Os :papercutz estão de volta aos novos temas. Em entrevista ao ComUM, o fundador do grupo, Bruno Miguel, falou do lançamento do novo álbum, da paragem do grupo, e também da sua relação com a cidade de Braga.
Foram descobertos nos Novos Talentos Fnac em 2008, mas já não os ouvíamos há algum tempo. Desde o último álbum, passaram 4 anos. Finalmente a banda do Porto, está de volta, com novos temas, e a ambição de ganhar destaque no crescente panorama musical em Portugal.
Bruno Miguel é o homem do leme dos :papercutz. Fundador do projeto que conheceu vários membros ao longo dos anos, o músico formado em informática na Universidade do Minho conta mais uma vez com a voz de Catarina Miranda (do projecto a solo Emmy Curl), para um álbum que tardou em ser lançado.
“O álbum tinha lançamento previsto para Novembro. Nós tínhamos proposto a nós mesmo uma edição mais pequena, que passava um pouco por nós e nós depois trabalhávamos os concertos e eventualmente as outras edições. Nós temos uma edição nacional e temos uma edição internacional. E o que aconteceu foi que nós tivemos o interesse de uma editora e então reformulamos a edição. Ou seja, neste momento decidimos atrasar porque a edição nacional e internacional, inclusive uma japonesa, e poderá sair tudo ao mesmo tempo.”
Em entrevista ao ComUM, Bruno Miguel explicou o atraso no lançamento do álbum, apesar dos temas já começarem a ser “ensaiados” ao vivo. “As únicas pessoas que até agora puderam ouvir o que é que vai ser o álbum foi quem veio conhecer o álbum aos concertos. Este ano já estivemos em alguns festivais, já demos concertos em casas pequenas e grandes, e pudemos experimentar um pouco o que é que são esses temas.”
A re-estreia de Emmy Curl e a evolução de um projeto renascido
A grande novidade do álbum que sairá nos primeiros meses do ano, e que se chamará “King Ruiner”, é a inclusão da cantora Catarina Miranda, ou Emmy Curl. Catarina Miranda já participou nos :papercutz, em concertos ao vivo, mas nunca tinha gravado com o grupo de Bruno Miguel. E a sua voz é “essencial” no novo disco. “Até agora, a voz era mais um elemento na parte instrumental nos :papercutz, por vezes era algo destacado, mas sempre foi ‘mais um’ elemento. E neste momento, tanto no álbum como no concerto ao vivo, a voz ganha um destaque muito próprio. Nesse sentido, a Catarina foi essencial.”
Bruno Miguel falou também sobre o grande interregno do projeto. Os :papercutz já contam com uma discografia composta por quatro álbuns e três EP’s, mas o último foi lançado em 2013. Segundo Bruno, existem “fases” na banda. “Há alturas em que nós temos o trabalho numa forma mais visível, e outras em que estamos mais encostados, mas isso é uma característica mesmo própria minha. Há alturas em que gosto de que :papercutz esteja a dar concertos, e há outras que eu retraio-me para o trabalho de estúdio e composição, ou porque não estou por vezes satisfeito com tudo que estamos a fazer e quero melhorar.”
Além disso, a banda sempre foi caracterizada pela sua presença no estrangeiro – há edições japoneses de álbuns dos :papercutz, e o próprio Bruno Miguel já viveu nos Estados Unidos. E esse foco internacional também explica a ausência dos :papercutz dos palcos em Portugal. “Há alturas em que estamos em concertos em Portugal, e que temos coisas a acontecer cá, e há outras alturas em que estamos a trabalhar no mercado mais internacional, estamos a focar-nos mais nas pessoas que nos acompanham lá fora.”
A banda surgiu ainda para o festival Eurosonic com um novo single, “Trust/Surrender”, no início de janeiro do ano passado. O tema foi criado para o festival, e segundo o cantor, em que “a ideia era que nós pudéssemos mostrar o trabalho que estávamos a desenvolver, e surgiu a oportunidade de editar um single”. “Trust/Surrender” é uma amostra do trabalho que os :papercutz têm desenvolvido para o novo álbum, mas Bruno Miguel avança ao ComUM que “à partida, não faz parte da edição normal do álbum”.
Braga vai receber o novo álbum e carinho de quem regressa a “casa”
O primeiro concerto de 2018 dos :papercutz será este sábado, no Sé La Vie, em Braga. O bar-concerto recebe a banda do Porto, e Bruno Miguel regressa a uma cidade com que tem uma “ligação especial”. “A minha formação não é música. A minha formação é informática, que é uma parte da minha formação que ainda utilizo na música, mas a minha formação foi em Braga, na Universidade do Minho.”
O ex-estudante volta então a uma cidade para tocar num espaço onde nunca tocou, mas onde esperar familiaridade e gente pronta para ouvir os novos temas dos :papercutz. O que vai acontecer, e nós estamos a falar do contexto de Braga, é que nós agora aos poucos vamos começar a revelar o que é que vai ser verdadeiramente o alinhamento do álbum.”
Pelo Sé La Vie passam grande parte das novas bandas de hoje. O Minho encheu-se de novos sons e novos grupos, que passam por novos bares e espaços. Bruno Miguel sabe que vai tocar num dos grandes centros deste boom de bandas, e coloca ele próprio a questão: será que os :papercutz pertencem neste novo mar de bandas?
“Eu acho que sim. E repara, à medida que tens dois, três álbuns, já tens alguns anos como nós, e ainda por cima ganhas seguidores que se interessam mais por um tipo de sonoridade, e tu podias manter-te fiel a essa sonoridade. Nós mudamos as regras, pegamos no que tínhamos feito, e demos um passo à frente. E eu acho que ao dar esse passo à frente, e olhando com sentido crítico aquilo que nós somos agora e que temos agora para mostrar, eu acho que continuamos a ter algo especial e algo diferente para oferecer do que têm outros grupos”.
Para o portuense, a chave para a “pequena revolução” dos últimos anos não é a qualidade das bandas, mas a forma como elas se distinguem. Ao longo da entrevista, foram referenciadas bandas como os Ermo, Peixe:avião, Octapush e Grandfather’s House. Entre todos, Bruno destaca a originalidade da música nacional. “Até há uns anos, eu olhava para Portugal e dizia: ‘ok, esta banda está a fazer alguma coisa interessante, mas isto não nada de novo fora do panorama português’. Mas pela primeira vez, eu vejo bandas nacionais a fazerem coisas que têm algo único para oferecer, tanto válido em Portugal como fora.”
A originalidade já está bem presente nos grupos portugueses, e agora só falta a exposição. Bruno destaca os novos espaços onde estas bandas podem evoluir, mas diz que “é preciso dar espaço a estes grupos para eles se irem construindo”. O líder dos :papercutz falou da Innovation Network of European Showcases (INES), uma plataforma europeia com apoio da União Europeia, em que promotores de festivais e salas de espectáculos vão criar um circuito para que as bandas de toda a Europa possam actuar e mostrar a sua música.
Os :papercutz actuam este sábado, às 22h30, no Sé La Vie, num concerto organizado pela promotora Bazuuca. No final, há DJ Set pela própria Bazuuca.