Foi com muita emoção, e algum humor pelo meio, que Benjamin Clementine regressou a Portugal, para apresentar o seu mais recente albúm “I Tell a Fly”.

Poucos minutos depois da hora marcada, as luzes baixam. Faz-se silêncio no Centro Cultural de Viana do Castelo (CCVC). Benjamin Clementine sobe a palco. Senta-se junto ao seu piano, sente as teclas. Começa o concerto.

Benjamin Clementine

Hélio Carvalho/ComUM

O músico passou esta segunda-feira por Viana do Castelo, numa visita a Portugal que ainda o vai levar a Coimbra e Lisboa. Vem apresentar o novo álbum, “I Tell a Fly”. A expetativa é grande: o recinto esgotou os bilhetes em poucos dias, depois de um dos concertos mais aclamados do festival Paredes de Coura, em 2017.

A acompanhar Benjamin no palco, está um conjunto de manequins brancos: uns de figuras masculinas, outros de crianças e ainda de figuras femininas, algumas grávidas. A relevância deles estaria para ser descoberta mais à frente no concerto.

A primeira música que se fez ouvir foi a “Farewell Sonata”. Os restantes músicos juntam-se a Benjamin, no palco, gradualmente. O baterista dispensa as baquetas nesta primeira música. “God Save The Jungle” segue-se, sem espaço para diálogo entre os músicos e o público e o mesmo aconteceu com “Phantom of Allepoville”.

Ao fim destas três primeiras melodias ouve-se, timidamente, um “Hello…”. Opta por se levantar para trocar umas breves palavras com o público, agradecendo a presença e dizendo que “é uma honra voltar a Portugal”. Simultaneamente, pega num dos manequins de criança que estavam em palco e leva-o consigo, para junto do piano. Pousa o manequim, no chão, e entoa pelo CCVC “One Awkward Fish”.

Levanta o manequim, bem acima da sua cabeça. Percebe-se, rapidamente, que seria um alerta para a crise de refugiados e, em particular, uma chamada de atenção para a criança síria, Alan Kurdi, que deu à costa, sem vida, numa praia turca, em 2015. Estava, assim, desvendado o mistério dos manequins distribuídos pelo palco.

A emoção apodera-se de Clementine que, com todas as luzes baixas, se dirige ao único ponto de luz branca. Ajoelha-se, e cria um momento de reflexão entre os presentes. “I won’t complain!” exclama. E prossegue para o tema com o mesmo nome.

O público acompanha o músico inglês, num coro que lhe parece agradar. “Já ouviram falar de anjos?”, questiona, enquanto vai vocalizando notas que nos lembram os “anjos” de que falaria. “Caramba, isto é irritante!” e arranca uma gargalhada ao público.

O concerto prosseguiu com “Condolence”, uma das favoritas do público português. A receita para esta música foi a mesma utilizada no concerto do Vodafone Paredes de Coura: “Têm de cantar, não gritar…”, “Lentamente…”. A verdade é que, de fórmula repetida ou não, para quem não assistiu ao concerto de agosto passado, o público ficou arrebatado com Benjamin, que agarrou muito bem esta interação e não a largou mais até final do concerto.

Em “Jupiter” um coro de longos minutos entoou “I’m just an alien, passing by…”. “Olhem à vossa volta! A sala está cheia!”, exclamou Benjamin, e aproveitou a “Ports Of Europe” para dar uma volta à sala, percorrendo os corredores laterais que estavam vazios, sempre perseguido pelos seus músicos.

Depois desta correria, saem do palco. O concerto aproximava-se rapidamente do fim. Breves momentos depois, regressam para a despedida final. Toca “Quintessence”: “They say you must become an animal/Or the animal to protect us/The good animal and so we go to war”. Ao som destes versos, vão desmontando os restantes manequins em palco, deitando as suas peças ao chão, com violência.

Benjamin não saiu de Viana sem antes tocar duas das suas músicas mais badaladas, “London” e “Nemesis”, para extrema felicidade dos fãs. Por fim, ouviu-se “Adios” a Portugal. Assim se despede Benjamin Clementine de Viana do Castelo, em mais um concerto memorável no Norte do país. O músico ainda passará por Coimbra e Lisboa, antes de voltar a deixar saudades.