A Engenharia Informática na UMinho tem sido alvo de um crescimento acentuado ao longo dos últimos 6 anos. Os numerus clausus subiram, faseadamente, de 115 para 160 e, possivelmente contra algumas expectativas, a média passou de 13.58 para 16.12. No entanto, a Universidade do Minho, em particular o Campus de Gualtar, não tem sido capaz de acompanhar suficientemente rápido as necessidades de um aumento tão substancial. Os auditórios não têm mais lugares, não há mais salas, há menos computadores bem como equipamento no Departamento de Informática e os quadros docentes permanecem praticamente inalterados há mais de uma década.

Em 2016 e 2017 os novos alunos foram recebidos pela Direção de Curso e pelo CeSIUM em auditórios onde dezenas são obrigados a optar por se encostar à parede, se sentar no chão ou simplesmente ir embora. Infelizmente, este é um problema recorrente que transcende para além da apresentação inicial. É fácil entender a situação, o maior auditório de aulas em Gualtar tem 179 lugares e é muito requisitado, já o segundo maior tem 145. Convém relembrar que, como as taxas de aprovação não são 100%, qualquer UC tem pelo menos 160 inscritos e este número pode ultrapassar os 300. Assim, mesmo que esse auditório seja para uso exclusivo de Eng. Informática, não é suficiente para satisfazer as necessidades. Contudo, é necessário primeiro reconhecer que esta é uma situação que exija medidas. Há um argumento que é frequentemente usado quando se aborda esta situação “Passado umas semanas os alunos deixam de ir às aulas, só afeta temporariamente”. É verdade que ouvi colegas a dizer que já não iam a uma aula porque àquela hora também já não conseguiam entrar ou, que passaram a ir à UC leccionada em LCC. Todavia, é um risco exigir melhores condições e depois elas não serem usadas. Imaginando que foi só um aluno que desistiu devido às condições do auditório, não se justifica na mesma resolver o problema?

Se é atualmente difícil alocar espaço para aulas teóricas então vamos falar sobre a logística de avaliação. Tradicionalmente existiam três alternativas: realizar testes ao sábado de manhã, foi implementada durante vários anos, principalmente para os alunos de 2.º ano; à noite, foi utilizada somente para soluções de última hora; usar, por vezes, mais de 10 salas em mais do que um edifício da universidade ao mesmo tempo. Ora para um curso laboral recorrer a horário pós-laboral não é agradável nem para alunos nem para professores, como tal a solução mais usada era a terceira. Sendo que, se as grandes salas do 1.º piso do CP2 estivessem ocupadas, então podiam ser necessárias todas as restantes salas do CP2, o que é quase impossível para a equipa docente porque exigiria ter dezenas de pessoas a supervisionar. Surgiu então uma nova solução que é hoje a norma, testes na cantina. Lamentavelmente nem a cantina é sempre suficiente como tal são utilizadas simultaneamente algumas salas em CPs. Apesar de não existir uma alternativa melhor, esta tem obviamente desvantagens como fracas condições de luz para provas, barulho dos funcionários a arrumar e um cheirinho à ementa do dia.

Não convém esquecer, este é um curso com uma componente prática muito acentuada. Apesar de existirem, por vezes, mais de dez turnos práticos, estes não cabem nas salas do Departamento de Informática. Assim, as aulas práticas são frequentemente leccionadas nos Complexos Pedagógicos em salas normais ao invés de laboratórios de informática. É um facto que, atualmente, o DI tem menos computadores do que quase qualquer outro edifício da universidade pois andamos com os nossos portáteis mas, pelo menos, tem condições de tomadas e de internet. É recorrente alunos virem pedir ao CeSIUM uma extensão, mas são precisas cerca de 10 por turno e com pelo menos 5 turnos por disciplina prática por ano… Bem, são necessários ajustes urgentes nas salas de forma a estarem equipadas para turmas de informática, assunto esse que já foi contemplado aquando a passagem a mestrado integrado, desde então poucas dessas obras foram iniciadas. Por outro lado, os trabalhos práticos também exigem uma gestão por si só. Os grupos tendem a ser de 2 a 4 elementos, ou seja podem existir mais de 80 grupos para serem avaliados sendo que, por vezes há várias entregas distintas para além de testes teóricos numa só disciplina. Torna-se difícil avaliar com o mesmo nível de exigência sem alterações significativas na equipa docente.

É inegável o esforço que os Professores têm dedicado, em particular das Direções de Curso e de Departamento, aulas teóricas foram divididas, mais turnos práticos foram abertos, os horários passaram a ser atribuídos de forma mais justa e com maior simplicidade para os estudantes, novas disciplinas foram abertas no Mestrado, as especializações foram separadas das complementares. Estas alterações só foram possíveis graças a um apoio por parte da Escola de Engenharia e uma compreensão dos demais serviços da universidade. Muito do que se tem conseguido corrigir é graças a esta sensibilidade por ser um curso com 160 novos alunos por ano. No entanto, estes ajustes não só não são suficientes como são precisamente remendos postos em ação anos após já se ter identificado a existência de problemas. Isto compromete a qualidade do ensino.

É preciso mais uma vez parar e avaliar a situação, deve-se continuar a aumentar as vagas de um curso que está a rebentar com as costuras da infraestrutura do campus? O segundo curso com mais alunos por ano é Medicina (120), que tem um edifício exclusivo para as suas necessidades, Direito é o terceiro e quase não tem aulas práticas. Ambos os casos acontecem diretamente em Escolas e não em departamentos, ou seja têm mais independência de gestão. Vários são os casos em que para além de serem identificados problemas pela direção de curso/departamento, estes têm depois de seguir para a Escola de Engenharia que alberga dezenas de cursos, podendo por vezes ser necessário obter aprovação por parte da reitoria. Para perceberem a complexidade de gerir um curso como este, recomendo a qualquer um ver os nossos horários, em particular do 1.º ano.

Mas então porque se continua a aumentar os numerus clausus? Atualmente, o número de graduados não consegue preencher sequer um terço da ofertas de emprego só na cidade de Braga. Por outro lado a universidade assumiu como objetivo atingir os 25 000 estudantes até 2025. Já em 1996, se cantava “O rapaz estuda nos computadores. Dizem que é um emprego com saída”, a responsabilidade nesta gestão está sob a reitoria e nos últimos anos a decisão tem sido recebida com alguma surpresa e pouca antecedência tanto por parte dos docentes como dos alunos.

É este o trabalho do CeSIUM, o Centro de Estudantes de Sistemas e Informática da Universidade do Minho, auscultar os alunos e trabalhar em conjunto com a equipa docente e funcionários de forma a minimizar os impactos negativos, procurando evitar problemas como os ocorridos na passagem de LEI para MiEI. Há poucos dias ocorreu a Reunião Geral de Alunos de Eng. Informática, organizada pelo CeSIUM. Nesta foi precisamente apontado por quase todos os alunos presentes a preocupação com este crescimento insustentável. Urge fazer com que estas decisões com impacto tão abrangente no curso sejam acompanhadas imediatamente não só por alguns dos órgãos mas sim por uma relação simbiótica entre os alunos, o núcleo, a direção de curso, o departamento, a escola e a reitoria.

Hoje a luta é pela melhoria das condições nos Complexos Pedagógicos para que, amanhã, consigamos dizer com mais convicção que este ainda é o melhor curso de Engenharia Informática do país.