Este sábado, dia 6 de janeiro, os Mão Morta regressaram à terra natal e passaram pelo Theatro Circo para um concerto comemorativo dos 25 anos do álbum “Mutantes S21”. O quarto disco dos bracarenses foi lançado em 1992 e no ano seguinte foi apresentado naquela mesma sala num concerto que foi recordado na noite de ontem. “Mutantes S21” foi classificado pela revista Blitz como o segundo melhor álbum de música portuguesa da década de 1990.
Minutos antes da abertura das portas do teatro, Leandro Santos, de 44 anos, contou que sempre foi fã da banda mas nunca teve oportunidade de a ver ao vivo. As expectativas eram elevadas e estava confiante de que não sairia desapontado. Meia hora antes do início do espetáculo já a Avenida da Liberdade dava a entender que se esperava uma noite praticamente lotada no Theatro Circo – e assim foi.
Foi com alguns minutos de atraso que a banda bracarense subiu ao palco da casa onde deram o emblemático concerto de maio de 1993. “Alegria!”- ouviu-se entre o público. E um forte aplauso preencheu a sala. A música escolhida para abrir a noite foi “Shambalah”. É de referir a energia contagiante de Adolfo Luxúria Canibal, que salta de um lado para o outro, rodopia sem parar e com a sua voz rouca, mas poderosa, capta com facilidade a atenção de toda a audiência. Desde logo observaram-se pessoas na plateia que, não se conformando com os lugares sentados, se levantaram para dançar e abanar a cabeça ao som do rock n’ roll.
Com a chegada da música “Istambul”, iluminou-se o palco que até ali tinha estado praticamente às escuras. Ouviu-se um berro, por parte do vocalista, que tanto assustou como deslumbrou todo o auditório. O cenário incluiu uma componente visual e foi acompanhado por ilustrações de banda desenhada, tratadas por João Martinho Moura. As artes visuais tiveram um papel importante para criar uma ligação simbólica entre a música e as imagens projetadas e contaram com a participação de 15 ilustradores portugueses.
Foi apenas após a quarta canção que a banda interagiu com o público. “Há 25 anos estivemos aqui nesta sala. Éramos mais novos. A sala era diferente”, conta o frontman dos Mão Morta. Ao longo de todo o concerto, a banda adotou uma postura muito consistente, com músicos que alternavam entre baixos, guitarras e teclados, ao mesmo tempo que “davam uns toques” nos vocais de fundo.
Seguiu-se “Budapeste” e Adolfo Luxúria Canibal voltou a discursar, desta vez para fazer referência a Carlos Fortes, ex-integrante da banda, que costumava chamar a esta canção “música para atrasados mentais.” Foi precisamente nessa altura que o público se viu mais agitado e começou a cantar com o vocalista. Até nos camarotes havia quem saltasse e pulasse ao som do refrão “Sempre a abrir a noite toda / Sempre a rock & rollar”. A meio da música, o vocalista pede para lhe tirarem fotografias com flash, desafiado pelos seguranças que insistiam com a audiência para não o fazer. No final, explica: “Reparei que vos estavam a incomodar por estarem a tirar fotografias, mas nós não nos importamos nada. Tirem as fotografias que quiserem!”
Com um registo imediatamente mais pesado, tocaram a “Amesterdão (Have a Big Fun)” e conseguiram puxar mais ou um outro pezinho de dança aos espectadores menos envergonhados. Depois de “Lisboa”, saíram abruptamente do palco, como se tivesse acabado o concerto. No entanto, na plateia ninguém se levantou – talvez porque ainda só tinha passado uma hora, ou talvez soubessem simplesmente que aquilo não podia ser o fim. Regressaram da escuridão, recebidos por uma salva de palmas perfeitamente coordenada de um público sedento de mais. “Obrigado pela vossa bondade. Mas estava previsto que quisessem que nos cansássemos mais um bocadinho. E nós, com todo o gosto, vamos fazê-lo.” Foram estas as palavras do vocalista que abriram o encore do concerto, agora com músicas de outros álbuns da banda, nomeadamente temas como “Tiago Capitão”, “Fazer de Morto”, “Bófia”, entre outros. Perto do final da noite, Adolfo apresenta, finalmente, os restantes membros da banda: António Rafael, Sapo, Vasco Vaz, Joana Longobardi e, “o dono disto tudo”, Miguel Pedro.
No final, Joana Lopes, de 32 anos, confessou que apenas conhecia algumas músicas da banda e que não estava à espera de um concerto “assim tão bom”. Já Filipe Costa, de 23 anos, afirmou ter “nascido na geração errada” e não escondeu o entusiasmo pela banda de rock que já soma mais de três décadas de carreira musical. Referiu ainda a importância destas iniciativas por parte dos teatros e casas de espetáculo e apelou para “não se deixar a boa música morrer”.
25 anos depois do lançamento de “Mutantes S21”, os Mão Morta provaram que estão mais vivos do que nunca.