O Museu D. Diogo de Sousa comemora, hoje, o centenário da sua criação oficial. Anteriormente, as peças eram preservadas no Campo Arqueológico de Braga, na zona das Carvalheiras. Este ano, o museu recebe a maior doação da sua história.
Desengane-se quem pensa que o Museu D. Diogo de Sousa é apenas mais um museu na cidade de Braga. E desengane-se, também, quem pensa que este espaço está relacionado com o clero.
Entramos no museu e parece que viajamos para uma Bracara Augusta de outro tempo, de outro século. Somos transportados para uma cidade diferente do que é hoje, mais antiga, mais distante. Por vezes, os cidadãos bracarenses esquecem-se que pisam um chão com centenas de anos e centenas de histórias por contar.
O Museu D. Diogo de Sousa, museu de arqueologia situado em Braga, comemora este ano o centenário da sua criação oficial, em 1918.
As primeiras peças a serem expostas deram o mote para o seu nome. Mas porque será? Não é por ser financiado pelo clero nem por estar relacionado com o Colégio D. Diogo de Sousa, como muitos pensam erradamente.
Diogo de Sousa, arcebispo do século XVI, chegou a Bracara Augusta, depois de muitas viagens pela Europa e provocou alguma mudança na cidade. Nomeadamente, mandou afastar as casas da fachada da Sé de Braga, alargar as ruas dessa zona e ordenou recolher 12 – número bíblico – marcos miliários, que foram colocados no campo de Santa Ana, atualmente chamado de Avenida Central. Para este colecionador, os marcos miliários eram pedras que falavam e, por essa razão, mandou recolhê-los no inicio do século XX. Estes foram os primeiros artefactos a serem expostos no novo museu arqueológico da cidade, ao qual foi dado o nome de D. Diogo de Sousa, o primeiro grande colecionador da cidade e para a cidade.
O Museu D. Diogo de Sousa expõe artefactos arqueológicos da região norte do país, conferindo-lhes um contexto histórico com a ajuda de uma moderna equipa de investigação em matérias arqueológicas.
O espaço dispõe de profissionais especializados que tratam do estudo, salvaguarda e valorização das coleções do museu. “O museu tem um laboratório de restauro e uma equipa multidisciplinar no âmbito da arqueologia que garante a manutenção das peças, a sua preservação e a sua divulgação”, diz a diretora do museu, Isabel Silva. Este Laboratório responde não só às necessidades próprias, como ainda serve museus, freguesias e municípios, maioritariamente da região Norte.
A diretora conta que algumas das dificuldades do espaço passam pela impossibilidade de renovar as equipas, “é fundamental que uma instituição cultural permita transmitir o conhecimento a novas gerações, o que não esta a acontecer”. Falando ainda de dificuldades económicas, Isabel afirma não prever grandes mudanças para a futuro do museu, uma vez que “para mudar é preciso ter meios”.
Contudo, o espaço com património arqueológico irá sofrer uma mudança ainda este ano: irá receber uma nova exposição que passará a fazer parte da sua exposição permanente.
O Museu D. Diogo de Sousa recebeu, dia 23 de fevereiro, a doação de uma coleção particular do casal Buehler-Brockhaus. Esta exposição só estará aberta ao público no final de 2018.
Marion Buehler-Brockhaus e Hans Peter Buehler são um casal alemão “que vive em Setúbal e desde muito cedo se dedicou à aquisição de obras de arte, fundamentalmente peças arqueológicas, que vão doar ao museu”, conta a diretora. “A exposição irá constituir um núcleo de materiais provenientes da zona do mediterrâneo, da época Grega e Romana, que fará um contraponto com a nossa exposição permanente que corresponde a uma zona da periferia do império romano, no mesmo período cronológico”, acrescenta. Deste modo, a instituição vai apresentar peças “do extremo ocidental do império romano em confronto com aquilo que foi o núcleo central dessa cultura clássica”. Para Isabel Silva, a exposição “tem a particularidade de ser constituída por peças de grande beleza artística, de uma qualidade inquestionável, e muito importantes para o museu.”.
O interesse do casal Buehler-Brockhaus pela arte e arqueologia revelou-se na juventude. Desde esse tempo, começaram a estudar estas temáticas, a visitar sítios arqueológicos e museus por todo o mundo, adquirindo peças de arte clássica. A origem desta coleção remonta a 1959, quando Hans Peter adquiriu a sua primeira peça.
Alguns dos objetos de maior destaque são a figura togada romana, a cabeça do imperador Trajano e um torso de militar em mármore. Faz ainda parte desta coleção um leque de peças de diversas proveniências e cronologias, desde o mundo Egípcio, Grego, Etrusco e Romano, entre outros.
Apesar de o casal viver em Setúbal, decidiu doar a exposição ao museu bracarense, pois Setúbal não possui um museu de arqueologia e o Museu Nacional de Arqueologia não tem uma exposição permanente aberta ao público. “Neste desejo que os senhores tinham de legar a sua coleção a alguém que desse continuidade, preservasse a coleção e pudesse mostrar aquelas peças, vieram até Braga e ficaram muito agradados com o museu”, diz Isabel Silva.
A doação só será formalizada na cerimónia de abertura da exposição ao público, que se perspetiva para o outono. Até lá, as comemorações do centenário do Museu D. Diogo de Sousa continuam. No dia 13 de abril, haverá uma conferência com a presença de Francisco Alves, primeiro diretor do museu. Seguindo-se, em maio, uma conferência sobre o espólio cerâmico do museu, proferida por Rui Morais.
Em 2019, quem entrar no Museu D. Diogo de Sousa poderá ficar espantado com tamanha mudança e perguntar-se-á o que poderá ter acontecido. O centenário é uma nova era no paradigma da instituição. Com a doação do casal Buehler-Brockhaus, está aberta uma nova viagem que remonta a muitos séculos atrás.