As alminhas de Braga foram tema de uma palestra decorrida no Museu Nogueira da Silva no fim de tarde da passada quinta-feira, com destaque para a sua degradação e apelo à sua preservação

As alminhas de Braga e o seu estado de preservação foram o tema da conversa decorrida no Museu Nogueira da Silva no fim de tarde da passada quinta-feira, numa palestra organizada em colaboração com a Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Natural e Cultural (ASPA). A palestra foi conduzida por Aida Mata, antiga diretora do Mosteiro de Tibães, que contou também com a participação de António José Mendes e Eduardo Pires de Oliveira, duas figuras ligadas ao museu.

Sofia Summavielle / ComUM

Na religião católica, o Purgatório representa a condição de existência das almas imperfeitas que não se encontram suficientemente puras para ascender ao Reino dos Céus, onde descansam as mais virtuosas. A crença religiosa refere que a ascensão destas almas depende do sufrágio pela sua redenção por parte dos que se encontram vivos na Terra.

De acordo com Luís Pinheiro, um estudioso de construções religiosas do género em Portugal, as alminhas são “pequenos oratórios que se levantam ao ar livre em honra das almas dos mortos, cada um deles abrigando um painel com a representação do Purgatório.” Assim, as alminhas distinguem-se de outros oratórios pela representação em desenho ou pintura de “corpos seminus a arder” na parte inferior, de santos intercessores no meio e do Espírito Santo na parte superior.

Pires de Oliveira referiu que antigamente estava em voga o culto da Boa Morte, sendo que havia uma grande intervenção da Igreja para suscitar o receio das pessoas quanto ao pós-vida. Com isto surgiram a oração e as contribuições monetárias como meios de apelo à salvação da alma, sendo esta inclusive uma finalidade das alminhas. Tal prática perdeu-se no quotidiano e na prática religiosa contemporâneos.

As alminhas começaram em retábulos de madeira em igrejas, mas ao passarem para o exterior surgiu uma necessidade de as construir em granito e outros materiais mais resistentes às intempéries. Em Portugal apareceram em finais do séc. XVI, sendo os primeiros painéis associados por tradição a Luís Álvares de Andrade, o Pintor Santo. As primeiras alminhas registadas em Braga foram erguidas na Capela de Santa Justa da Rua dos Pelames, nos inícios do séc. XVII, mas grande parte das alminhas que podem ser hoje encontradas datam dos séculos XVIII-XX.

Os oradores apontaram para as mudanças que ocorreram nas alminhas entre os anos 1950 e a atualidade, sendo pela degradação física ou pela substituição de painéis do Purgatório por figuras de santos. Apesar disso continua a haver um culto efetuado nestes monumentos, sobretudo predominante no Dia de Finados, quando são colocadas mais velas e flores do que o costume. Os apresentadores apelaram então a que se preservem as alminhas enquanto património imaterial.

Pires de Oliveira, apontando como surgem novos cultos e desaparecem outros, recordou uma conversa que teve com o cónego Pio, em que lamentou que figuras como Nossa Senhora de Fátima e o Coração de Jesus tenham substituído o culto a santos mais antigos e em mais vasto número. O atual bispo auxiliar do Porto soltou uma gargalhada, então respondendo: “Pois, tiraram-lhe as almas antigas.”