O ar que se respira no futebol português é pesado. Entre críticas à arbitragem, suspeitas de resultados combinados, bitaites entre presidentes dos clubes e outras mais mesquinhices do “Zé Povinho”, o futebol nacional vai ficando para trás naquele que é o desenvolvimento constante do desporto rei a nível europeu e mundial. Pelo menos é isto que os programas desportivos em Portugal retratam. Uma realidade que – infelizmente – existe, mas que não é única.

A tertúlia feita nos programas de futebol foca-se apenas nos escândalos, erros de arbitragem e trocas de palavras amargas entre treinadores. Não digo que se devam ocultar estas particularidades, mas sim remetê-las para segundo plano e colocar na montra aquilo que realmente importa e que, por vezes, perde-se na névoa da polémica. De quem é a culpa? Dos programas desportivos por transmitirem este tipo de conteúdos ou dos telespectadores por assistirem aos mesmos e, assim, cultivarem esta visão do futebol em Portugal? Na minha opinião, o pecado é de ambos.

A verdade é que, no campeonato português, se pode jogar uma bela partida e ao fim dos 90 minutos, o destaque nos media será um penálti por assinalar pelo árbitro. Se no estrangeiro, os programas desportivos servem para se discutir o jogo em si, opções táticas dos treinadores e fazer showcasing de jovens talentos, em Portugal fala-se sobre arbitragem.

Certamente, um deleite para aqueles que sofrem de “clubite aguda”, uma condição médica bastante comum no seio do futebol português. Os sintomas são variados, mas o mais pertinente é a incapacidade de assistir a um jogo do seu clube de forma imparcial. E sem surpresa nenhuma, isto alastra-se aos jogos dos clubes rivais. O típico paciente de “clubite aguda” gosta de ver discutidos, em horário nobre, os mais variados e duvidosos lances que afetaram o resultado do seu emblema. É de seu prazer que seja escrutinado milimetricamente aquele fora-de-jogo, que nem com recurso ao VAR parece ser fácil de se julgar.

Esta é a utopia do adepto português, aproveitada ao máximo pelos programas televisivos. Enquanto for este o panorama, o nosso futebol nunca irá progredir, ou pelo menos atingir o seu potencial, que seria do agrado de todos aqueles que amam este desporto. Aquilo que é transmitido nos programas desportivos não é o espelho do nosso futebol, é apenas um nicho dele. Um nicho pejorativo, infeliz e retrógrado, que apenas empobrece o nosso futebol aos olhos do resto do mundo.

A arbitragem em Portugal já passou pelos seus melhores dias, verdade seja dita. Com escândalos de árbitros comprados desde o início do milénio, a sua reputação atualmente está longe de ser positiva. Não vou referenciar nomes de clubes, porque qualquer pessoa que esteja dentro do panorama nacional, sabe daquilo que falo. Apesar de estes serem casos esporádicos, os media fazem parecer que é a única coisa que acontece no futebol português.

É importante trazer os responsáveis à justiça? Sem dúvida. Porém, sou apologista de que isto são casos para as autoridades competentes e não há a necessidade de os programas desportivos se tornarem um Tribunal da Inquisição e julguem em praça pública à sua livre vontade.

Esta é opinião de alguém que se preocupa com o futuro do nosso futebol e que anseia que ele cresça mais a cada dia que passa. Atualmente, estamos em sentido contrário. Em 2011, quando SC Braga, FC Porto e SL Benfica chegaram às meias-finais da Liga Europa, o sentimento geral era de orgulho. Estávamos no topo do futebol europeu e éramos admirados pelo resto do Velho Continente. É isto que queremos ver discutido, no futuro, nos nossos programas desportivos e não mais discussões por penáltis por assinalar ou trocas de palavras fora do relvado.