A Blackbox do gnration encheu para receber os americanos Moon Duo e os portugueses 10 000 Russos, e as duas bandas apresentaram os seus mais recentes trabalhos.

Esfrega-se os olhos, limpa-se o suor da cara, e fumo ainda assenta na sala. Por todo o lado, ouve-se “foi altamente” ou “que concerto!”. A noite de sexta-feira trouxe ao gnration duas produções monstruosas, com a escuridão dos 10 000 Russos e as luzes dos Moon Duo a surpreenderam o público que esgotou a Blackbox.

Hélio Carvalho/ComUM

As duas bandas apresentaram em Braga os seus novos álbuns. Os 10 000 Russos foram os primeiros a subir ao palco, ainda com o público a entrar no gnration, e tocaram temas do novo álbum, “Distress Distress”. Já os americanos Moon Duo, projeto de Ripley Jonhson (dos Wooden Shjips) e de Sanae Yamada, estão a passar por Portugal, e trazem o novo trabalho, “Occult Architecture”, divido em dois volumes.

Entram então os 10 000 Russos, iluminados por dois focos vermelhos no chão, e uma tela pintada desajeitadamente de branco. Somos arrebatados por um muro de música, um som forte e agressivo, conduzido pelo baterista e vocalista, João Pimenta. Carregando uma forte influência de fuzz e post-punk, a força dos 10 000 Russos vale perto de 10 mil décibeis. É impossível ficar quieto.

Apesar da quase absoluta escuridão no público, a intermitência da tela atrás da banda é o suficiente para ver as cabeças a abanar. Pimenta “brinca” com os microfones, para pôr a bateria a cantar; André Couto mantêm-se “na sua” no baixo, e pouco sai da penumbra; e Pedro Pestana dá-nos sons estridentes na pedaleira, moendo e remoendo. O final do concerto quase rebenta com as paredes da Blackbox, e o público vai para o intervalo ainda a bater palmas e a precisar de uma lufada de ar fresco.

Abrimos os olhos na segunda metade da noite. Os Moon Duo vieram a Portugal, e a banda de Portland emergiu no meio dos projetores fortes e da tela psicadélica. Todo o concerto é uma cascata de luzes. O rock psicadélico, fortemente influenciado pela outra banda de Ripley Johnson, Wooden Shjips, deixa toda a sala animada: ninguém consegue ficar preso ao chão e indiferente ao som.

O psicadélico dos Moon Duo é diferente do que tem invadido as salas e festivais. Se King Gizzard & The Lizard Wizard promoveram o psicadélico mais explosivo, Moon Duo tornam o espetáculo visual uma das suas armas mais fortes. Ripley Johnson vai dando a sua voz à batida constante, as notas da sua guitarra são quase etéreas, e os teclados de Yamada dão um corpo imenso à melodia.

A alma de “Occult Architecture”, o mais recente trabalho da banda, espelha-se bem no concerto ao vivo. A intenção da banda, com os dois volumes lançados separadamente, é mostrar os seus dois lados, yin e yan. O primeiro volume do álbum, mais negro, sinistro, e escondido em cantos frios, é expressado através das cores menos agressivas, e uma tela menos iluminada. Mas as músicas do segundo volume são como fogo-de-artifício, e os verdes e vermelhos pintam as caras e as paredes de Braga.

O conceituado site Pitchfork chegou a falar da segunda fase de “Occult Architecture” como “doce”, e é difícil discordar depois de ouvir ao vivo faixas como “Sevens” ou “Mirror’s Edge”.

O encore é o clímax da prestação dos americanos, que tocaram a sua cover de “No Fun”, dos The Stooges. Mais lenta do que a original, a música arrasta-se debaixo da força dos teclados, e despede-se o público presente satisfeito e de sorriso na cara.

As luzes ligam-se, e poucos são os que ainda têm o casaco vestido. A noite foi de música poderosa, de extremos para a visão, e trouxe um clima bem quente à noite gélida de Braga.