tal como Trump declarou ao governo israelita: “este é um governo único, que toma medidas ousadas”.

É um dos principais conflitos do século XXI, mas para alguns é de rápida e fácil resolução: adotar uma política pró-israelita. Dá-se uma ajudinha aqui e uma mãozinha ali e faz-se com que Israel saia vencedor. Feridos vão haver com certeza, mortos também, casas e aldeias completamente destruídas, mais do que já estão, não vão faltar. Isto porque os palestinianos não vão aceitar esta resolução. Se não o fizeram até agora, não é perante a decisão de Trump que vão ceder. Mas o que interessa isso se quem está a tomar conta da situação são dois países “democráticos”? Sim, tanto os EUA como Israel orgulham-se de dizer que a democracia que lhes corre nas veias. Sendo assim podemos estar descansados que a democracia está a tomar conta do assunto. Só é pena que lhes esteja a escapar um pequeno valor democrático, que aqui entre nós interessa um bocadinho: a paz. E não é a paz que ambos os países afirmam poder ser alcançada com esta decisão. É paz real, onde não se ouçam bombardeamentos ao acordar e tiroteios ao anoitecer. Mas não lhes digam nada, pode ser que eles cheguem lá sozinhos.