Criado para e inspirado pelo aguardado filme da Marvel, Black Panther: The Album consegue contar a sua própria história de forma ambiciosa. Através da sua audácia e experimentação, o álbum permite ao ouvinte conhecer melhor as personagens e perceber o subtexto sociopolítico que ronda, dentro e fora, o filme.

Uma semana antes da estreia do altamente aguardado filme da Marvel “Black Panther”, dirigido por Ryan Coogler, a produtora Top Dawg Entertainment (TDE) agracia-nos com o lançamento de um álbum, sem precedentes, de músicas criadas para e inspiradas pelo filme. “Black Panther” segue a história de T’Challa, rei protetor de Wakanda, o país ficcional mais tecnologicamente avançado do mundo, localizado em África, onde T’Challa tem a tarefa de defender o seu reino, sob o nome de Black Panther.

O álbum foi produzido, conceptualizado e liderado por Anthony “Top Dawg” Tiffith (CEO da TDE) e Kendrick Lamar, um dos mais influentes rappers da atualidade. Sendo o filme “Black Panther” orgulhosamente político e social, o álbum não poderia escapar a essa regra. Este projeto consegue tocar em pontos fulcrais do filme, fazer críticas sociais ao mundo em que vivemos e celebrar a cultura africana.

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É difícil saber quais serão as músicas do álbum que estarão presentes no produto final do filme e em que partes serão inseridas. Porém, a diversidade de estilos e a experimentação neste projeto permitem que cada faixa conte uma história por si mesma, não só acerca do mundo fictício de Wakanda, mas também acerca daquilo que este projeto cinematográfico significa para o mundo e para a cultura.

A diversidade nas músicas deste álbum, tendo raízes no Hip-Hop e Rap, Reggae, Pop, R&B e Soul, permite que qualquer pessoa possa disfrutar das suas canções, independentemente do género de música que mais gosta. Desde a batida mais tropical com um toque africano de “Redemption”, com Zacari e Babes Wodumo, à balada de Pop que é “All The Stars”, de SZA e Kendrick Lamar, ao toque de Reggae presente na faixa “Seasons”, de Mozzy, Sjava e Reason, ao banger que é “X”, com Kendrick, Schoolboy Q, 2 Chainz e Saudi. Esta última tendo uma linha verdadeiramente inteligente de Schoolboy Q, que alude ao último hit de Kendrick Lamar “Humble”, em que diz: “Not even Kendrick can humble me”

Kendrick Lamar na faixa inicial, “Black Panther”, fala do ponto de vista de T’Challa, ao som de um piano e de uma batida quase claustrofóbica. Com a repetição da palavra “King” enquanto Lamar menciona tudo aquilo com que a personagem principal tem de se preocupar por ser rei e protetor de Wakanda, trespassa-se a sensação de urgência e de responsabilidade que T’Challa sente por estar nessa posição. Isto contrasta com os mesmos temas que o rapper abordou no seu último álbum DAMN., onde também referiu matérias como dúvidas pessoais, dinâmicas de poder e espiritualidade.

A partir daí, quase todas as canções do álbum descrevem as motivações, objetivos, e medos de Black Panther e do seu antagonista, Killmonger, através de várias referências.

Por exemplo “I Am”, de Jorja Smith, também é um grande exemplo do ponto de vista da personagem principal do filme, onde a cantora britânica consegue demonstrar a força de caráter de T’Challa ao aceitar as suas responsabilidades como herói do seu reino. Ao ritmo de um loop de guitarra cheio de sentimentos e de uma batida capaz de tocar na alma de quem a ouve, Jorja Smith, com o seu impressionante tom de voz, canta: “When you know what you got, sacrifice ain’t that hard/Feel like dependin’ on me, sometimes we ain’t meant to be free”

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“Pray For Me”, embora tenha uma batida esquecível e quase que saída do último álbum Starboy de The Weeknd, também demonstra os medos, a lealdade, e os sacrifícios de Black Panther de modo credível, com linhas como: “It’s all prophecy and if I gotta be sacrificed for the greater good/Then that’s what it gotta be”

Por sua vez, a canção “King’s Dead”, ao som de uma batida feroz na segunda parte da faixa, Kendrick consegue transmitir, de modo mais agressivo e perturbador, tudo aquilo que o vilão Killmonger representa e pretende, mencionando: “Fuck integrity, fuck your pedigree, fuck your feelings, fuck your culture/Fuck your moral, fuck your family, fuck your tribe… All hail King Killmonger”

Pena que a mesma canção não atinga o seu grande potencial, após as performances incríveis de Kendrick Lamar, Jay Rock e James Blake ao longo da faixa, devido ao facto de ser quase arruinada pelas piores linhas algumas vez escritas e executadas pelo rapper Future, que com um tom de voz estridente e constrangedor diz: “La di da di da, slob on me knob/Pass me some syrup, fuck me in the car/La di da di da, mothafuck the law/Chitty chitty bang, murder everything”

Tal como qualquer outro álbum, existem pontos não tão positivos no projeto, com algumas canções mais fracas, como é o caso de “Big Shot”, com Kendrick Lamar e Travis Scott, e “Opps”, de Vince Staples e Yugen Blakrok, que embora tenham bom conteúdo, não conseguem capturar a atenção do ouvinte como outras canções anteriores.

Para além disso, outro ponto que é capaz de deixar alguns ouvintes não totalmente imersos no álbum é o facto de Kendrick Lamar ter uma constante presença em todas as canções, mesmo quando não tem necessidade para tal. “The Ways” é o maior exemplo disso, onde Khalid e Swae Lee conseguem criar uma bela atmosfera juntos, e onde a presença de Lamar não seria necessária na parte final da faixa, onde está, claramente, a mais.

Em conclusão, Black Panther The Album consegue, não só demonstrar tudo aquilo que o filme representa, como também dá ao ouvinte conteúdo variado e de qualidade em várias áreas, o que é capaz de motivar ainda mais as massas para ir ver o filme. É, verdadeiramente, um álbum digno de um rei.