Reflectir sobre o Associativismo Académico é tomar em consideração uma multiplicidade de variáveis que, na essência das suas diferenças, muito caracterizam e dão forma àquele que é um dos mais importantes apêndices de qualquer estudante universitário.
Pese embora esta diversidade, julgo ser de máxima preponderância centrar esta breve reflexão em dois vectores dorsais desta questão: aqueles que representam os estudantes e aqueles que são representados.
Representar os nossos pares, em particular colegas de universidade, assume-se como uma das mais nobres causas com que nos podemos envolver. Assim o é ou assim deveria (em minoria de situações, creio eu) ser aquilo que qualquer representante configura. Uma das mais marcantes frases que assimilei neste reduzido percurso associativo, foi que só se apresenta ao associativismo quem pretende fazer mais e melhor pelos que representa ou quem simplesmente pretende usufruir de uma boa dose de poder ou afirmação pessoal. Pude conhecer esta última vertente, infelizmente, nas minhas andanças destes desafios, mas felizmente a larga maioria das vezes tive a invejável oportunidade de trabalhar, aprender e conviver com aqueles que pura e simplesmente estavam no associativismo para representar, defender e valorizar aqueles que eram por direito os seus colegas. Para desvantagem destas causas existe estes dois lados da moeda. Um lado empenhado, isento, responsável e competente e um outro lado irresponsável, inconsequente, parcial e desfasado daquilo que é o fim máximo de qualquer dirigente associativo: defender e representar os direitos e interesses daqueles que por sufrágio legitimaram estes dirigentes. Engane-se quem apenas acredita que tal ocorre em pequenos núcleos, pequenas secções ou órgãos locais. Acontece em associações e órgãos dos mais diversos tipos e dimensões, nalguns casos sob o disfarce de enormes dirigentes, afáveis e eficientes para com todos.
Na nossa academia, em particular nas nossas associações e núcleos da UMinho os nossos dirigentes são, pelo que maioritariamente conheço, responsáveis e competentes colegas que muito abdicam de opções pessoais para colocar ao serviço dos outros esforços e recursos, que em maioria de razão vão a troco de menos resultados escolares, menos horas com a família e amigos, (…. ) mas que ficam acompanhados dum sentimento de missão cumprida e obra feita, um sentimento que, em minha opinião, mais gratificam e realizam aqueles que o fazem acontecer.
Noutro sentido, assumem as suas posições aqueles que por outros são representados. Existem aqueles que conhecem as dinâmicas e os contornos das associações e aqueles que apenas sabem que estas identidades representativas existem. É um desafio enorme , senão uma demanda utópica atrair estes profundos alheados com actividades, fóruns e iniciativas de forma que se estabeleça uma ponte entre o estudante/colega e a Entidade Representativa. Talvez seja, no crer de muitos, uma tarefa pouco concretizável, mas essa é para mim o cerne do desafio de qualquer dirigente associativo. Encarar esses colegas, identificar os seus interesses e dificuldades e catapultá-los para uma iniciativa com bons oradores, para um workshop onde se desenvolvam capacidades ou para o reivindicar de uma moção transversal a todos (entre muitos outros), é o baluarte de qualquer mandato associativo. Sabemos que temos desinteressados, desfasados e até algum descrentes da causa e dos resultados do associativismo, mas na nossa academia, com os nossos colegas é possível trespassar entraves e condicionalismos e inverter estas tendências, colocando-os frente a frente com aquilo que as entidades representativas dos estudantes melhor fazem e fazem muito bem, nos largos exemplos do contexto académico minhoto. Neste âmbito cito muitas vezes os estudantes que represento (Escola de Direito da UMinho) e a Associação de que faço parte (AEDUM), onde a larga maioria têm aulas nos complexos pedagógicos, mas consegue subir o Campus até à “longínqua Escola de Direito” para encher cadeiras e degraus de escadas dos nossos auditórios com intuito de assistir a diferentes iniciativas com oradores capazes de imprimir interesse e entusiasmo, como regularmente tem acontecido.
Ser dirigente associativo e ser representado por essa função consiste, por um lado, contribuir para o percurso académico, cívico e humano dos nossos colegas, e por outro, o agarrar a oportunidade de alargar horizontes entroncados numa postura consciente, participativa e exigente do movimento associativo académico.
Um outro aspecto que considero importante aqui referir e que tenho intensificado esforços nesse sentido, consiste na profunda reforma que urge em ocorrer na participação e poder de voto das associações e núcleos de estudantes juntos dos órgãos das escolas e institutos da nossa Universidade. Mormente em questões de índole pedagógica, as associações não podem ser encaradas como meras comissões de festas ou organizações de eventos boémios. Também o podem ser, mas nos devidos momentos e nos respectivos locais adequados. Somos nós que melhor conhecemos os estudantes, os seus hábitos, as suas dificuldades e aquilo que melhor possuem. Nem que seja pelo simples facto de que também somos estudantes e partilhámos dos mesmos viveres estudantis. Nesse aspecto, não creio que a voz dos estudantes esteja a ser devidamente valorizada, muito pelo contrário, deve ser mais tomada em conta e deve ser-lhe reservado mais espaços (nalguns casos reforçado) para o seu poder de intervenção e participação nas decisões tocantes aos estudantes.
Não menos importante, afecto ao próprio associativismo da nossa academia, permanece em constante discussão a concessão de mais e melhores infra estruturas e recursos de apoio às entidades associativas dos estudantes. Existem associações e núcleos sem as devidas condições para que possam exercer a sua actividade da forma mais adequada. Várias direcções na nossa academia não possuem locais próprios com espaço suficiente para reunir com todos os seus elementos, sem armários para arquivo, sem meios informáticos básicos, sem um espaço condigno para receber e dialogar com os estudantes. Cabe aqui às Escolas e Institutos zelar por esta concessão de infra estruturas e recursos, que muito tem a ganhar com um associativismo competente e eficaz dos seus estudantes.
Mais ainda, urge a necessidade de aperfeiçoamento e difusão das disposições estatutárias que regem os nossos núcleos. Não podemos permitir que estes legítimos órgãos sejam orientados por estatutos, nalguns casos, manifestamente desactualizados e desconformes com as realidades práticas dos núcleos. Afigura-se com elevada importância a existência de estatutos actuais, simplificados e exequíveis, onde não haja lugar a questões dúbias de interpretação. Cabe aqui, a meu ver, ao departamento de apoio a núcleos da AAUM uma intervenção activa de apoio à regularização desta questão. Ainda inserido nesta temática, devem ainda os dirigentes associativos promover acções onde se possa dar a conhecer os estatutos e regulamentos de cada núcleo, não devendo apenas estes ser conhecidos em períodos eleitorais.
Elencados aqui alguns dos traços característicos da realidade das associações e núcleos da nossa academia, cumpre-nos a nós estudantes, dirigentes e representados, encetar esforços para potenciar aquilo que bem se realiza e inverter aquilo que menos positivo ocorre nestas estruturas associativas.
Um associativismo forte gera resultados bastante positivos. Uma participação positiva de todos estudantes origina certamente um associativismo forte ao serviço da nossa academia!