O antigo membro dos Buraka Som Sistema esteve na noite de 22 de fevereiro na Livraria Centésima Página, em Braga, onde apresentou o seu novo livro “Também os Brancos Sabem Dançar”, publicado pela Editora Caminho.
A Livraria Centésima Página acolheu Kalaf Epalanga, na noite de dia 22 de fevereiro, em Braga, para apresentar o seu novo livro “Também os Brancos Sabem Dançar”, publicado pela Editora Caminho. A sessão contou com a presença da investigadora académica Sheila Khan, bem como do editor Zeferino Coelho.
A obra de autoficção conta a história de Kalaf, desde a sua emergência enquanto músico percursor do género kuduro até à sua detenção na Noruega por suspeita de imigração ilegal. A obra caracteriza então as origens do kuduro em Angola, bem como a conquista do seu espaço na cena musical lisboeta e portuguesa.
Epalanga, mais conhecido como elemento do grupo musical Buraka Som Sistema, tem já dois livros de crónicas publicados, sendo este o seu primeiro romance. O autor angolano revela que pretende dedicar-se sobretudo à literatura, e espera que “um miúdo de agora o reconheça pela sua escrita quando for grande”.
Zeferino Coelho, editor de longa data de José Saramago, enalteceu a pertinência da obra pelas ideias claras em si presentes, pois “com ideias vagas não se consegue escrever um livro.” Comentou também que se confirmaram as potencialidades do autor que as suas crónicas antecipavam. Khan, por outro lado, explicou como o livro é sobre a cidadania, sobre o que é ser o outro na experiência da emigração.
Os convidados debateram o papel da música enquanto potencial transformadora de vidas, bem como enquanto uma oportunidade de libertação numa sociedade “ainda colonial”. O escritor descortinou como a música foi um espaço que utilizou para se amadurecer enquanto pessoa, mas criticou a cena musical de Angola, em que muitos músicos ora fazem propaganda pelo Estado, ora utilizam a produção de música rudimentar enquanto escape.
O antigo músico explica que os artistas que o inspiraram em Angola não estão a ganhar com o que produzem, sendo que “grande parte daqueles músicos não estão no Spotify.” Kalaf contou sobre como um produtor milionário, dedicado ao kizomba e ao kuduro, ponderou comprar a editora para impedir o lançamento do livro. O motivo seria um receio de que os músicos angolanos descobrissem poder exigir uma maior porção da receita obtida pelo seu trabalho.
Epalanga revelou sentir que a escrita e publicação desta obra foi um ato de coragem seu, elogiando os autores que com o seu trabalho literário acrescentam algo de novo e de relevante para a sua comunidade e a sua língua. O autor referiu que procurou colocar na sua personagem um pouco dos afrodescendentes que o acolheram em Portugal durante um primeiro período mais complicado.
O autor demonstrou o seu incómodo pelo facto de as escolas europeias ainda glorificarem a expansão colonial e disse compreender o quão relevante pode ser enquanto exemplo para as crianças de cor negra em Portugal, pois tem noção do peso que traz “para esse lugar”. Margarida, uma professora de português na plateia, contou ao ComUM que procura dar a conhecer aos seus alunos o outro lado da colonização, confessando também que conhece Epalanga por um aluno trazer crónicas suas para a aula.